Putin propõe prolongar por um ano e "sem condições" tratado nuclear Novo Start

Putin propõe prolongar por um ano e "sem condições" tratado nuclear Novo Start

O acordo, que rege parte dos arsenais dos dois adversários geopolíticos, expira no início de 2021

AFP

Proposta de Putin de estender acordo adiaria a validade do mesmo até fevereiro de 2022

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O presidente russo, Vladimir Putin, optou nesta sexta-feira por uma extensão de um ano "sem condições" do tratado de desarmamento nuclear russo-americano Novo Start, três dias depois de uma proposta dos Estados Unidos que Moscou considera inaceitável.

Este grande acordo bilateral que rege parte dos arsenais dos dois adversários geopolíticos expira no início de 2021. Negociado na época dos presidentes Barack Obama e Dmitry Medvedev, seu desaparecimento suscita temores do ressurgimento de uma corrida armamentista e do colapso das relações entre os dois gigantes em um setor altamente sensível.

Durante uma reunião de seu Conselho de Segurança, Putin propôs "estender o acordo atual sem condições por pelo menos um ano, a fim de ter a possibilidade de realizar negociações intensivas" sobre um tratado para substituí-lo. Isso adiaria a validade do acordo até fevereiro de 2022.

Os Estados Unidos, no entanto, concideram a proposta russa "inaceitável". "Os Estados Unidos propuseram uma extensão do Novo START por um ano, em troca da Rússia e dos Estados Unidos limitarem todas as ogivas nucleares durante esse período", afirmou o assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, Robert O'Brien, no Twitter. "A resposta do presidente russo hoje para estender o Novo START sem congelar as ogivas nucleares é inaceitável", acrescentou.

O tratado bilateral Novo Start, concluído em 2010, mantém os arsenais dos dois países bem abaixo do nível da Guerra Fria, limitando o número de lançadores nucleares estratégicos a 700, e o número de ogivas nucleares, a 1.550. De acordo com o último relatório do Instituto Internacional de Estocolmo para Pesquisas para a Paz (SIPRI), Rússia e Estados Unidos ainda possuem mais de 90% das armas nucleares do mundo.

Durante meses, Washington e Moscou negociaram intensamente para encontrar uma base de entendimento. Na ausência de avanços e com o fim do atual mandato do presidente Donald Trump se aproximando, o negociador americano no tema, Marshall Billingslea, propôs a Moscou prorrogar o tratado "por um tempo", desde que a Rússia concorde em "congelar" seu arsenal nuclear.

Esse congelamento foi imediatamente considerado "inaceitável" pelo negociador russo, o vice-chanceler Sergei Riabkov, já que, para Moscou, o acordo deve ser prolongado sem condições.

Durante o encontro com Putin, o chefe da diplomacia russa, Sergei Lavrov, chegou a falar a favor da simples e pura extensão do atual acordo por cinco anos. Ele está disposto, porém, a negociar um novo documento e afirma ter transmitido propostas concretas a Washington.

Novas armas

Na sexta-feira, Putin disse que seria "muito lamentável", se o tratado chegasse ao fim sem ser substituído e saudou um acordo que, em sua opinião, tornou possível "limitar a corrida armamentista".

O presidente Trump já recusou o Tratado sobre Mísseis Terrestres de Médio Alcance e o Tratado de Céus Abertos, que visa a verificar os movimentos militares e as medidas de controle de armas dos países signatários.

Quanto ao Novo Start, os Estados Unidos insistem, até agora sem sucesso, em que o tratado de substituição também inclua a China. Os EUA também querem que o documento trate de armas nucleares táticas, bem como dos novos tipos de armamento que a Rússia se orgulha de ter desenvolvido.

Nos últimos anos, a Rússia desenvolveu uma nova geração de armas, incluindo mísseis apresentados pelo presidente russo como "invencíveis" por serem hipersônicos, em um contexto de tensões crescentes com Washington.

Para o especialista militar russo, Vassili Kachine, os americanos propõem "um acordo radicalmente diferente" do Nova Start, que, em sua forma atual, é inaceitável para a Rússia. Portanto, sua prorrogação de um ano seria a "variante ideal", segundo o especialista. "Esta é uma chance de salvar o acordo" antes de uma eleição presidencial incerta nos EUA, avaliou.


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