Premiê do Japão, Shinzo Abe anuncia que vai renunciar por problemas de saúde

Premiê do Japão, Shinzo Abe anuncia que vai renunciar por problemas de saúde

Primeiro-ministro sofre de colite ulcerosa, uma doença inflamatória intestinal com a qual vive desde a adolescência

Correio do Povo e AFP

Abe disse que não nomeará um primeiro-ministro interino e permanecerá no cargo até que seu sucessor seja escolhido

publicidade

O mais longevo primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, confirmou nesta sexta-feira que vai renunciar ao cargo por questões de saúde. Aos 65 anos, disse em entrevista coletiva que permanecerá no posto até que um sucessor seja confirmado. Preocupações com problemas de saúde se intensificaram recentemente, após o premiê fazer duas visitas hospitalares para exames. Ele sofre de colite ulcerosa, uma doença inflamatória intestinal com a qual vive desde a adolescência.

Abe disse que não poderia cometer erros em termos de tomada de decisões importantes e, portanto, decidiu renunciar.
"Eu decidi que não deveria continuar meu trabalho como primeiro-ministro. Eu gostaria de pedir desculpas sinceramente ao povo do Japão por deixar meu posto com um ano restante do meu mandato e em meio aos infortúnios do coronavírus, enquanto várias políticas ainda estão em processo de implementação", disse.

Durante a coletiva, o primeiro-ministro disse que sua saúde piorou durante os meses do verão local e que passou a tomar novos medicamentos. Ele afirmou que o tratamento está dando resultados, mas que não se sente confiante para tomar decisões, diante de sua saúde debilitada. O novo chefe de Governo provavelmente será o vencedor das eleições para a presidência do Partido Liberal-Democrata, atualmente liderado por Abe. O primeiro-ministro não fez comentários sobre o possível sucessor na entrevista coletiva e afirmou que "todos os nomes que circulam fazem referência a pessoas muito capacitadas".

O porta-voz do governo, Yoshihide Suga, e o ministro das Finanças, Taro Aso, são apontados como os nomes mais fortes para a sucessão. Sem esconder a emoção, Abe afirmou que está "profundamente triste" por deixar o posto um ano antes da data prevista e em plena crise do coronavírus.

Em uma primeira reação internacional ao anúncio, a Rússia destacou "a contribuição inestimável" de Abe nas relações entre os dois países. Já o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, agradeceu ao japonês pela parceria forte e próxima com a União Europeia.

"Uma grande surpresa"

Nos últimos dias, circularam com força os boatos de renúncia de Abe, após duas visitas inesperadas ao hospital nas últimas duas semanas. O porta-voz Suga tentou rebater as especulações sobre a eventual saída de Abe do governo. Algumas horas antes do anúncio, Suga reiterou que esperava que o primeiro-ministro anunciasse a intenção de "trabalhar duro" e afirmou não ter visto nenhum sinal de deterioração da saúde de Abe durante as reuniões "diárias" com ele.

Apesar das especulações, os analistas apostavam que Abe permaneceria no cargo até o fim de seu terceiro e último mandato como presidente do PLD, que terminaria em setembro de 2021. "É uma grande surpresa", declarou Shinichi Nishikawa, professor de Ciência Política na Universidade de Meiji, de Tóquio.

"Sua renúncia acontece no momento em que o Japão enfrenta desafios importantes, como a gestão da pandemia de coronavírus", disse à AFP. "Pode acontecer uma situação política confusa. A renúncia terá um grande impacto na política japonesa", completou o analista.

O índice Nikkei da Bolsa de Tóquio fechou em baixa de 1,4% após a notícia da saída de Abe ser antecipada pela imprensa. Durante a sessão, a queda chegou a 2,6%. Abe teve de encurtar sua primeira passagem pelo posto de chefe de Governo, em 2006-2007, em parte por esta doença inflamatória intestinal crônica, da qual se declarava curado.

De reputação de conservador e nacionalista ferrenho e de estimular o crescimento com sua política econômica agressiva, conhecida como "Abenomics", Fortaleceu as defesas do Japão e aumentou os gastos militares, mas não foi capaz de revisar o pacifista Artigo 9 da Constituição, que proíbe um exército permanente que não seja para autodefesa.

A popularidade de Abe caiu nos últimos meses, devido à pandemia de coronavírus. O governo foi muito criticado pela demora a reagir à crise. O arquipélago nipônico, relativamente menos afetado pela covid-19 que outras zonas no mundo, contabilizou 65.600 contágios e 1.600 mortes desde o início da pandemia.


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895