Theresa May é acusada de enganar Parlamento sobre acordo do Brexit
Representantes do Reino Unido criticaram aprovação de "moção do desacato"
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"Chegou a hora de ela assumir a responsabilidade por ter escondido os fatos", acrescentou. Ele se referiu à "moção de desacato", aprovada na véspera pelo Executivo, por ter-se recusado a fornecer na íntegra os relatórios jurídicos sobre o acordo negociado com Bruxelas e que deve ser rejeitado em 11 de dezembro. Após perder essa moção, antes de iniciar cinco dias de debates acalorados, o governo se viu forçado a revelar informações que classificava como confidenciais.
O acordo selado por May com os 27 sócios europeus prevê um complexo sistema denominado "backstop", ou "rede de segurança", para evitar instaurar uma fronteira dura entre a província britânica da Irlanda do Norte e a República de Irlanda. O relatório jurídico mostrou que a Irlanda do Norte poderia ser mantida indefinidamente no mercado único europeu, se não for possível negociar uma melhor solução no quadro da futura relação entre o Reino Unido e a União Europeia. "A primeira-ministra deve explicar por que ela continua a negar à Escócia os direitos e oportunidades que o acordo oferece para outra parte" do país, lançou Blackford, cujo partido é pró-europeu.
Dois anos depois de rejeitar a independência do Reino Unido, a Escócia votou maciçamente contra o Brexit (63%) no referendo de junho de 2016, quando o país decidiu deixar a UE por 52% dos votos. "Vamos sair da UE como Reino Unido em seu conjunto e negociaremos como Reino Unido em seu conjunto", disse May, pedindo novamente para aprovar seu acordo sob risco de um Brexit brutal em 29 de março.
"Perdeu o controle"
As consequências legais do "backstop" também indignaram o pequeno partido unionista da Irlanda do Norte, DUP, de cujos 10 deputados o governo de May depende para sobreviver. "É totalmente inaceitável (...). Tem que ser derrotado, e novas condições devem ser negociadas", disse um dos seus líderes, o deputado Nigel Dodds. O acordo firmado pelo governo britânico com seus 27 parceiros europeus se choca com a oposição dos eurófilos, que veem condições piores do que as atuais, bem como com os eurocéticos, convencidos de que fazem concessões inaceitáveis à UE.
Muitos destes últimos estão nas fileiras do Partido Conservador de May. E foi exatamente daí que veio o segundo golpe à enfraquecida primeira-ministra na terça-feira: o ex-procurador-geral Dominic Grieve apresentou uma emenda, aprovada por 321 votos contra 299, para que o Parlamento possa determinar o que acontece, se o acordo for rejeitado. Se May perder a votação histórica na próxima semana, seu governo tem um prazo de 21 dias para informar os legisladores sobre o que ela planeja fazer.
Entre as muitas opções, estão: negociar novamente com a UE, deixar o bloco em 29 de março sem acordo, convocar eleições legislativas antecipadas, ou organizar um novo referendo. O que quer que o Executivo decida, os deputados poderiam aconselhar o contrário e, embora sua emenda não seja vinculativa, seria politicamente difícil para a primeira-ministra ignorar a opinião majoritária da Câmara. "O dia em que May perdeu o controle", afirmou o jornal "Daily Telegraph" nesta quarta-feira. "May sofre pior derrota para os deputados em 40 anos", insistiu "The Times".