Oposição de Belarus pede aumento da pressão internacional contra o regime de Lukashenko

Oposição de Belarus pede aumento da pressão internacional contra o regime de Lukashenko

Sanções se intensificam após prisão forçada do opositor e jornalista Roman Protasevich

AFP

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A oposição de Belarus pediu, nesta terça-feira (25), que Estados Unidos e G7 aumentem a pressão sobre o regime de Alexander Lukashenko, acusado de desviar um avião para deter um opositor, um ato criticado pela comunidade internacional e que provocou novas sanções europeias.

A União Europeia (UE) decidiu na segunda-feira à noite fechar seu espaço aéreo a Belarus e adotar um novo pacote de sanções contra autoridades e instituições da ex-república soviética, situada entre o bloco e a Rússia.

Após uma conversa por telefone com o conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Jake Sullivan, a líder da oposição bielorrussa, Svetlana Tikhanovskaya, pediu no Twitter a Washington para "isolar o regime e pressioná-lo com sanções". A candidata nas eleições presidenciais de agosto de 2020 também solicitou, em uma mensagem publicada no Telegram, "a participação das forças democráticas bielorrussas" na reunião de cúpula do G7 - de 11 a 13 de junho no Reino Unido -, um pedido que recebeu o apoio da França. Tikhanovskaya, que se refugiou na Lituânia pouco depois das eleições, também fez um apelo para a organização de uma "conferência internacional de alto nível para resolver a crise em Belarus".

O governo de Belarus anunciou que convidou várias organizações internacionais a viajar a Minsk para estabelecer as "circunstâncias" do desvio do avião. O departamento responsável pelo setor aéreo do ministério bielorrusso dos Transportes afirmou em um comunicado ter convidado representantes da Associação Internacional do Transporte Aéreo (IATA), da Organização da Aviação Civil Internacional (OACI), vinculada à ONU, assim como autoridades americanas e da UE.

Coação 

O presidente bielorrusso deve discursar nesta terça-feira sobre a nova crise, segundo um canal do Telegram que é considerado um veículo não oficial da presidência. O regime de Lukashenko é acusado de desviar para Minsk um voo que fazia a rota Atenas-Vilnius no domingo por uma suposta ameaça de bomba, que resultou falsa, para deter o jornalista opositor Roman Protasevich e sua companheira, a russa Sofia Sapega.

"Exigimos a libertação imediata de Roman Protasevich e Sofia Sapega", afirmou nesta terça-feira o Alto Comissariado da ONU para os Direito Humanos. A chanceler alemã, Angela Merkel, considerou "nada confiável" a versão bielorrussa, que citou uma ameaça de bomba atribuída ao movimento islamita palestino Hamas. O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, também pediu a libertação do jornalista.

Protasevich, de 26 anos, foi chefe de redação do influente meio de comunicação opositor Nexta, que coordenou a mobilização dos bielorrussos durante os protestos de 2020 contra a polêmica reeleição de Lukashenko.

O regime de Minsk o acusa de envolvimento em "atividades terroristas". A televisão bielorrussa exibiu na segunda-feira um vídeo do jovem, gravado em uma prisão da capital, segundo a emissora, no qual ele confessa ter organizado "distúrbios". As autoridades de Belarus divulgam com frequência confissões de dissidentes do regime gravadas sob coação, como aconteceu com Svetlana Tikhanovskaya antes de seu exílio em Vilnius no ano passado.

Para a opositora, "não há dúvida de que Roman foi vítima de tortura" na prisão. O pai do jornalista afirmou à AFP que o filho foi agredido e parecia nervoso nas imagens. "Está claro que provocaram dano físico. É possível observar vestígios de agressões em seu rosto", declarou Dmitri Protasevich, que mora na Polônia. Ele disse ainda que o filho foi obrigado a ler a suposta confissão.

Diante das críticas ocidentais, a Rússia, aliada de Lukashenko, reforçou o apoio. O chefe da diplomacia de Moscou, Serguei Lavrov, afirmou que o ponto de vista de Belarus é "razoável".

Novas sanções 

As sanções adotadas pela UE já apresentaram os primeiros resultados. Companhias aéreas importantes, como Air France e Lufthansa, anunciaram que evitarão sobrevoar o céu de Belarus, por onde passam a cada semana quase 2.000 aviões comerciais, segundo a Eurocontrol. O Kremlin afirmou "lamentar" a decisão da UE, pois evitar um "país grande" como Belarus representará mais custos para as empresas.

As novas sanções se unem às já adotadas pelos países ocidentais após a repressão do governo de Lukashenko, no poder desde 1994, às manifestações de 2020 contra sua reeleição em uma votação que não tem o resultado reconhecido pela UE. Elas afetam 88 altos funcionários, incluindo o presidente, e sete instituições.

Apesar das medidas, o regime não interrompeu a repressão e intensificou as detenções ou o exílio forçado de críticos. Nesta terça-feira, o líder de um partido opositor em Belarus, Pavel Severinets, e outros seis ativistas foram condenados a penas de entre 4 e 7 anos de prisão pelos protestos de 2020.

 


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