Turquia e curdos trocam acusações sobre violação da trégua na Síria

Turquia e curdos trocam acusações sobre violação da trégua na Síria

Ancara acusa milícias de executarem 14 ataques durante cessar-fogo

AFP

Operação já causou 500 mortes e deslocamento de 2,3 mil sírios

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A Turquia acusou neste sábado as forças curdas de violação do acordo de cessar-fogo que suspendeu a ofensiva turca no norte da Síria em troca de uma retirada dos curdos. Na sexta-feira, os curdos fizeram a mesma acusação contra Ancara. "O exército turco acata plenamente o acordo anunciado na quinta-feira em Ancara", com mediação dos Estados Unidos, afirmou o ministério turco da Defesa.

"Apesar disso, os terroristas (como Ancara identifica as milícias curdas) executaram um total de 14 ataques nas últimas 36 horas", completou. O ministério indicou que 12 ataques partiram de Ras al Ain, nordeste da Síria, um de Tal Abyad e outro da região de Tal Tamr. Também citou o uso de artilharia leve e pesada, incluindo foguetes.

Na sexta-feira, a trégua já parecia frágil, quando bombardeios aéreos dos turcos e disparos de artilharia dos rebeldes pró-Turquia provocaram as mortes de 14 civis em uma localidade na fronteira norte da Síria, segundo a ONG Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH). Por este motivo, os curdos denunciaram de imediato uma "violação" do cessar-fogo.

Questionado sobre o acordo de cessar-fogo alcançado com o presidente turco Recep Tayyip Erdogan, o secretário de Estado americano Mike Pompeo admitiu que a medida não foi "instantaneamente" aplicada pelos beligerantes. Ele citou problemas de "coordenação" para garantir "uma retirada segura das YPG (curdos das Unidades de Proteção Popular) da zona controlada pelos turcos coberta pelo acordo".

Pompeo recordou na sexta-feira que as forças kurdas, chamadas de "terroristas" por Ancara, ainda tinham 96 horas até terça-feira à noite para abandonar as zonas de fronteira com a Turquia. Se ao final do prazo a retirada não for efetiva, a ofensiva turca, iniciada em 9 de outubro, poderá ser retomada, alertou Erdogan.

A Turquia considera as forças curdas sírias como "terroristas" por suas relações estreitas com o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que trava um violento confronto de guerrilha contra Ancara. Porém, esta milícia curda foi aliada da coalizão internacional na luta contra o grupo extremista Estado Islâmico (EI) e agora sente que foi abandonada, especialmente pelos Estados Unidos, que anunciou a retirada de seus militares da região.

A operação de Ancara com seus aliados locais sírios abriu uma nova frente de batalha na Síria, país em guerra desde 2011 onde as forças curdas estabeleceram de fato uma região semiautônoma no norte da Síria. Na quinta-feira à noite, a Turquia aceitou suspender a ofensiva por cinco dias, mas exigiu a retirada das forças curdas da fronteira para acabar com o ataque.

De acordo com o OSDH, mais de 500 pessoas morreram dos dois lados desde o início da ofensiva, incluindo quase 100 civis, e 300.000 pessoas foram deslocadas. Quase 2.300 sírios, em sua maioria mulheres e crianças, fugiram dos combates e atravessaram a fronteira para o Iraque nos últimos dias, informou a ONU. A Anistia Internacional denunciou que as forças turcas e os grupos sírios que apoiam Ancara na ofensiva contra os curdos cometeram "crimes de guerra", incluindo execuções sumárias.


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