Reunião de líderes mundiais nos 75 anos da libertação de Auschwitz é marcada por repreensão ao Irã

Reunião de líderes mundiais nos 75 anos da libertação de Auschwitz é marcada por repreensão ao Irã

Para o primeiro-ministro de Israel, o Irã, que não reconhece o Estado Judeu, é a ameaça nazista do passado


AFP

Premiê liderou celebração em Jerusalém

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Os Estados Unidos e Israel pediram nesta quinta-feira que a comunidade internacional eleve o tom em relação ao Irã durante uma cerimônia para marcar em Jerusalém o 75º aniversário da libertação do campo nazista de Auschwitz, símbolo do genocídio judeu. Quarenta líderes internacionais, incluindo os presidentes francês Emmanuel Macron e russo Vladimir Putin, se reuniram para o evento, apresentado como o encontro político mais importante da história de Israel pelas autoridades israelenses. Teerã não reconhece a existência do Estado hebreu, apelidado de “regime sionista”, e apoia grupos islâmicos palestinos em sua luta.

Israel acusa o Irã há anos de tentar adquirir armas nucleares, apesar deste negar, enquanto as tensões entre a República Islâmica e Washington não pararam de aumentar desde a saída dos Estados Unidos, em maio de 2018, do acordo nuclear de 2015. "Peço a todos os governos que se juntem aos esforços para enfrentar o Irã", disse o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu na abertura das comemorações, antes de acrescentar: "Não pode haver outro Holocausto".

"Israel deve fazer tudo o que estiver ao seu alcance para se defender", ressaltou o premiê, que também saudou as sanções americanas contra os "tiranos de Teerã" neste evento, cujo objetivo é honrar a memória das vítimas do Holocausto, o extermínio de milhões de judeus pela Alemanha nazista durante a Segunda Guerra Mundial, e lutar contra o antissemitismo. "Devemos nos preparar para enfrentar a maré do antissemitismo (...) para que possamos permanecer firmes diante do primeiro Estado a promover o antissemitismo", acrescentou o vice-presidente americano, Mike Pence, antes de nomear "República Islâmica do Irã".

"Ódio contemporâneo"

Para Netanyahu, a ameaça nazista do passado agora tem outro nome, o Irã, porque a República Islâmica ameaça, por seu programa nuclear e balístico, a própria existência do Estado hebreu. Mas Teerã nega categoricamente querer desenvovler um programa nuclear para fins militares. Israel, que se opõe ao acordo nuclear iraniano de 2015, pede aos europeus que apoiem os Estados Unidos, que se retiraram em maio de 2018 antes de restaurar pesadas sanções contra Teerã.

Já Emmanuel Macron, que pediu firmeza diante do antissemitismo e defendeu a ideia de que a "negação da existência de Israel como um Estado" era uma "forma contemporânea" de antissemitismo, alertou nesta quinta para uma instrumentalização do Holocausto. "Ninguém tem o direito de convocar seus mortos para justificar qualquer divisão ou algum ódio contemporâneo, porque todos os que caíram nos obrigam à verdade, à memória, ao diálogo, à amizade", afirmou em discurso proferido após o de Pence e Netanyahu, sem dizer a palavra "Irã". Face à Israel e aos Estados Unidos, que apoiam a doutrina de "pressão máxima" sobre o Irã, os europeus enfatizam a necessidade de respeitar o acordo nuclear iraniano.

"Responsabilidade histórica"

Vladimir Putin aproveitou sua visita à Terra Santa para inaugurar um memorial em homenagem às vítimas do cerco de Leningrado pela Alemanha nazista, onde cerca de 800.000 pessoas morreram entre 1941 e 1944. "O cerco de (Leningrado) e o Holocausto são dois eventos que não podem ser comparados a nada", disse o presidente russo, pedindo o combate ao antissemitismo sem mencionar o Irã, país do qual a Rússia permanece próximo. Em vez disso, Putin convocou uma cúpula de líderes dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU – Rússia, França, Reino Unido, China, Estados Unidos – para responder aos "desafios" contemporâneos, em um contexto de tensões exacerbadas Leste-Oeste.

"A divisão pode ter consequências terríveis", disse Putin. "Precisamos ter coragem não apenas para falar sobre isso, mas devemos fazer tudo para defender e preservar a paz", insistiu. "Os cinco membros permanentes (...) hoje têm uma responsabilidade histórica e compartilho seu desejo, 75 anos depois, de nos reunir", respondeu Macron sem maiores detalhes. Enquanto os discursos eram proferidos, sobreviventes do Holocausto compartilharam sua história sombria. "Eu luto contra o antissemitismo toda vez que testemunho", disse Nahum Rottenberg, sobrevivente de 92 anos, a Yad Vashem, um memorial do Holocausto, dizendo que lamenta que os conflitos ainda existam hoje.


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