Turquia lança ofensiva contra milícia curda na Síria

Turquia lança ofensiva contra milícia curda na Síria

Ataques aéreos deixaram ao menos dois civis mortos

AFP

Ofensiva ocorreu após anúncio de uma nova operação militar contra a milícia curda

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A Turquia lançou nesta quarta-feira a "Operação Fonte da Paz", a ofensiva militar no nordeste da Síria contra a milícia curda apoiada pelos ocidentais na luta antijihadista, depois que o presidente americano Donald Trump pareceu deixar o campo livre para Ancara atuar. O anúncio do início da ofensiva contra as Unidades de Proteção do Povo (YPG) foi feito pelo presidente turco Recep Tayyip Erdogan, mais do que nunca determinado a afastar da fronteira turca esta milícia que considera terrorista por causa de seus vínculos com o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).

"As Forças Armadas turcas e o Exército Nacional Sírio (rebeldes sírios apoiados por Ancara) iniciaram a operação 'Fonte de Paz' no norte da Síria", anunciou Erdogan no Twitter. Essa operação atinge, segundo ele, "os terroristas das YPG e do Daesh" (sigla em árabe do grupo Estado Islâmico) e tem como objetivo estabelecer uma "zona de segurança" no nordeste da Síria. "A zona de segurança que criaremos permitirá o retorno dos refugiados sírios a seu país", acrescentou.

No momento do anúncio de Erdogan, uma explosão foi ouvida na região de Ras al-Ain, na fronteira com a Turquia. Uma espessa coluna de fumaça era visível da fronteira turca. O Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH) constatou vários ataques aéreos, particularmente na área de Ras al-Ain.

A agência estatal turca Anadolu disse que a artilharia turca também mirava alvos das YPG em Tal-Abyad, outra cidade do nordeste da Síria. Os ataques aéreos turcos mataram pelo menos dois civis, informou a milícia curda. "Dois civis foram mortos, outros dois ficaram feridos durante o bombardeio aéreo turco", afirmou centro de coordenação de operações militares das Forças Democráticas da Síria (SDF).

Essa ofensiva, que a Turquia ameaça lançar há vários meses, é a terceira de Ancara na Síria desde 2016. No domingo, Donald Trump pareceu aprovar a operação, antes de amenizar suas declarações e garantir que Washington "não havia abandonado os curdos", que desempenharam um papel crucial na derrota do EI.

Mobilização geral

Horas antes do início da ofensiva, os curdos ordenaram uma mobilização geral de três dias, ao mesmo tempo em que pediram a Moscou que interviesse para facilitar o diálogo com o regime de Damasco. Por sua vez, o regime de Bashar al-Assad prometeu impedir qualquer agressão da Turquia, dizendo que está pronto para "acolher em seu rebanho" a minoria curda, que estabeleceu uma autonomia de fato no nordeste do país em guerra.

Na localidade de Ras al-Ain, grandes barracas foram instaladas na fronteira para uma manifestação organizada pelas autoridades curdas, constatou um correspondente da AFP. Pneus foram empilhados, prontos para serem queimados no caso de uma ofensiva para atrapalhar a visibilidade do agressor. "A guerra nos persegue há anos e todos os dias Recep Tayyip Erdogan ameaça nos atacar", disse Kawa Salim, de 32 anos, no mercado de Ras al-Ain. "Vamos defender nossas casas e nossa pátria por todos os meios".

"Pense bem"

Em conversa por telefone com o presidente russo Vladimir Putin, Erdogan afirmou "que a operação militar planejada no leste do rio Eufrates contribuirá para a paz e a estabilidade na Síria e abrirá o caminho para uma solução pacífica", segundo uma fonte da presidência turca. Putin, por sua vez, pediu para Erdogan "pensar bem" antes de lançar a ofensiva, de acordo com um comunicado do Kremlin.

A França reagiu ao início da ofensiva, "condenando-a firmemente" e anunciou que pedirá uma reunião do Conselho de Segurança da ONU". O governo alemão também "condenou com grande firmeza" a ofensiva turca, que "pode desestabilizar ainda mais a região e provocar o ressurgimento" do grupo Estado Islâmico. "Pedimos à Turquia que encerre sua ofensiva e defenda seus interesses de segurança pacificamente", afirmou o ministro das Relações Exteriores, Heiko Maas.

De acordo com o jornal turco Hürriyet, a Turquia planeja primeiro controlar uma faixa de território na fronteira de 120 quilômetros de comprimento e cerca de 30 quilômetros de profundidade, das cidades de Tal Abyad a Ras al-Ain. Em médio prazo, Ancara pretende criar uma "zona de segurança" de 30 km de profundidade estendendo-se do Eufrates à fronteira do Iraque, ou 480 km.

Segundo o governo turco, esta área deve hospedar parte dos 3,6 milhões de refugiados sírios na Turquia e separar os territórios fronteiriços turcos daqueles conquistados pelas YPG. O porta-voz de Erdogan, Ibrahim Kalin, instou os países europeus, incluindo França, Bélgica e Grã-Bretanha, a repatriar seus cidadãos que se juntaram ao EI e que agora são mantidos pelas forças curdas.

 


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