Tchecos e eslovacos recordam os 50 anos da ofensiva "Primavera de Praga"

Tchecos e eslovacos recordam os 50 anos da ofensiva "Primavera de Praga"

Em 1968, mais de 400 pessoas, em sua maioria jovens, foram vítimas da intervenção soviética

AFP

Dia foi marcado por protestos contra o atual governo Tchecoslováquia

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Os tchecos e os eslovacos recordam nesta terça-feira o 50º aniversário da ofensiva dos soviéticos contra a "Primavera de Praga" de 1968. Alguns deles aproveitaram a ocasião para denunciar o atual governo da Tchecoslováquia, apoiado pelos comunistas. Uma cerimônia em homenagem às mais de 400 vítimas da intervenção e da ocupação soviética organizada em frente à sede da Rádio Praga foi marcada por protestos contra o gabinete do empresário bilionário Andrej Babis.

Composto pelo movimento populista ANO de Babis e pelo partido social-democrata CSSD, o governo só foi capaz de conquistar o voto de confiança graças ao apoio do partido comunista KSCM nostálgico do antigo regime. "Quem governa com os comunistas, desonra as vítimas da ocupação de 1968!", reclamava o cartaz de um manifestante. Cerca de 15 tchecos, em sua maioria jovens, morreram em 21 de agosto de 1968 em frente à Rádio Praga quando tentavam impedir desarmados a tomada do prédio.

Gritos de "Vergonha!" e vaias ensurdecedoras de centenas de manifestantes acompanharam o discurso de Babis, cercado de guardas-costas e acompanhado pelo chefe da Câmara Baixa, Radek Vondracek, membro do ANO. Os opositores criticam Babis por ter pertencido ao partido comunista e por supostamente colaborar com a polícia secreta StB antes de 1989. "Bures, fora!", gritaram igualmente os manifestantes, em referência ao supostos codinome do empresário na StB.

Precursor da "perestroica"

Precursor da "perestroica" de Gorbachev, a "Primavera de Praga" encarnada por Alexander Dubcek se traduziu principalmente por uma reforma política e econômica, a abolição da censura e uma liberdade de reunião e de associação. Na madrugada de 20 a 21 de agosto de 1968, cerca de 30 divisões soviéticas, apoiadas por unidades búlgaras, húngaras, polonesas e da Alemanha Oriental, acabaram com este sonho efêmero. "Há 50 anos, a invasão soviética da Tchecoslováquia esmagou a Primavera de Praga. Mas o desejo de liberdade e democracia sobreviveu e constitui a base do que une a Europa hoje", escreveu nesta terça-feira o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, no Twitter.

Várias cerimônias, shows e comícios acontecem em toda a República Tcheca. No final da tarde, um show está programado na Praça Venceslas, com vários astros da música pop, incluindo a cantora Marta Kubisova. Em 1968, Marta Kubisova defendeu abertamente a "Primavera de Praga". Na segunda-feira, vários manifestantes já haviam se reunido em frente à embaixada da Rússia em Praga, respondendo à convocação de ONGs locais.

Presidente pró-russo se cala

Ao longo de todo o dia, a televisão pública Ceska Televize (CT) exibe programas especiais, à espera, no final da tarde, de um discurso do presidente eslovaco Andrej Kiska. "Agosto de 1968 faz parte de um desses eventos que é preciso sempre recordar para as futuras gerações. Esses eventos marcaram cada família e continuam na memória de nossos familiares e avós", indicou o primeiro-ministro eslovaco Peter Pellegrini, nas colunas do jornal Hospodarske Noviny de hoje.

Em contrapartida, o chefe de Estado tcheco Milos Zeman, que é acusado por seus críticos de uma política pró-russa, decidiu manter-se em silêncio. A ausência de Zeman, um ex-comunista assim como Babis, nas cerimônias foi muito criticada pelos partidos da oposição de direita.

Segundo seu porta-voz Jiri Ovcacek, o presidente "já provou sua coragem ao se opor publicamente à ocupação em 1968". Na Eslováquia, que se separou da República Tcheca em 1993, o evento mais marcante será a inauguração em Kosice de um monumento em homenagem ao jornalista investigativo Jan Kuciak, assassinado em 21 de fevereiro com sua noiva. O aniversário da intervenção do Pacto de Varsóvia cai exatamente seis meses após a morte do repórter, segundo o autor do monumento Peter Kalmus.

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