Presidente do Egito minimiza protestos no país

Presidente do Egito minimiza protestos no país

Abdel Fatah Al Sisi figura como uma das autoridades mais severas do Oriente Médio

AFP

Presidente egípcio disse não estar preocupado com manifestações no país

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O presidente do Egito, Abdel Fatah Al Sisi, declarou nesta sexta-feira que não está preocupado com eventuais manifestações contra ele, uma semana depois dos protestos que terminaram com milhares de detenções. Eleito em 2014 depois de derrubar seu antecessor, o islamita Mohamed Mursi, um ano antes, Al Sisi impôs seu governo como uma das figuras mais autoritárias do Oriente Médio, esmagando qualquer ato de protesto no país de maior população do mundo árabe (100 milhões de habitantes).

Nos últimos dias, a segurança policial foi reforçada no Cairo e nas grandes cidades, sobretudo na Praça Tahrir da capital, epicentro da revolta popular de 2011 que expulsou do poder o presidente Hosni Mubarak, no contexto da Primavera Árabe. Nesta sexta-feira todos os acessos para veículos à Praça Tahrir foram bloqueados com barreiras, mas os pedestres conseguiam passar pelo local. As ruas próximas estavam desertas.

"Não há motivos para preocupação", declarou Al Sisi, sorridente, dando a entender que algumas pessoas deram muita importância à convocação de protesto para esta sexta-feira. "O caso não merece tanto", completou para um grupo de jornalistas no Cairo, pouco depois de desembarcar de uma viagem aos Estados Unidos.

A Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, pediu nesta sexta às autoridades egípcias que mudem sua abordagem das manifestações, exigindo a libertação imediata das pessoas detidas por exercer seu direito de manifestação. "Lembro ao governo egípcio que, segundo o direito internacional, as pessoas têm o direito de se manifestar pacificamente", acrescentou o comunicado da Alta Secretária.

Diversos vídeos postados no Facebook no início de setembro por um empresário egípcio exilado, Mohamed Aly, mostraram centenas de pessoas às ruas nos dias 20 e 21 de setembro aos gritos de "Fora Al Sisi". Os protestos foram dispersados com gás lacrimogêneo. Nas filmagens, que foram compartilhados milhões de vezes na internet, Mohamed Aly acusou Al Sisi de corrupção - o que o presidente nega - e convocou a população a protestar.

Os primeiros protestos provocaram surpresa no país, cuja oposição foi severamente reprimida desde a queda de Mohamed Mursi. As autoridades responderam e prenderam quase 2 mil pessoas, incluindo jornalistas, intelectuais e ativistas políticos, denunciaram a Human Rights Watch e ONGs locais. O procurador-geral do país afirmou em um comunicado que mais de mil pessoas foram detidas e interrogadas.

Na quinta-feira, Aly publicou um vídeo no qual afirma que as manifestações de sexta-feira partiriam de várias mesquitas e igrejas. Ele advertiu que a Praça Tahrir não seria o único ponto de concentração. "Com certeza as próximas manifestações enfrentarão uma resistência firme", afirmou à AFP H.A. Hellyer, membro associado do Royal United Services Institute. Ele destacou que Al Sisi já deixou claro que "tem a intenção de permanecer no poder" e que se as manifestações "ultrapassarem um certo ponto, isto seria destrutivo não apenas para sua presidência, mas para o país".

O presidente se apresenta como um baluarte da luta contra o terrorismo. E, apesar das dificuldades econômicas, muitos egípcios o consideram a única pessoa capaz de garantir a estabilidade do país. Além dos protestos, nesta sexta-feira também estavam previstas manifestações de apoio. Al Sisi pode contar ainda com o forte apoio dos meios de comunicação, tanto estatais como privados, e tem respaldo no exterior, incluindo o governo americano, que vê nele um sólido aliado contra os extremistas.

Em seus vídeos, Aly afirma que milhões de libras egípcias de recursos públicos foram destinadas a projetos inúteis e aos palácios presidenciais. "Mentiras e calúnias", respondeu há algumas semanas Al Sisi, que rejeitou as acusações de corrupção e afirmou que os palácios construídos não são para ele, e sim para o país. As declarações, no entanto, provocaram polêmica, pois quase um terço dos habitantes do Egito vive abaixo da linha da pobreza.


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