ONU faz alerta sobre "clima de medo" na Nicarágua

ONU faz alerta sobre "clima de medo" na Nicarágua

Repressão às manifestações de oposição ao governo do país deixou mais de 300 mortos e 2 mil feridos

AFP

ONU faz alerta sobre "clima de medo" na Nicarágua

publicidade

O Alto Comissário para os Direitos Humanos da ONU pediu à comunidade internacional que adote medidas para frear a crise na Nicarágua, que vive um "clima de medo" após meses de violenta repressão às manifestações da oposição. "A repressão e as represálias contra os manifestantes prosseguem na Nicarágua, enquanto o mundo olha para o outro lado", afirma Zeid Ra'ad Al Hussein em um comunicado, divulgado por ocasião da publicação de um relatório sobre o país. "A violência e a impunidade dos últimos quatro meses demonstraram a fragilidade das instituições do país e do Estado de direito, o que gerou um contexto de medo e desconfiança", completou.

As manifestações da oposição na Nicarágua, governada desde 2006 pelo ex-guerrilheiro sandinista Daniel Ortega, começaram em abril contra uma reforma da Previdência - mais tarde abandonada. Os protestos foram ampliadas a todo o país como uma reação à violenta repressão, que deixou mais de 300 mortos e 2 mil feridos. Entre as violações dos direitos humanos documentadas em um relatório do Alto Comissariado estão o "uso desproporcional da força por parte da polícia, que em alguns casos terminaram em execuções extrajudiciais, os desaparecimentos forçados, as prisões arbitrárias e generalizadas, as torturas e os maus-tratos".

• Enterrado corpo da brasileira assassinada na Nicarágua

O documento também destaca a violência dos opositores e os ataques contra integrantes do partido governante, funcionários do governo e membros das forças de segurança. O texto cita as mortes de 22 policiais. "O nível de brutalidade de alguns destes episódios, que incluíram queimaduras, amputação e profanação de cadáveres, ilustra a grave degeneração da crise", afirma o relatório, que pede uma investigação dos abusos.

O Alto Comissariado divide a crise em fases: a "repressão" das manifestações por parte da polícia e elementos armados pró-governo, seguida de uma fase de "limpeza" (de meados de junho até meados de julho), durante a qual a polícia e os elementos armados pró-governo desmantelaram as barreiras nas estradas e as barricadas. Finalmente, os manifestantes e outros opositores ao governo foram "perseguidos e criminalizados", segundo a ONU, que destaca que os elementos armados atuaram em acordo com as autoridades do Estado e o comando da Polícia Nacional.

O governo "tolera a ação e permite que atuem com absoluta impunidade", afirmou o Alto Comissário "Peço ao Conselho de Direitos Humanos e à comunidade internacional em geral que adotem medidas específicas com o objetivo de evitar que a crise atual provoque distúrbios sociais e políticos ainda mais graves", afirmou Zeid, que pediu, mais uma vez, a abertura de uma investigação internacional.

Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895