Ucrânia acusa Rússia de ataque com mísseis ao porto de Odessa; Moscou nega

Ucrânia acusa Rússia de ataque com mísseis ao porto de Odessa; Moscou nega

Ofensiva ocorre um após assinatura de acordo com a ONU e a Turquia, em Istambul, para permitir a exportação de cereais

AFP

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A Ucrânia disse neste sábado (23) que a Rússia lançou mísseis no porto de Odessa, um importante terminal do Mar Negro.  "O inimigo atacou o porto de Odessa com mísseis de cruzeiro Kalibr. Dois dos projéteis foram derrubados pelas forças de defesa aérea. Dois atingiram a infraestrutura do porto", disse Sergii Brachuk, porta-voz da administração regional de Odessa, em nota nas redes sociais. 

A Rússia, porém, garantiu à Turquia que não está envolvida no ataque, disse o ministro da Defesa turco. "Os russos nos disseram que não tinham absolutamente nada a ver com o ataque e que estavam estudando a questão muito de perto", disse o ministro Hulusi Akar.

A ofensiva teria ocorrido ocorreu um dia após ambas as partes assinarem um acordo com a ONU e a Turquia, em Istambul, para permitir a exportação de cereais que estão bloqueados nos portos ucranianos, os quais estima-se serem de entre 20 e 25 milhões de toneladas. "A Federação Russa demorou menos de 24 horas para questionar, com os ataques com mísseis ao território do porto de Odessa, os acordos e as promessas que fez à ONU e à Turquia no documento assinado ontem em Istambul", afirmou o porta-voz para o Ministério das Relações Exteriores, Oleg Nikolenko.

Ao disparar mísseis no porto, o presidente russo, Vladimir Putin, "cuspiu na cara do secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, e do presidente turco, Recep (Tayyip) Erdogan, que fizeram enormes esforços para chegar a esse acordo", disse Nikolenko. A Rússia terá "total responsabilidade" se o acordo falhar e por "aprofundar a crise global de alimentos", acrescentou o porta-voz.

O acordo deveria trazer alívio aos países dependentes dos mercados russo e ucraniano, que respondem por 30% do comércio mundial de trigo.

Reações ao ataque

As reações ao ataque ao porto de Odessa foram rápidas. Guterres condenou "inequivocamente" o ataque e enfatizou que "a implementação completa (do acordo) pela Federação Russa, Ucrânia e Turquia é imperativa".

Na mesma linha, o chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, chamou a ofensiva de "repreensível". "Atingir uma meta crucial de exportação de grãos um dia após a assinatura dos acordos de Istambul é particularmente repreensível e novamente demonstra o total desrespeito da Rússia pelas leis e compromissos internacionais", escreveu Borrell no Twitter.

O pacto assinado em Istambul é o primeiro grande acordo entre as partes em conflito desde o início da invasão russa em 24 de fevereiro e busca ajudar a amenizar a fome que, segundo a ONU, afeta 47 milhões de pessoas a mais devido à guerra.

20 milhões de toneladas de trigo

A Ucrânia se recusou a assinar diretamente o documento com a Rússia. Ambos os países assinaram acordos idênticos separados com a Turquia e a ONU, na presença de Guterres e Erdogan, no Palácio Dolmabahce de Istambul, no Estreito de Bósforo. "Hoje há um farol no Mar Negro, um farol de esperança, um farol de alívio", disse Guterres pouco antes da assinatura. Erdogan, peça-chave na negociação, disse esperar que o acordo "reviva o caminho para a paz". 

Antes de assinar, a Ucrânia alertou que daria "uma resposta militar imediata" se a Rússia violasse o pacto e atacasse seus navios ou invadisse seus portos. O presidente ucraniano Volodimir Zelensky afirmou que a ONU deve garantir o cumprimento do acordo, que inclui o trânsito de navios com cereais ucranianos por corredores seguros para evitar minas no Mar Negro. 

Até 20 milhões de toneladas de trigo e outros grãos estão bloqueados nos portos ucranianos, especialmente Odessa, por navios de guerra russos e minas colocadas por Kiev para evitar um ataque anfíbio. Zelensky estima o valor dos estoques de grãos da Ucrânia em cerca de US$ 10 bilhões.

Ataque no centro da Ucrânia

Após a assinatura, as potências ocidentais elogiaram o acordo e instaram Moscou a cumprir suas disposições. A União Europeia (UE) pediu uma "aplicação rápida" do acordo, enquanto a ministra das Relações Exteriores britânica, Liz Truss, garantiu que Londres "estará vigilante para que a Rússia cumpra sua palavra". 

Por outro lado, a UE teme que a Rússia comece a usar seu controle das exportações de energia como arma geopolítica em sua disputa com o Ocidente. O acordo de cereais foi assinado um dia depois que a Moscou reiniciou a operação do gasoduto Nord Stream. Mas analistas alertam que o fornecimento de gás será insuficiente para evitar uma escassez de energia na Europa no próximo inverno. 

Na guerra, a Rússia tenta assumir o controle total da província de Donetsk e da vizinha Luhansk. Ambas as regiões compõem a região do Donbass, no leste da Ucrânia, que viveu mais um dia de bombardeios pesados. Na região central da Ucrânia, pelo menos três pessoas, incluindo um militar, foram mortas e outras nove ficaram feridas neste sábado durante um ataque de mísseis russos à infraestrutura ferroviária e a um aeródromo militar em Kirovograd, segundo o governador da região, Andriy Raikovych. 

Na sexta-feira, os Estados Unidos aprovaram outros US$ 270 milhões (€ 264 milhões) em ajuda militar à Ucrânia, incluindo sistemas de mísseis de precisão, munição de artilharia e postos de comando de veículos blindados.


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