Oposição boliviana intensifica protestos contra Evo Morales

Oposição boliviana intensifica protestos contra Evo Morales

Grupo questiona resultado eleitoral que garantiu quarto mandato ao presidente

AFP

Polícia local tenta controlar manifestações com uso de bomba de gás lacrimogêneo

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Confrontos nas ruas e bloqueios de vias foram observados, nesta segunda-feira, na Bolívia, no começo da segunda semana de protestos contra o questionado resultado eleitoral que deu ao presidente Evo Morales seu quarto mandato. 

"A responsabilidade total das ações de violência é do governo" esquerdista, disse o candidato opositor e ex-presidente centrista Carlos Mesa (2003-2005), em sua página no Facebook. De seu lado, o vice-presidente Álvaro García Linera culpou Mesa pelos atos violentos: ocorrem "por decisão de somente um homem, sedento (de poder), mentiroso e falacioso". "Ele (Mesa) é o responsável, ele é o culpado" pela violência, por não aceitar sua derrota nas urnas, insistiu García Linera, reeleito com Morales. 

Morales, no poder desde 2006, assegura que os protestos fazem parte de um plano de golpe de Estado contra sua vitória nas urnas para o período 2020-2025. 

Seus opositores, por outro lado, não reconhecem o resultado, alegando que sua reeleição é fraudulenta após uma polêmica contagem de votos e, além de convocar protestos, se perguntam se a Bolívia avança para um regime autoritário e isolado internacionalmente, como o de Nicolás Maduro na Venezuela.

Greves, bloqueios, confrontos

Nas cidades de Santa Cruz (leste), a mais pujante do país, e na mineradora Potosí (sudoeste) houve greve geral de atividades. Em La Paz foram feitos bloqueios de rua em diferentes bairros. Somente no centro, ondem fica a maioria dos escritórios públicos e privados, havia relativa normalidade. 

No bairro de Achumani, no sul da cidade, manifestantes fecharam uma avenida principal, mas os motoristas de ônibus tentaram reabrir o trânsito e os dois grupos entraram em confrontos, com agressões e pedras. A polícia lançou bombas de gás lacrimogêneo para dispersá-los. Os manifestantes utilizam paus, escombros, cordas e até móveis para viabilizar a greve convocada pela oposição. As manifestações em La Paz acontecem nos bairros de classe média e alta da zona sul, embora diariamente milhares de pessoas, entre eles muitos jovens, protestam nos arredores do Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) e realizam encontros na praça San Francisco, no centro da cidade. 

Até o momento, as camadas populares das zonas altas de La Paz não se envolveram no conflito, que encontrou sua máxima expressão em Santa Cruz sob a condução do comitê cívico regional liderado pela direita radical. 

Morales denuncia plano de "golpe"

Diante do ataque da oposição, Morales denunciou que "distintos setores sociais (...) se preparam para dar um golpe de Estado" esta semana. Morales, de 60 anos, recebeu o apoio de um poderoso sindicato de trabalhadores rurais, que anunciaram na segunda-feira que bloqueará as estradas do país "contra o golpe de Estado, em defesa da democracia e em defesa do voto indígena". 

Até agora, trabalhadores rurais bloquearam somente a estrada entre Santa Cruz e Yapacani, município rural de 26 mil habitantes. Eles receberam apoio de um sindicato de colonos, que também efetuará bloqueios, "pelo respeito ao voto do povo camponês, indígena, intercultural", segundo o líder Henry Nina. O bloqueio tem como objetivo interromper o abastecimento das cidades.

EUA propõe segundo turno

Os Estados Unidos expressaram neste domingo sua preocupação pelas "irregularidades" na apuração dos votos na Bolívia e pediu a celebração de um segundo turno entre Morales e Mesa. "Pedimos à Bolívia para restaurar a integridade eleitoral procedendo a um segundo turno nas eleições livres, justas, transparentes e confiáveis entre os dois principais ganhadores", tuitou o chefe da diplomacia americana, Mike Pompeo.

Para driblar a crise, Morales propôs uma auditoria eleitoral por parte da missão de observadores da OEA, da ONU e da União Europeia, organismos que pedem a realização do segundo turno. Paralelamente, uma influente plataforma que articula os comitês cívicos regionais (Conade), que apoia Mesa, pediu a anulação das eleições, além da formação de um novo tribunal eleitoral, "desta vez imparcial". 


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