Piñera condena violência policial em protestos no Chile

Piñera condena violência policial em protestos no Chile

Presidente saudou oportunidade de redação de Nova Constituição

AFP

Cerca de 22 pessoas foram mortas em um mês de protestos

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O presidente do Chile, Sebastián Piñera, condenou pela primeira vez nesse domingo os abusos cometidos pela Polícia nas manifestações multitudinárias que sacodem o país há um mês e saudou a oportunidade de redigir uma nova Constituição, agora na democracia. "Houve uso excessivo da força, foram cometidos abusos ou delitos e não se respeitaram os direitos de todos", reconheceu o presidente em pronunciamento à Nação, na véspera de se completar um mês da crise que deixou 22 mortos e milhares de feridos.

Depois de quatro semanas, Piñera prestou condolências às famílias das vítimas da crise social sem precedentes desde a redemocratização em 1990. Também prometeu que "não haverá impunidade, nem com os que fizeram atos de violência inusitada, nem com aqueles que cometeram atropelos e abusos. Faremos o melhor para assistir as vítimas".

Cinco das 22 mortes foram provocadas pela ação de agentes do Estado. As demais vítimas faleceram em incêndios e saques ou atropelados durante as manifestações. E mais de 200 pessoas tiveram ferimentos oculares graves ou perderam a visão em um dos olhos em consequência dos disparos de balas de borracha pela polícia.

Em seu pronunciamento o presidente também comemorou o acordo alcançado com o Congresso para convocar um plebiscito para redigir uma nova Constituição que irá substituir a vigente desde a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990). "Se a cidadania assim o decidir, avançaremos para uma nova Constituição, a primeira na democracia", afirmou o presidente em discurso do palácio presidencial.

A atual Carta Magna é apontada como a origem das desigualdades da sociedade chilena, já que foi aprovada em um questionado plebiscito nos anos mais violentos do regime militar de Pinochet. O Congresso, após uma sessão de várias horas, alcançou um acordo na sexta-feira para convocar um plebiscito em abril de 2020, no qual os cidadãos devem decidir se querem ou não reformar a Constituição e sob que mecanismo: uma assembleia constituinte ou uma convenção mista, com metade formada por parlamentares.

"Nas últimas quatro semanas, o Chile mudou, os chilenos mudaram, o governo mudou, todos mudamos. O pacto social sob o qual estávamos vivendo se quebrou", disse o presidente. Piñera afirmou, no entanto, que "o resultado destas quatro semanas ainda não está escrito" e que são necessários vários acordos sociais, incluindo um para a reforma da Previdência.

"O próximo acordo deve ser para melhorar as aposentadorias", declarou, a respeito de uma das principais exigências dos protestos. A população deseja a reforma de um sistema herdado da ditadura, que estabelece a capitalização absolutamente individual dos trabalhadores e que paga pensões do mesmo valor ou menores que o salário mínimo (418 dólares) à maioria dos aposentados.


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