Presidente do Parlamento venezuelano é libertado ser detido

Presidente do Parlamento venezuelano é libertado ser detido

Juan Guaidó ficou preso por cerca de uma hora por agentes do governo

AFP

Líder opositor foi detido por cerca de uma hora por homens encapuzados

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O presidente do Parlamento da Venezuela, de maioria opositora, Juan Guaidó, foi libertado neste domingo, após ficado detido por quase uma hora pelo serviço de Inteligência quando se dirigia para chefiar uma reunião pública a 40 quilômetros de Caracas. Nesta semana, em que Nicolás Maduro foi reempossado como presidente da Venezuela, a Assembleia declarou Guaidó como presidente.

Aclamado por centenas de seguidores, Guaidó, vestindo camisa branca e calça jeans, chegou ao local onde se preparava a presidir a concentração em Caraballeda, estado de Vargas. “Irmãos, aqui estou!”, disse ao subir em um palanque.

“Uma mensagem a Miraflores (o palácio presidencial): o jogo virou, o povo está na rua, aqui estão os símbolos da pressão, da resistência, da força. Se queriam enviar uma mensagem para que nos escondêssemos, aqui está a resposta do povo. Estamos aqui”, assegurou.

O chefe do Legislativo, um engenheiro de 35 anos, foi detido na rodovia entre Caracas e La Guaira – no estado de Vargas – quando, segundo sua esposa, Fabiana Rosales, foram interceptados por duas caminhonetes do Serviço de Inteligência (Sebin) “com armas longas e encapuzados”, e o obrigaram a descer do veículo em que viajava. “Não bateram nele, mas nos disseram que tinham que levá-lo detido imediatamente”, acrescentou Rosales, acrescentando que “a ditadura não poderá dobrar seu espírito de luta”.

Guaidó foi detido depois de, na sexta-feira passada, durante outra reunião aberta em Caracas, ter se mostrado disposto a preencher o vácuo de poder que – em sua avaliação – existe na Venezuela ante um governo que não é reconhecido pela maioria no país e por grande parte da comunidade internacional.

“Tentaram me colocar algemas, não o permiti porque sou o presidente legítimo da Assembleia Nacional”, acrescentou o deputado, que convocou uma “grande mobilização em todos os cantos da Venezuela” em 23 de janeiro, data emblemática, pois remete ao 23 de janeiro de 1958, quando caiu a ditadura militar de Marcos Pérez Jiménez.

“Não temos medo”

Após a convocação dessa manifestação, a ministra de Serviços Penitenciários, Iris Varela, tinha ameaçado prendê-lo, enquanto Maduro atribuiu suas declarações a um “jogo de garotos”, que assumiram o controle do Congresso para desestabilizá-lo. “Fomos interceptados, nos sequestraram por alguns minutos; mas aqui estamos. Não vão poder frear a reivindicação por mudança”, afirmou o deputado em seu discurso na reunião pública.

“Não temos medo”, respondiam seus seguidores. Um vídeo no qual se vê a operação na qual Guaidó foi detido por agentes encapuzados e levado em uma caminhonete, viralizou nas redes sociais.

O governo venezuelano buscou se dissociar da detenção, ao afirmar que se tratou de uma decisão “unitaleral” de funcionários do Serviço de Inteligência (SEBIN). “Soubemos que ocorreu uma situação irregular, em que um grupo de funcionários, agindo de forma unilateral, realizaram um procedimento irregular contra o deputado Juan Guaidó”, disse o ministro da Comunicação, Jorge Rodríguez, em declarações transmitidas pela TV oficial.

O funcionário qualificou o incidente de um “show midiático” e um “falso positivo”, que busca desestabilizar o governo do presidente Nicolás Maduro, que assumiu na quinta-feira um segundo mandato de seis anos, não reconhecido por vários governos, que o tacham de ilegítimo. “Estes funcionários que se prestaram a esse show contra o desenvolvimento normal da vida na República estão sendo destituídos e submetidos a um procedimento disciplinar mais estrito para estabelecer se é que se prestaram para este tipo de situações”, reforçou.

Condenações internacionais


O secretário geral da Organização de Estados Americanos(OEA), Luis Almagro, repudiou a prisão: “Absoluta condenação e rejeição ao sequestro do presidente interino da Venezuela. A comunidade internacional deve parar os crimes de Maduro e seus capangas”.

“Este episódio, que atenta contra las liberdades civis e políticas dos Venezuelanos, neste caso na pessoa do Presidente da Assembleia Nacional (AN), ratifica a imperiosa necessidade de restabelecer na Venezuela a ordem democrática e o respeito aos direitos humanos”, assegurou o governo argentino, em um comunicado. O Chile condenou a detenção, que qualificou como um “amedrontamento”.

Vários países latino-americanos, entre eles o Brasil, comemoraram o anúncio de Guaidó na sexta-feira, depois que o Legislativo declarou Maduro como um “usurpador”, a Constituição o legitima a assumir o poder, enquanto convoca eleições. Mas admitiu que isto só se tornará realidade se os venezuelanos forem às ruas para apoiá-lo e os militares retirarem seu apoio a Maduro, empossado na quinta-feira passada a um segundo mandato de seis anos.

Todas as decisões do Congresso são consideradas nulas pelo Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), pró-governista, que o declarou em desacato em 2016 e na quinta-feira empossou Maduro.

Guaidó, deputado pelo estado de Vargas e militante do partido Vontade Popular (VP) – fundado pelo líder opositor Leopoldo López, em prisão domiciliar – assumiu a presidência do Legislativo em 5 de janeiro e é o congressista mais jovem a ocupar o cargo.

Ataque à imprensa

Também neste domingo, o Sindicato da Imprensa e ONGs denunciaram a retenção, por mais de uma hora, de duas correspondentes das emissoras colombiana Caracol e internacional CNN que cobriam a prisão de Guaidó. Mais de meia hora depois, as duas foram libertadas.

As jornalistas, segundo o sindicato, “foram registradas, lhes tiraram seus pertences e foram revistadas por funcionárias mulheres”, além de terem sido “gravadas e fotografadas a todo momento desde que teve início a detenção”.

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