Ucrânia planeja contraofensiva para retomar territórios capturados pela Rússia

Ucrânia planeja contraofensiva para retomar territórios capturados pela Rússia

Ideia é contar com ajuda da população para reforçar a pressão militar

AE

Rússia está tendo dificuldade para reprimir a agitação popular - e recorrendo a meios cada vez mais violentos

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Os ucranianos estão montando uma contraofensiva para recuperar território capturado pela Rússia no sul do país. A ideia é contar com ajuda da população para reforçar a pressão militar, segundo autoridades em Kiev e Washington. O esforço é mais evidente em vilas e cidades dominadas nos primeiros dias da guerra, como Kherson, onde soldados russos abriram fogo contra manifestantes na segunda-feira.

A Rússia está tendo dificuldade para reprimir a agitação popular - e recorrendo a meios cada vez mais violentos. O Exército ucraniano, ao mesmo tempo, está se aproveitando do tumulto para retomar terreno perdido. É difícil determinar se a estratégia está sendo bem sucedida, mas autoridades ucranianas dizem querer recuperar o aeroporto e a cidade de Kherson.

O porta-voz do Pentágono, John Kirby, confirmou a contraofensiva da Ucrânia. "Estamos identificando sinais de que os ucranianos estão sendo um pouco mais ofensivos. Eles têm defendido com muita inteligência, agilidade e criatividade em lugares que achamos que são os melhores para defender", disse. "Eles disseram que estavam planejando contra-ataques, e acho que estão indo nessa direção."

Na terça-feira, os ucranianos continuaram com sucesso a conter o avanço russo em Kiev, empurrando as tropas invasoras na região noroeste da capital. Segundo o comando do Exército da Ucrânia, a cidade de Makariv, a 45 quilômetros de Kiev, foi retomada e os russos, expulsos.

Após 26 dias de combates, um alto funcionário do Departamento de Defesa dos EUA disse na terça-feira que os russos não conseguiram avançar além de 15 quilômetros de Kiev, a noroeste, e 28 quilômetros, a leste da cidade - as mesmas posições que eles mantinham na semana passada.

Se os ucranianos vêm conseguindo conter os russos em Kiev, Mariupol parece cada vez mais próxima de cair. Nesta terça, o jornalista Jack Detsch, da Foreign Policy, disse ter recebido informações do Pentágono de que soldados da Rússia entraram na cidade. "Os russos estão agora dentro da cidade sitiada de Mariupol, na Ucrânia, incluindo forças separatistas que vieram da região de Donbas, segundo oficial de Defesa dos EUA", escreveu Detsch no Twitter.

Mais de 200 mil pessoas permanecessem presas em Mariupol, uma situação descrita pela ONG Human Rights Watch (HRW) como um "inferno gelado cheio de cadáveres e edifícios destruídos". Autoridades locais relataram duas "superexplosões" na cidade e disseram, em comunicado, que os russos querem reduzir a cidade a cinzas.

Escassez

O comando militar ucraniano disse nesta terça-feira que as forças russas têm apenas mais três dias de combustível, comida e munição para conduzir a guerra, após um colapso em suas cadeias de suprimentos. "De acordo com informações disponíveis, as forças de ocupação russas que operam na Ucrânia têm estoques de munição e alimentos para não mais de três dias", afirmou um comunicado das Forças Armadas ucranianas. "A situação é semelhante com combustível, que é reabastecido por caminhões-tanque. Os russos não conseguiram um gasoduto para atender às necessidades das tropas."

As suspeitas de escassez foram descritas como "plausíveis" por autoridades ocidentais, embora elas tenham dito que não é possível corroborar a informação. O relatório do comando ucraniano foi considerado consistente com evidências de que o avanço russo havia sido interrompido e, por isso, eles voltaram a recorrer a ataques de artilharia "indiscriminados" contra civis.

"Acreditamos que as forças russas usaram muito material e equipamento, incluindo tipos específicos de armas, e vimos relatos isolados de unidades específicas que não têm mais suprimentos de um tipo ou de outro", dizem os ucranianos. "É consistente com um avanço que parou. Falhas na cadeia logística têm sido uma das razões pelas quais eles não são tão eficazes quanto se esperava."

Um funcionário do Pentágono acrescentou ainda que há problemas de moral entre as tropas russas, não só causada pela escassez de alimentos e combustível, mas também em razão do congelamento de partes do corpo por causa da falta de equipamentos adequados para o inverno.

Para elevar a moral da tropa, de acordo com alguns analistas, os russos estariam ansiosos para declarar vitória em Mariupol. A cidade é vista como chave para garantir um corredor russo entre a região separatista de Donbas e a Crimeia, anexada em 2014. Segundo David Petraeus, general da reserva, ex-diretor da CIA e hoje comentarista da CNN, tomar a cidade portuária liberaria um grande contingente de soldados para desafogar a linha de frente russa em outras partes da Ucrânia.

Baixas

Na segunda-feira, um conhecido tabloide pró-Kremlin, o Komsomolskaya Pravda, informou que, de acordo com números do Ministério da Defesa da Rússia, 9.861 soldados russos foram mortos na Ucrânia e 16.153 ficaram feridos. A postagem foi rapidamente removida do site do jornal e do Twitter. Oficialmente, o governo russo reconhece apenas que 500 soldados morreram em combate. Autoridades ocidentais disseram acreditar que os números citados pelo jornal russo sejam uma "estimativa razoável". 


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