Taiwan acusa China de simular uma invasão da ilha

Taiwan acusa China de simular uma invasão da ilha

Taipei criticou o comportamento "irresponsável do regime autocrático" de Pequim

AFP

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Taiwan acusou neste sábado o exército chinês de simular um ataque contra seu território e criticou o comportamento "irresponsável do regime autocrático" da China, que intensificou as represálias após a visita à ilha da presidente da Câmara de Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi. As relações entre as duas superpotências ficaram ainda mais tensas depois da viagem de Pelosi à ilha de governo autônomo que a China considera parte de seu território.

A escala de Pelosi em Taiwan esta semana foi considerada uma "provocação" pela China, que em retaliação iniciou os maiores exercícios militares ao redor de Taiwan em décadas. De acordo com analistas, as manobras, que devem prosseguir até domingo, têm o objetivo de treinar um bloqueio da ilha.

"Há vários aviões e navios comunistas realizando atividades ao redor do Estreito de Taiwan", afirmou o ministério da Defesa de Taiwan em um comunicado. "Consideramos que realizavam uma simulação de ataque à principal ilha de Taiwan", completa a nota.

Em resposta, os militares da ilha anunciaram a mobilização de patrulhas aéreas e terrestres, além de sistemas de mísseis terrestres. Em um momento de tensão extrema, o vice-presidente do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Chung-Shan, uma agência do exército, morreu vítima de um ataque cardíaco neste sábado. Uyang Li-hsing, 57 anos, era diretor de um programa de produção de mísseis e foi encontrado morto em um hotel do sul de Taiwan. "Um exame médico determinou que a causa da morte foi um infarto do miocárdio e angina", afirma um comunicado do instituto.

"Ações brutais"

O Conselho de Assuntos Continentais, organismo taiwanês que administra as relações com a China continental, denunciou "ações brutais e deploráveis" de Pequim. "Pedimos a todos os nossos aliados democráticos de todo o mundo que continuem apoiando Taiwan e contra-ataquem o comportamento irresponsável de um regime autocrático que mina a paz com sua aventura militar", afirmou.

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, declarou neste sábado nas Filipinas que Washington está "decidido a atuar de forma responsável" para evitar uma crise mundial. O meio ambiente virou a vítima mais recente da batalha geopolítica, depois que Pequim anunciou a saída das negociações e acordos de cooperação com Washington, particularmente sobre mudança climática e cooperação de defesa.

Os dois países, os maiores poluentes do mundo, haviam anunciado um compromisso para trabalhar juntos e acelerar a ação climática, mas o acordo agora parece incerto. A China não deve tomar como "refém" as negociações sobre temas de interesse global como a mudança climática, acrescentou Blinken. "Isto não pune os Estados Unidos, e sim o mundo", insistiu.

"É impossível abordar a emergência climática se as economias número um e dois e os poluentes número um e dois não adotarem decisões", declarou à AFP Alden Meyer, do centro de estudos sobre o clima E3G. O secretário de Estado americano, Antony Blinken, declarou neste sábado nas Filipinas que Washington está "decidido a atuar de forma responsável" para evitar uma crise mundial.

O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, afirmou que as duas potências devem continuar trabalhando juntas pelo bem do mundo. "Para o secretário-geral, não há forma de resolver os problemas mais urgentes do mundo sem um diálogo efetivo e cooperação entre os dois países", declarou seu porta-voz Stephane Dujarric.

Novo normal?

A escala e intensidade dos exercícios chineses provocaram críticas dos Estados Unidos e de outros países. A Casa Branca convocou na sexta-feira o embaixador chinês em Washington para questionar as ações de Pequim. Japão e Austrália também pediram o fim das manobras chinesas.

Mas Pequim anunciou que também organizará uma simulação com munição real no sul do Mar Amarelo - entre a China e a península da Coreia - a partir deste sábado e até 15 de agosto. Em uma demonstração do quanto se aproximaram de Taiwan, as forças chinesas divulgaram na sexta-feira um vídeo de um piloto que gravou a linha costeira e montanhas da ilha a partir de sua cabine.

E o Comando Oriental do exército divulgou uma foto que supostamente foi feita de um navio de guerra durante uma patrulha perto de Taiwan que mostra claramente a costa da ilha. De acordo com o canal estatal chinês CCTV, os mísseis chineses sobrevoaram Taiwan durante as manobras, mas a informação não foi confirmada.

Taipé mantém a postura desafiante e insiste que não recuará diante do que chamou de "vizinho do mal". Analistas apontam, no entanto, que o declínio nas relações entre as duas superpotências pode se aprofundar e ser duradouro.

"O relacionamento está muito ruim agora", disse Bonnie Glaser, especialista em China do German Marshall Fund. A suspensão do diálogo militar e marítimo entre as duas partes é "particularmente preocupante", disse. "Não sabemos o que mais vão fazer", acrescentou.

John Culver, ex-analista da CIA para a Ásia, considera que a principal intenção de Pequim com seus exercícios militares é mudar o status quo. "Acredito que é o novo normal", afirmou em um evento organizado pelo Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais. "Os chineses querem mostrar que uma linha foi cruzada com a visita de Pelosi", concluiu.


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