Milhares de voluntários se preparam para receber ajuda humanitária na Venezuela

Milhares de voluntários se preparam para receber ajuda humanitária na Venezuela

Líder da oposição venezuelana Juan Guaidó informou que 600 mil pessoas se inscreveram para ação

AFP

Voluntários devem enfrentar o o bloqueio do governo venezuelano à entrada da ajuda humanitária

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Milhares de voluntários começarão neste domingo a se preparar para enfrentar o bloqueio do governo venezuelano à entrada, no próximo sábado, da ajuda humanitária armazenada em Colômbia, Brasil e Curaçao, a maior parte enviada pelos Estados Unidos a pedido do opositor Juan Guaidó. "A Venezuela se prepara para a avalanche humanitária", expressou Guaidó, chefe do Parlamento, de maioria opositora, reconhecido como presidente interino por 50 países. 

Guaidó disse que em todo o país se inscreveram 600 mil voluntários, aos quais pediu que se reúnam neste domingo em juntas para receber instruções sobre o processo, mas sem revelar detalhes que poderiam arruinar a operação. "Vamos anunciando coisas específicas, pouco a pouco", comentou o opositor, de 35 anos, ao empossar no sábado milhares de voluntários.

Contudo, o presidente Nicolás Maduro ordenou aos militares que bloqueiem a entrada da ajuda em remédios e alimentos, por considerá-la um "show político" e o começo de uma invasão militar americana. A ajuda humanitária é o centro de uma disputa pelo poder entre Maduro e Guaidó, em um país que vive uma catástrofe socioeconômica com escassez de medicamentos e uma hiperinflação que torna os alimentos impagáveis.

No que é considerado a maior migração das últimas décadas, 2,3 milhões de venezuelanos fugiram da crise desde 2015, segundo a ONU, apesar de Maduro assegurar que cerca de 600 mil foram "enganados". 

'Por terra e por mar' 

Guaidó escolheu para a entrada da ajuda o dia 23 de fevereiro, quando se completa um mês de sua autoproclamação como presidente interino para organizar eleições livres, depois que o Congresso declarou Maduro "usurpador" ao tomar posse para um segundo mandato em eleições que a oposição denunciou como "fraudulentas". Como parte da operação, o chefe legislativo convocou mobilizações em toda a Venezuela para acompanhar as brigadas de voluntários que irão em caravana de ônibus aos pontos de entrada dos carregamentos. 

Três aviões militares dos Estados Unidos chegaram no sábado à cidade colombiana de Cúcuta, onde estão armazenados remédios e alimentos desde 7 de fevereiro, perto da ponte limítrofe Tienditas, bloqueada por militares venezuelanos com caminhões e outros obstáculos. 

O centro de armazenamento no Brasil será aberto na segunda-feira no estado de Roraima, onde haverá somente ajuda brasileira, e na terça-feira chegará um avião de Miami a Curaçao com mais assistência, segundo a equipe de Guaidó. "Entrará sim ou sim por terra e por mar", declarou o líder opositor. 

Outro avião enviado por Porto Rico chegou na sexta-feira a Cúcuta, enquanto Chile e outros países também recolhem toneladas de ajuda. Maduro chama a ajuda de "migalhas" de "comida podre e contaminada" e culpa pela escassez as sanções impostas pelos Estados Unidos, que gera danos à economia estimados por Caracas em 30 bilhões de dólares. 

Mobilização militar 

Guaidó multiplicou os chamados à Força Armada para não reconhecer Maduro e deixar a assistência entrar, assinalando que as pessoas estão passando por dificuldades e que impedir a ajuda é um "crime contra a humanidade". A Força Armada é considerada o principal pilar do governo e sua cúpula militar já reafirmou sua lealdade absoluta. 

Na sexta-feira, após terminada uma semana de exercícios militares, Maduro pediu ao alto comando militar um "plano especial de mobilização" nas fronteiras, frente a uma ação militar americana, não descartada pelo governo de Donald Trump. Maduro, que tem o respaldo de Rússia, China, Turquia e Irã, entre outros países, diz que a Venezuela está no centro de uma luta "geopolítica", na qual Washington busca se apropriar do ouro e petróleo venezuelanos, usando Guaidó como "fantoche". Militares cubanos, enquanto isso, assinaram notas de apoio a Maduro.

 Na Conferência de Segurança de Munique, o vice-presidente americano, Mike Pence, urgiu no sábado à União Europeia (UE) que reconheça Guaidó, pois embora vários países europeus tenham feito isto, alguns travam uma posição comum do bloco. UE e Uruguai enviarão nos próximos dias uma missão técnica à Venezuela com especialistas eleitorais e de ajuda humanitária.

Guaidó destacou que arrecadaram 110 milhões de dólares em assistência e, para 22 de fevereiro, o bilionário britânico Richard Branson organiza um show em Cúcuta, com artistas de renome internacional, a fim de arrecadar outros 100 milhões em 60 dias. 


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