Parlamento britânico veta pedido de eleições, após rechaçar Brexit sem acordo
Premiê Boris Johnson sofreu três derrotas seguidas nas votações parlamentares
publicidade
Depois de aprovarem, nesta quarta-feira, uma lei que obriga o governo a pedir um novo adiamento do Brexit, os deputados britânicos também evitaram novo pleito nacional. Logo após a votação, o primeiro-ministro, Boris Johnson, propôs a antecipação das eleições para 15 de outubro, mas sofreu outra derrota - a terceira em suas três primeiras votações em plenário.
Enfraquecido pela perda da maioria parlamentar, na terça-feira, e pela imposição de um novo adiamento do Brexit, que, segundo ele, tira a força do governo para renegociar um tratado com a UE, Johnson tentou uma última cartada: antecipar as eleições. "O país deve decidir se é o líder da oposição ou se sou eu quem vai a Bruxelas tentar obter um acordo", disse o premiê, em referência ao opositor trabalhista Jeremy Corbyn.
A manobra de Johnson precisava do apoio de dois terços da Câmara - 427 votos de um total de 650 (na realidade, um pouco menos de dois terços, já que os deputados nacionalistas irlandeses do Sinn Fein se recusam a sentar-se no Parlamento britânico). A moção do premiê, porém, teve apenas 298 votos favoráveis. "A oferta de novas eleições agora é como a bruxa má oferecer uma maçã para a Branca de Neve", disse Corbyn. "O que ele (Johnson) está oferecendo é o veneno de um Brexit sem acordo."
Os partidos de oposição e adversários do primeiro-ministro afirmaram que até seriam capazes de apoiar a antecipação das eleições, desde que antes o Parlamento assegure que o Reino Unido não deixará a UE sem um acordo comercial. Diante das seguidas derrotas, cabe agora ao premiê decidir o que fazer. Entre as opções, ele pode cumprir a determinação do Parlamento e pedir a Bruxelas um novo adiamento, o que ele já rejeitou fazer, ou renunciar e forçar novas eleições - o que também já foi descartado por ele.
Enquanto Johnson acumulava derrotas, a ex-premiê Theresa May era fotografada ao lado de Kenneth Clarke, um velho companheiro do Partido Conservador, sorrindo discretamente. A descontração de May era tanta que a imprensa britânica chegou a especular que ela votaria contra o governo, ao lado dos 21 rebeldes conservadores que abandonaram Johnson. No fim, ela se manteve fiel ao partido e ao premiê.
Ontem, os 21 dissidentes conservadores confirmaram que foram expulsos da bancada parlamentar por ordem de Johnson. Entre eles estão Nicholas Soames, neto de Winston Churchill, ídolo do primeiro-ministro, o ex-chanceler Philip Hammond e o ex-secretário de Justiça David Gauke.
Crise
As rusgas de Johnson com o Parlamento se agravaram na semana passada, quando ele estendeu o recesso parlamentar, medida que lhe daria autonomia no andamento do Brexit. O atual prazo para a saída do Reino Unido acaba em 31 de outubro. Segundo determinação do premiê, os deputados deveriam voltar a trabalhar apenas no dia 14, encurtando a janela para evitar um Brexit sem acordo.
Deputados de todos espectros políticos temem as consequências de uma saída radical do bloco, que ameaça deixar o Reino Unido com escassez de alimentos, medicamentos e produtos importados, ao mesmo tempo em que faria a economia britânica perder bilhões de dólares em exportações.
Segundo estimativas de agências do governo, do Banco da Inglaterra, do FMI e de empresas de consultoria, o PIB do Reino Unido será 3,9% menor, em 2034, em relação ao que seria se não houvesse Brexit. Em janeiro, um relatório da consultoria Ernst & Young revelou que bancos e firmas de investimento moveram US$ 1 trilhão do Reino Unido para a UE.