Muçulmanos da Bósnia recordam as vítimas 25 anos após o massacre de Srebrenica

Muçulmanos da Bósnia recordam as vítimas 25 anos após o massacre de Srebrenica

Apesar das medidas de combate à pandemia, 3.000 parentes de vítimas compareceram ao evento

AFP

Até hoje foram encontradas e identificadas quase 6.900 vítimas do massacre em mais de 80 valas comuns

publicidade

Os muçulmanos da Bósnia recordaram neste sábado o genocídio de Srebrenica, que completa 25 anos, o maior massacre em território europeu desde a Segunda Guerra Mundial, em uma cerimônia reduzida devido à pandemia de coronavírus. "Tenho uma filha de dois anos, como eu tinha na época. É difícil quando você vê alguém chamando o pai e você não tem o seu", afirmou, chorando, Sehad Hasanovic, 27 anos.

Seu pai, Semso, "fugiu para a floresta e nunca retornou. Só encontramos alguns ossos", conta. Assim como o irmão Sefik e sei pai Sevko, Semso foi assassinado quando as tropas sérvias da Bósnia, comandadas por Ratko Mladic, entraram no território de Srebrenica e executaram sistematicamente os homens e adolescentes muçulmanos. Apesar das medidas de combate à pandemia, 3.000 parentes de vítimas compareceram ao evento.

"Os maridos das minhas quatro irmãs foram assassinados. Meu irmão também foi morto, assim como seu filho. Minha sogra também perdeu outro filho e o marido", recorda Ifeta Hasanovic, 48 anos, cujo marido Hasib foi uma das nove vítimas cujos restos mortais foram identificados em julho do ano passado.

Neste sábado, os nove foram enterrados no cemitério do Monumento do Genocídio, em Potocari, cidade próxima de Srebrenica onde ficava durante a guerra étnica da Bósnia (1992-95) a base da Força de Proteção da ONU (UNPROFOR).

Em 11 de julho de 1995, cinco meses antes do fim da guerra, as forças sérvias da Bósnia assumiram o controle de Srebrenica, uma "zona segura" declarada pelas Nações Unidas, protegida por 400 capacetes azuis holandeses, e em poucos dias massacraram mais de 8.000 homens e adolescentes bósnios muçulmanos.

Na época o líder político sérvio-bósnio era Radovan Karadzic (falecido em 2006) e o comandante militar Ratko Mladic. A justiça internacional condenou ambos à prisão perpétua, sobretudo pelo massacre de Srebrenica e o cerco a Sarajevo. Até hoje foram encontradas e identificadas quase 6.900 vítimas do massacre em mais de 80 valas comuns. Muitos foram enterrados no cemitério do Monumento do Genocídio.

Foto: Elvis Barukcic / AFP / CP

A luta contra a "negação"

A matança de Srebrenica é o único episódio da guerra bósnia (100.000 mortos) classificado como genocídio pela justiça internacional. Mas os líderes políticos sérvio-bósnios minimizam o evento. O membro sérvio da presidência colegiada da Bósnia, Milorad Dodik, rejeita o termo "genocídio" e fala de "mito".

"Insistiremos sem descanso na verdade, justiça e necessidade de julgar todos aqueles que cometeram este crime", afirmou na véspera o integrante bósnio (muçulmano) da presidência, Sefik Dzaferovic. "Lutaremos contra aqueles que negam o genocídio e glorificam seus autores", completou.

O prefeito sérvio de Srebrenica, Mladen Grijicic, afirmou que "todos os dias há novas provas que negam a apresentação atual de tudo o que aconteceu".

"A comunidade internacional não defendeu Srebrenica há 25 anos, mas tem a possibilidade de defender a verdade", declarou Bakir Izetbegovic, líder do principal partido bósnio (muçulmano), o SDA, e filho do líder dos bósnios no momento do conflito, Alija Izetbegovic.

"Apesar de tudo que aconteceu, a vida renasce em Srebrenica (...) O passado difícil pode ser a oportunidade para nos conhecermos melhor melhor e construir um futuro melhor, se aceitarmos a verdade como linha diretiva", disse o grande mufti bósnio, Husein Kavazovic.

Diante da impossibilidade de um evento com muitas pessoas em apenas um dia, os organizadores convidaram a população a visitar o centro memorial ao longo de julho.

Várias exposições foram organizadas, incluindo os quadros do artista bósnio Safet Zec dedicados ao massacre. Outra obra, com o nome "Por quê não estão aqui?", da artista americana de origem bósnia Aida Sehovic, consiste em mais de 8.000 xícaras de café (uma para cada vítima do massacre) colocadas no gramado do centro memorial.

Foto: Elvis Barukcic / AFP / CP


Mais Lidas

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895