Porto: uma cidade em transformação

Porto: uma cidade em transformação

Segundo maior distrito português mudou sua trajetória com investimentos em infraestrutura e modernização

Fernanda Pugliero

Porto reiventou-se ao longo deste século

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Foi na virada dos anos 2000 que o Porto começou a trilhar uma nova trajetória. A escolha de Portugal como sede do Campeonato Europeu de Futebol de 2004 fez a cidade experimentar pela primeira vez uma grande revoada de turistas. Para se preparar para a Euro-2004, o governo investiu pesado em infraestrutura. A herança gera frutos até hoje. Em apenas 15 anos, a cidade conseguiu mudar o suficiente para se posicionar como um dos destinos turísticos mais relevantes da Europa.

O estádio do Dragão, atualmente de propriedade do Futebol Clube do Porto, foi inaugurado em 2003. A capacidade do aeroporto da cidade, considerado o segundo mais relevante de Portugal, também foi dobrada no início dos anos 2000, passando para 5 milhões de passageiros por ano. Em 2014, o aeroporto atendeu a 6,9 milhões de passageiros, ampliando a capacidade para 8 milhões em 2015 e fechando o ano seguinte com 9,3 milhões. A expectativa é que o número chegue a 12 milhões a partir da conclusão de obras já previstas.

A cidade registrou quase 7 milhões de pernoites em 2016, um crescimento de cerca de 10% em relação ao ano anterior. A previsão da administração municipal, entretanto, era alcançar a marca apenas em 2020. O Porto já acumula três títulos consecutivos como o “Melhor Destino Europeu”, tendo superado outras 19 cidades do continente em 2017. Foi o turismo também o responsável por incentivar a reabilitação urbana, que disparou nos últimos três anos.

Em 2010, o centro histórico encontrava-se quase em “em situação de ruínas”, de acordo com definição do próprio governo local. Um projeto de revitalização encabeçado pelo município passou então a estimular a reforma de propriedades a partir do abate de impostos e do fornecimento de materiais de construção, como a doação de azulejos de coloração azul para a fachada dos edifícios.

A Câmara Municipal do Porto comemora o crescimento da cidade, que não aumentou em população residente, mas viu a quantidade de investimento local multiplicar-se exponencialmente. Até mesmo o rei da Espanha, Felipe VI, em visita à cidade em novembro do ano passado, impressionou-se: “Foi uma transformação em que houve inteligência para combinar o ritmo dos tempos e para assumir plenamente a modernidade”, afirmou, em discurso na Câmara Municipal da cidade.

Além do turismo, outro dos fatores responsáveis pela injeção de euros são os polos de empreendedorismo incentivados, principalmente, pelo governo municipal em parceria com a Universidade do Porto, a segunda maior do país, além de privados. “Queremos manter o nível de inovação a partir de um ecossistema que apoie o empreendedorismo e não apenas criar startups. Nos preocupamos que elas cresçam”, explicou o vice-presidente da Câmara Municipal, Filipe Araújo. “Nos Estados Unidos, qualquer startup pretende ser uma scaleup e é isso que queremos”, completou.

O governo local gaba-se em dizer que o Porto é uma das únicas cidades do mundo onde é possível desenvolver o design de um sapato e produzi-lo a menos de 10 minutos de distância do local de criação do produto. “É uma cidade cheia de indústrias à volta. A maior parte das exportações do país saem do Norte de Portugal. Fabricamos calçados, máquinas e outras coisas. Somos a única cidade da Europa com essa característica”, ressaltou Araújo.

Mas nem tudo são cravos ou rosas


A expansão desenfreada do turismo também causa danos e gera reclamações dos portuenses. É comum assistir a discussões em bares ou restaurantes, onde os moradores locais contestam a supervalorização dos turistas. “Agora só querem saber de atender aos estrangeiros” ou “mesas só há para turistas” são frases que parecem terem se tornado clichê pelas ruas da cidade. Uma das razões para isso é que os portugueses não estão acostumados a deixar gorjeta para a prestação de serviços, prática comum em outros países da Europa e, não raro, exportada pelos turistas.

O preço dos aluguéis e de imóveis para compra também disparou. É quase impossível encontrar um portuense que ainda consiga residir no Centro Histórico. O valor de um aluguel mensal de uma propriedade de 1 dormitório com cerca de 40 metros quadrados pulou de 350 euros em 2010 para mais que o dobro no último ano. “Agora está muito caro comprar qualquer imóvel”, afirmou a proprietária de um hostel na rua do Almada, no coração da cidade. A propriedade foi adquirida em 2010 e, somado o restauro, custou cerca de 1 milhão de euros. “Com esse valor hoje só dá para comprar um prédio em ruínas.” A maioria dos investimentos que desembarcou no Porto nos últimos anos vem do exterior.

Apesar de gerar empregos e novos negócios, o uso de plataformas como o Airbnb, para reserva de acomodação, e a expansão de aplicativos de transporte individual, como o Uber, incomoda particulares. Protestos de taxistas contra condutores de Uber são comuns, e a maioria dos prédios em restauro não servirá para abrigar locais. “Todas as obras de restauração das ruas do Centro irão tornar-se acomodações turísticas”, contou a proprietária do hostel, que comemora estar com a casa cheia até mesmo na baixa temporada, mas reclama da impossibilidade de expandir tamanha concorrência de investidores.

O Porto em números

De acordo com o último censo nacional realizado em Portugal, em 2011, a população residente total da cidade do Porto é de 237.591 habitantes – 108.104 são homens e 129.487 são mulheres. A cidade é a segunda mais relevante do país e fica em quarto lugar em população residente. Além de cidade (ou concelho, como é chamada a divisão municipal portuguesa equivalente aos municípios brasileiros), o Porto também é um distrito constituído por outros doze concelhos e oito freguesias (como são chamadas as menores divisões administrativas do território em Portugal, que podem ser comparadas a uma espécie de bairro). O distrito do Porto (ou Grande Porto) contabiliza 1.287.282 residentes.

A título de comparação, Lisboa, a capital e maior cidade de Portugal, contabiliza uma população de 506.892. Já a Grande Lisboa, tem 2.242.326 habitantes.

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