Polícia russa prende mais de 4,4 mil pessoas em protestos pró-Navalny

Polícia russa prende mais de 4,4 mil pessoas em protestos pró-Navalny

Nos centros de Moscou e São Petersburgo, muitos policiais e agentes da Guarda Nacional foram mobilizados

AFP

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A polícia russa prendeu, neste domingo, mais de 4,4 mil pessoas e fechou o acesso ao centro de Moscou durante novas manifestações em todo o país para exigir a libertação do opositor Alexei Navalny. Milhares de pessoas ignoraram as advertências do governo e tomaram as ruas de várias cidades russas, de Vladivostok a São Petersburgo, no segundo fim de semana de protestos contra a prisão do principal opositor do presidente Vladimir Putin.

Pelo menos 4.407 pessoas foram presas em todo o país, incluindo 1.365 em Moscou, segundo o último relatório divulgado pela ONG OVD-Info, especializada no monitoramento das manifestações. Em outras metrópoles russas, como São Petersburgo, Krasnoyarsk (Sibéria) e Vladivostok (Extremo Oriente), também ocorreram centenas de prisões, segundo a mesma fonte.

A esposa de Navalny, Yulia Navalnaya, foi presa a caminho de uma manifestação, relataram vários meios de comunicação da oposição. Essas manifestações seguem um primeiro dia de mobilização, no sábado da semana passada, que reuniu dezenas de milhares de manifestantes e resultou em mais de quatro mil prisões, além da abertura de cerca de vinte processos.

Nos centros de Moscou e São Petersburgo, muitos policiais e agentes da Guarda Nacional foram mobilizados. "Putin é um ladrão!", "Liberdade!", gritavam dezenas de manifestantes ao passarem pelo centro da capital russa, tendo o local da reunião sido alterado no último minuto devido às restrições da polícia, que limitou o acesso a várias ruas no centro e fechou estações de metrô, uma decisão rara.

No Twitter, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, criticou a repressão às manifestações por meio do "uso persistente de táticas brutais" e instou a "libertar aqueles que foram presos, incluindo Alexei Navalny".

O ministério das Relações Exteriores russo foi rápido em denunciar essas acusações como "interferência grosseira nos assuntos internos" da Rússia. Essas novas manifestações acontecem tendo como pano de fundo a apresentação de Alexei Navalny perante os juízes, prevista para a próxima semana. O opositor é alvo de vários processos judiciais desde seu retorno à Rússia em 17 de janeiro.

Segundo o seu advogado, ele corre o risco de "cerca de dois anos e meio" de prisão pela violação das condições de uma pena suspensa de três anos e meio de prisão, que foi infligida em 2014.

"Não tenham medo"

No outro extremo do país, em Vladivostok, Andrei, um manifestante de 25 anos, lamentou que poucas pessoas, algumas dezenas, tenham se reunido, porque "as forças de choque bloquearam" o centro da cidade. Em Novosibirsk, a terceira maior cidade da Rússia, o meio de comunicação independente Taiga estimou o número de manifestantes em mais de 5.000, uma das maiores mobilizações antigovernamentais dos últimos anos.

"As pessoas estão irritadas com o que está acontecendo e porque membros do parlamento e ativistas da oposição foram presos esta semana", disse à AFP Khelga Pirogova, deputada local por uma coalizão pró-Navalny. Muitos de seus aliados próximos foram colocados em prisão domiciliar na sexta-feira, dois dias depois de uma série de operações de busca e apreensão que visaram a casa de sua esposa Yulia e as instalações de sua organização, o Fundo Anticorrupção.

Nos dias anteriores, as autoridades alertaram os apoiadores de Navalny. A polícia disse que os manifestantes poderiam ser processados por "motins em massa" se os comícios se tornassem violentos. Por sua vez, o órgão de fiscalização das telecomunicações Roskomnadzor anunciou que sancionaria as redes sociais por mensagens online, segundo ele, incentivando menores a protestar.

Apesar da pressão, Navalny voltou a pedir aos russos na quinta-feira que tomassem as ruas. "Não tenham medo", escreveu ele em uma carta postada em seu blog. "A maioria está do nosso lado. Vamos acordá-la". Os protestos também são alimentados pela divulgação de uma investigação do opositor acusando o presidente Vladimir Putin de se beneficiar de um enorme "palácio" nas margens do Mar Negro, uma investigação vista mais de 100 milhões de vezes no YouTube.

Putin negou as acusações, destinadas, segundo ele, a fazer uma "lavagem cerebral" nos russos, enquanto a televisão estatal exibiu imagens da residência ainda em construção, longe do luxo descrito pelo opositor. No sábado, o bilionário Arkadi Rotenberg, amigo próximo de Putin e que está sob sanções ocidentais, afirmou ser o verdadeiro proprietário da residência e garantiu que estava construindo um hotel.

O ativista anticorrupção e inimigo jurado do Kremlin, Alexei Navalny, de 44 anos, voltou à Rússia em 17 de janeiro após meses de convalescença na Alemanha por suspeita de envenenamento, pelo qual acusa Vladimir Putin e os serviços de segurança russos de serem responsáveis.


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