Moçambique tem mais de 800 mil afetados por ciclone e registra primeiros casos de cólera

Moçambique tem mais de 800 mil afetados por ciclone e registra primeiros casos de cólera

Dados do governo indicam 468 mortos

Correio do Povo

Há 2.700 casos identificados de diarreia na região, mas ainda sob investigação

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* Com AFP e Agência de Informação de Moçambique

O número de pessoas afetadas pelo ciclone Idai no Centro de Moçambique é de 803.984, segundo informação distribuída pelo Instituto Nacional de Gestão de Calamidades, nesta quarta-feira. Os dados apontam o número de mortes em 468, enquanto 135.827 moradores do país foram salvos. As autoridades nacionais ainda informaram o registro de cinco casos confirmados de cólera. "São em Beira (capital da província de Sofala, no centro) e seus arredores. Terá mais, porque cólera é uma pandemia. Quando há um caso, podemos temer outros", afirmou o diretor nacional de Saúde, Ussein Isse, em entrevista coletiva na cidade de meio milhão de habitantes destruída em parte pelos embates do clima. 

"Estamos pondo em marcha medidas preventivas para limitar o impacto" dessa epidemia, frisou. De acordo com Isse, um milhão de doses de vacinas contra a cólera devem chegar no fim de semana na região. No domingo, o ministro do Meio Ambiente, Celso Correia, havia alertado que uma epidemia era "inevitável", dada a estagnação da água e a falta de higiene nos abrigos de sobreviventes. Há também 2,7 mil casos identificados de diarreia na região, mas ainda sob investigação. Além da cólera e da diarreia, a água estagnada, más condições de higiene e as dificuldades no abastecimento de água potável aumentam o risco de febre tifoide e malária.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) estuda um financiamento de emergência a Moçambique entre 60 milhões e 120 milhões de dólares, para que o país enfrente os efeitos do ciclone. "Dada a magnitude do que aconteceu, aqui, a minha expectativa é que seja o valor mais alto", disse, em conferência de imprensa em Maputo, o chefe de missão do FMI para o país, Ricardo Velloso.

A ajuda será prestada através do Instrumento de Crédito Rápido, um mecanismo instituído pela organização para atender a situações de emergência nos seus Estados membros. Velloso adiantou que a missão de avaliação do impacto do ciclone vai estender a sua presença em Moçambique até sexta-feira, para fazer uma avaliação preliminar dos efeitos da calamidade. "Embora ainda seja cedo para serem avaliados os efeitos macroeconómicos do ciclone Idai, os custos de reconstrução serão muito significativos, a comunidade internacional terá de continuar a desempenhar um papel vital na prestação de assistência a Moçambique", afirmou, na declaração que leu antes das perguntas dos jornalistas.

Velloso esclareceu que a ajuda de emergência devido ao ciclone Idai não significa a retomada do programa de assistência financeira a Moçambique, suspenso na sequência da descoberta das dívidas ocultas em 2015, pois este mecanismo só será estudado com o novo governo. As eleições gerais ocorrem e 15 de outubro. "Continuamos achando que o melhor momento para esse tipo de conversa será a partir das eleições, para ver o tipo de políticas fiscais, monetárias e estruturas do novo Governo", sublinhou Ricardo Velloso.

"Situação estável"

Duas semanas após a passagem do ciclone, a situação continua muito precária, apesar da mobilização das autoridades e da ajuda humanitária internacional. De acordo com o Programa Mundial de Alimentos (PMA), no auge da tempestade, cerca de 3.125 km² foram inundados, incluindo vastas terras agrícolas cujas plantações foram destruídas. Muitas pessoas perderam suas casas e falta comida, remédios e água potável. A reabertura nos últimos dias de várias estradas no centro de Moçambique permitiu o início do transporte de ajuda de emergência para a população.

"Estabilizamos a situação em alguns distritos", assegurou nesta quarta-feira o ministro do Meio Ambiente, Celso Correia. "Atualmente, estamos fornecendo alimentos, abrigos e remédios para mais de 300 mil pessoas na região (...) e mais de 170 mil pessoas já estão instaladas em nossos campos", acrescentou o ministro. "A maioria tem acesso a um médico e água limpa, a situação está melhorando", disse. As vítimas, no entanto, estão longe de estarem fora de perigo. "Não saímos da estação chuvosa, ainda há risco de chuvas fortes, o que complicaria a situação", alertou Emma Batey, coordenadora do consórcio de ONGs Oxfam, Care e Save the Children.


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