Morre Delia Giovanola, fundadora da organização argentina Avós da Praça de Maio

Morre Delia Giovanola, fundadora da organização argentina Avós da Praça de Maio

Ativista de 96 anos conseguiu conhecer o neto após 39 anos de busca

AFP

Grupo se dedica a buscas de bebês nascidos durante o cárcere

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Uma das fundadoras da organização humanitária argentina Avós da Praça de Maio, Delia Cecilia Giovanola morreu nesta segunda-feira, aos 96 anos. O falecimento ocorre sete depois dela reencontrar o neto, sequestrado após ter nascido em cativeiro durante a ditadura (1976-1983). "Partiu uma mulher batalhadora, militante da memória, verdade, justiça e da alegria", escreveu a organização, criada em 1977.

Em 5 de novembro de 2015, após 39 anos de buscas, Delia conseguiu conhecer Martín Ogando Montesano, seu neto. Meses antes, ele havia concordado em fazer o teste de DNA no consulado argentino no país onde mora, que nunca foi divulgado, o que permitiu "verificar sua identidade com 99,99% de certeza". Foi o 118º neto recuperado pelas Abuelas (avós, em espanhol), que estimam que 400 crianças foram sequestradas durante a ditadura. Outras 12 apareceram desde então e ela, como outras avós, acompanhou cada reencontro.

Martín é filho de Jorge Oscar Ogando e Stella Maris Montesano, militantes de esquerda sequestrados em sua casa em La Plata, 60 km ao sul de Buenos Aires, em 1976, quando ela estava grávida de oito meses. O casal já tinha uma filha, Virginia, de três anos.

Através de depoimentos dos sobreviventes, descobriu-se que o casal foi levado para o centro de detenção clandestino chamado 'Pozo de Banfield', na periferia sul de Buenos Aires. Foi lá que a jovem deu à luz em 5 de dezembro de 1976, "algemada, com os olhos vendados e em cima de um lençol", segundo o comunicado. "Dois dias depois, foi separada de seu bebê, que foi vendido a um casal, e levada para o 'Pozo de Quilmes'", outra prisão clandestina. O casal continua desaparecido.

Em outubro de 1977, Delia fazia parte do grupo de mulheres que fundou as Abuelas. Além de procurar seus filhos sequestrados e desaparecidos, como faziam as Mães da Praça de Maio, dedicavam-se a procurar bebês nascidos em cativeiro e entregues ilegalmente a famílias, geralmente cúmplices do regime. Uma foto de Delia com um cartaz que dizia "As Malvinas são argentinas, os desaparecidos também", em plena guerra com o Reino Unido em 1982, se tornou emblemática. Organizações de defesa dos direitos humanos estimam que 30 mil pessoas desapareceram nesse período.


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