Polícia de Hong Kong acusa dois de sedição após operação contra jornal

Polícia de Hong Kong acusa dois de sedição após operação contra jornal

Veiculo anunciou seu fechamento depois que a polícia prendeu sete funcionários e fez uma batida em sua redação

AFP

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A polícia de Hong Kong acusou, nesta quinta-feira (30), dois membros do jornal pró-democracia Stand News de "conspirarem para publicar" informações sediciosas, após uma operação contra o veículo. Ação ocorreu em um contexto de crescente deterioração da liberdade de imprensa no território semiautônomo chinês.

"O Departamento de Segurança Nacional da Polícia (...) acusou oficialmente dois homens de 34 e 52 anos e um meio digital de conspiração para publicar conteúdo sedicioso", declarou a polícia em um comunicado. A mídia local noticiou que os acusados são o editor Patrick Lam e seu antecessor Chung Pui-ken. Ambos foram presos na quarta-feira (29), junto com outras cinco pessoas ligadas ao veículo.

O jornal anunciou seu fechamento, depois que a polícia prendeu sete funcionários e fez uma batida em sua redação, expondo a diminuição da liberdade de imprensa na cidade, um centro financeiro internacional. "Devido à situação atual, o Stand News deixará de operar imediatamente e deixará de atualizar seu site e suas redes sociais", que serão fechadas nos próximos dias, informou o jornal digital no Facebook horas após a operação.

Mais de 200 policiais uniformizados e à paisana participaram das operações de busca na redação e em residências particulares. De acordo com o polícia, foram apreendidos telefones, computadores, documentos e mais de US$ 64.000 em dinheiro.

O Stand News é o segundo veículo pró-democracia a ser fechado em Hong Kong, após uma operação policial. Em junho, o Apple Daily, muito crítico de Pequim, fechou as portas, depois do congelamento de seus bens e da prisão de vários de seus executivos. Esta segunda operação aumenta a preocupação com a liberdade de imprensa nesta cidade em tese semiautônoma e sede regional de vários meios de comunicação internacionais. Desde os protestos pró-democracia de 2019, Pequim vem expandindo seu controle neste território.

Condenação dos Estados Unidos

Estados Unidos, Canadá e União Europeia condenaram a operação. "Ao silenciar a mídia independente, a RPC (República Popular da China) e as autoridades locais minam a credibilidade e a viabilidade de Hong Kong", comentou o secretário de Estado americano, Antony Blinken.

A chefe do governo de Hong Kong, Carrie Lam, reagiu, afirmando que concordava com uma parte da declaração de Blinken, em que ele diz que "jornalismo não é sedição". "Jornalismo não é sedição, mas as ações e as atividades sediciosas e a incitação de outras pessoas por meio de ações públicas não podem ser toleradas sob o pretexto de cobertura jornalística", declarou Lam.

O governo chinês também respondeu às críticas. "Algumas forças externas, sob o pretexto de defenderem a liberdade de imprensa, têm feito declarações irresponsáveis sobre a aplicação da lei em Hong Kong", comentou o porta-voz do Ministério chinês das Relações Exteriores, Zhao Lijian.

O Comitê para a Proteção dos Jornalistas descreveu a ação como "um ataque aberto à já violada liberdade de imprensa de Hong Kong". A mídia local informou que, entre os detidos, também há quatro membros do conselho administrativo que renunciaram em junho, incluindo a estrela pop local Denise Ho e a advogada Margaret Ng.

O superintendente de polícia Steve Li acusou o veículo de publicar artigos que incitavam o ódio contra o governo de Hong Kong, como noticiar que manifestantes estavam "desaparecidos", ou que direitos foram "violados". "Essas são acusações maliciosas sem base nos fatos", disse Li em entrevista coletiva, anunciando também o congelamento de US$ 7,8 milhões em ativos.

"Editorialmente independente"

Fundado como uma publicação digital sem fins lucrativos em 2014, o Stand News foi indicado ao prêmio Liberdade de Imprensa da organização Repórteres Sem Fronteiras em novembro deste ano. "O Stand News era editorialmente independente e se dedicava a proteger os valores centrais de Hong Kong, como a democracia, os direitos humanos, a liberdade, o Estado de direito e a justiça", afirma o comunicado de despedida.

Durante os grandes protestos pró-democracia de 2019 - em alguns momentos violentos -, a polícia entrou em confronto com vários repórteres do Stand News. Após essas manifestações, Pequim aumentou o controle sobre a ex-colônia britânica. A principal medida foi a imposição, em junho de 2020, de uma lei de segurança nacional usada para a detenção de vários opositores.

A Associação de Jornalistas de Hong Kong e o Clube de Correspondentes Estrangeiros expressaram "profunda preocupação" e pediram respeito à liberdade de imprensa.


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