Protestos deixam 13 mortos em 24h no Iraque

Protestos deixam 13 mortos em 24h no Iraque

Movimento antigovernamental chega à terceira semana de manifestações

AFP

Franco-atiradores "não identificados" pelo Estado disparam contra manifestantes

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Os protestos antigovernamentais no Iraque entraram nesta sexta-feira em sua terceira semana, com 13 manifestantes mortos em Bagdá e no porto de Basra nas últimas 24 horas, segundo fontes médicas. Desde o início de 1º de outubro, do movimento de protesto, já deixou cerca de 300 pessoas - a maioria manifestantes - mortas nas violentas mobilizações, segundo balanço da da AFP.

Em Basra, sete manifestantes foram mortos em confrontos com forças de segurança na quinta e sexta-feira. Na última semana, o acesso ao porto foi cortado, onde boa parte das importações de alimentos e medicamentos entra no país.

Em Bagdá, seis pessoas morreram quinta-feira em confrontos com a polícia. Apesar da violência, milhares de pessoas tentavam se reunir nesta sexta na Praça Tahrir ("Libertação") em Bagdá, incluindo líderes tribais influentes no país.

"Sacrificamos o sangue dos filhos de nossas tribos. Não vamos parar até que o governo renuncie", disse um deles, oriundo de Nasiriyah. Durante a manhã, foram ouvidas explosões causadas por tentativas das forças de segurança de afastar manifestantes que tentavam ocupar as quatro pontes sobre o rio Tigre.

As pontes se tornaram uma frente de batalha em Bagdá, porque através delas os manifestantes tentam chegar à sede e escritórios do governo, localizados na costa oeste. Por outro lado, as organizações de direitos humanos emitiram alertas sobre as prisões e intimidações de ativistas e médicos por forças de segurança não identificadas.

Na província de Missan, dois ativistas foram mortos na quarta-feira por agressores desconhecidos, segundo as forças de segurança. Na primeira onda de protestos, de 1º a 6 de outubro, 157 pessoas morreram, a maioria delas manifestantes em Bagdá, por disparos de atiradores que o Estado disse que não conseguia identificar.

As manifestações são alimentadas pela revolta contra a corrupção da classe política e pela falta de trabalho. Os populares mobilizados também querem a renúncia uma renovação total do sistema político implementado desde a queda do ditador Saddam Hussein em 2003. O Iraque, um país rico em petróleo, é o segundo maior produtor da OPEP.

Seus habitantes, sufocados pelo desemprego, que afeta 25% da população jovem, e a pobreza exigem sua "parcela de petróleo". A Transparência Internacional coloca o Iraque em 12º lugar entre os países mais corruptos do mundo. Em meio à mais grave crise social que o Iraque enfrenta em mais de quinze anos, o primeiro-ministro Adel Abdel Mahdi perde força e espaço para manobrar todos os dias devido aos protestos.

No entanto, quando as mobilizações entram em sua terceira semana, os líderes políticos parecem ter concordado em permanecer à frente do executivo. Moqtada Sadr, o clérigo ligado ao Irã e que exigiu a renúncia do governo, agora está em silêncio. E, em uma aparente imagem de normalidade, a televisão estatal divulgou a mensagem gravada que Abdel Mahdi dirigiu ao seu gabinete por ocasião do debate sobre o orçamento de 2020.

Nessa mensagem, ele propôs medidas para apaziguar os manifestantes, incluindo a contratação de mais funcionários públicos e a promoção de projetos de infraestrutura. Nesta sexta-feira, o clérigo xiita mais importante do país, o aiatolá Ali Sistani, disse que "não se pode esperar mais" e que "as forças políticas devem responder às demandas dos cidadãos", segundo um sermão lido por um representante.


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