Multidão sai às ruas de Hong Kong para protestar contra projeto de extradições para a China

Multidão sai às ruas de Hong Kong para protestar contra projeto de extradições para a China

Governo pró-Pequim pediu "desculpas" por ter provocado "conflitos"

AFP

Organizadores pretendem manter a pressão sobre Carrie Lam, chefe do Executivo pró-Pequim de Hong Kong, que no sábado suspendeu o projeto de lei autorizando as extradições para a China

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Quase dois milhões de pessoas saíram às ruas neste domingo (16) em Hong Kong, uma participação recorde segundo os organizadores, para exigir a retirada do polêmico projeto de extradições para a China, forçando o governo pró-Pequim a apresentar "desculpas" por ter provocado "conflitos". "Na manifestação de hoje, contabilizamos quase dois milhões de pessoas", afirmou a jornalistas Jimmy Sham, um representante da Frente Cívica de Direitos Humanos (CHRF).

Os organizadores pretendem manter a pressão sobre Carrie Lam, chefe do Executivo pró-Pequim de Hong Kong, que no sábado suspendeu o projeto de lei autorizando as extradições para a China. "Retire a lei do mal!", gritavam os manifestantes vestidos de preto.

A marcha de protesto partiu de um parque na ilha de Hong Kong e seguia para o Conselho Legislativo (LegCo, Parlamento), no coração da cidade. Trata-se do mesmo percurso realizado há uma semana e que reuniu um milhão de pessoas, de acordo com os organizadores. Segundo seus críticos, o projeto colocaria a população da ex-colônia britânica à mercê do sistema judiciário da China continental, opaco e controlado pelo Partido Comunista.

A comunidade empresarial teme ainda a possibilidade de a reforma prejudicar a imagem internacional e a atratividade do centro financeiro. Acusada de autoritarismo, Lam apresentou neste domingo suas "desculpas" e reconheceu que as "lacunas no trabalho do governo provocaram muitos conflitos e rixas na sociedade". Ela justificou a repressão das manifestações pelos atos de violência da parte de alguns manifestantes.

Ao mesmo tempo, um partido da oposição anunciou a libertação na segunda-feira do líder estudantil Joshua Wong, de 22 anos, ícone do movimento pró-democracia de 2014. "A reação de Carrie Lam não foi sincera, é por isso que estou manifestando hoje", explicou Terence Shek, de 39 anos, que veio com seus filhos.

Na quarta-feira, Hong Kong registrou os piores episódios de violência desde a devolução do território à China em 1997, quando milhares de pessoas foram dispersadas pela polícia de choque com gás lacrimogêneo e balas de borracha. "Polícia de Hong Kong, o seu dever é nos proteger, não atirar contra nós", dizia o cartaz de um manifestante.

Flores para um morto

Lam não desistiu permanentemente do texto. Os manifestantes, portanto, exigem o abandono do projeto, a renúncia da chefe de governo e desculpas pela violência policial. "Essa suspensão significa que o projeto pode ser reativado a qualquer momento", disse o militante Lee Cheuk-yan.

Quase 80 pessoas, incluindo 22 policiais, ficaram feridos na quarta-feira. No sábado, um homem morreu ao cair do telhado de um centro comercial, onde ele ficou por várias horas com um cartaz dizendo: "Retire completamente a lei de extradição chinesa. Não somos baderneiros. Libertem os estudantes e os feridos".

Neste domingo, as pessoas formavam enormes filas para deixar flores e origamis no local da tragédia, além de mensagens de homenagem ao falecido. Jimmy Sham, da Frente Cívica de Direitos Humanos, comparou o projeto a uma "faca" ameaçando Hong Kong. "Quase atingiu nossos corações. Agora o governo diz que não vai avançar, mas também se recusa a retirá-lo".

A oposição ao projeto de lei é ampla, reunindo advogados, organizações jurídicas influentes, empresários, câmaras de comércio, jornalistas, ativistas, religiosos e diplomatas ocidentais. Sob o princípio de "um país, dois sistemas", a ex-colônia britânica goza de liberdades desconhecidas na China continental, teoricamente até 2047.

Ressentimento mais amplo

Mas o movimento vai além da questão das extradições e expressa um ressentimento muito maior contra o governo e contra Pequim, acusados de tolir as liberdades do território semi-autônomo. Nos últimos dias, a chefe de governo tem estado cada vez mais isolada, com deputados de seu próprio campo distanciando-se do texto.

"Apoiamos, respeitamos e entendemos" a decisão de suspender o texto, declarou o ministério das Relações Exteriores da China, falando da necessidade de "restaurar a calma o mais rápido possível" no território. Os críticos de Lam culpam-na por perder várias oportunidades de se desculpar pelo comportamento da polícia. Ela justificou a ação policial por atos de violência perpetrados por certos manifestantes.

Mas a oposição a acusa de usar as atitudes de uma pequena minoria para atacar todos os manifestantes, em sua maioria pacíficos. "Os grupos pró-democracia não vão parar por aí. Querem aproveitar o impulso contra Carrie Lam", explicou à AFP o analista político Willy Lam.

Neste momento, os manifestantes exigem que a polícia retire as acusações contra os manifestantes acusados de serem desordeiros. Eles temem represálias do governo, disse o militante Lee Cheuk-yan, e querem a garantia de que "o povo, os manifestantes, não sejam assediados e politicamente perseguidos pelo governo".

Na China, a imprensa estatal e as redes sociais estavam em silêncio sobre o movimento de protesto, sem qualquer menção ao recuo do governo de Hong Kong. Em Washington, o secretário de Estado Mike Pompeo informou que o presidente Donald Trump pretende comentar as manifestações com seu colega chinês


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