Ucrânia reclama novas sanções contra Rússia por incidente naval na Crimeia

Ucrânia reclama novas sanções contra Rússia por incidente naval na Crimeia

País exige a libertação de seus marinheiros e navios capturados pelas forças armadas russas

AFP

Tensão resulta em protestos na Ucrânia

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A Ucrânia exigiu, nesta segunda-feira, a libertação de seus marinheiros e de seus navios capturados no domingo pelas forças navais russas no Estreito de Kerch, que une o Mar Negro e o Mar de Azov, e reivindicou sanções contra a Rússia, em um incidente sem precedentes entre os dois países. Tanto Kiev quanto Moscou pediram uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU, que será realizada ainda hoje.

A Otan também convocou uma reunião de emergência em Bruxelas nesta segunda com representantes ucranianos, depois de uma conversa telefônica entre o secretário-geral da Aliança, Jens Stoltenberg, e o presidente ucraniano, Petro Poroshenko. O ministro das Relações Exteriores russo, Serguei Lavrov, acusou a Ucrânia de usar "métodos perigosos" no Estreito de Kerch. Lavrov disse que a Ucrânia violou os padrões internacionais com "métodos perigosos que criaram ameaças e riscos para o movimento normal de navios na área entre o Mar de Azov e o Mar Negro.

Lavrov acrescentou que o incidente não passou de uma provocação. A Rússia confirmou no domingo ter capturado três navios da Marinha ucraniana no Estreito de Kerch, que liga o Mar Negro ao Mar de Azov, e admitiu ter feito uso da força na ação. Reunido em caráter de urgência, o Conselho de Segurança e Defesa ucraniano propôs ao presidente Petro Poroshenko, na madrugada de segunda-feira, a reintrodução da lei marcial durante 60 dias.

A decisão precisa ser validada pelo Parlamento ucraniano, que celebrará uma sessão extraordinária na tarde desta segunda, mas o voto a favor da medida não é garantido. "Para obrigar os navios militares ucranianos a parar, foram usadas armas", declararam os serviços de segurança russos (FSB), afirmando que os três navios da Marinha ucraniana foram revistados. Segundo os russos, os navios ucranianos não teriam respondido aos pedidos legais de seus navios, que ordenaram a eles que parassem.

Pouco antes, a Marinha ucraniana havia acusado a Rússia de atirar contra estas embarcações que tentavam entrar do Mar Negro no Estreito de Kerch, que separa a Crimeia da Rússia e marca o acesso ao Mar de Azov. "Os navios blindados de artilharia 'Berdiansk' e 'Nikopol' foram atingidos por disparos do inimigo e não podem mais navegar. O rebocador 'Iany Kapu' teve que parar", acrescentou em um comunicado a Marinha ucraniana.

A Ucrânia também acusou a Rússia de colidir contra um navio ucraniano e, em seguida, impedir sua passagem ao pequeno mar, situado entre a Crimeia e o leste da Ucrânia, cenário de uma guerra com os separatistas pró-russos. O presidente ucraniano denunciou "um ato agressivo da Rússia, buscando uma escalada premeditada" nesta região. As relações entre os dois países atravessam uma profunda crise desde 2014 depois da anexação da Crimeia por parte da Rússia e a guerra separatista no leste da Ucrânia.

Protestos

Em Kiev, dezenas de ucranianos se reuniram na noite de domingo diante da embaixada da Rússia para protestar. Segundo a imprensa local, um carro que pertence a um diplomata russo foi incendiado. Em Bruxelas, a União Europeia e a Otan pediram uma "desescalada" nas tensões na região e que Moscou tente "restaurar a liberdade de passagem" no Estreito de Kerch.

O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, condenou, por sua vez, o "uso da força" por parte da Rússia no Mar de Azov. Vários países aliados de Kiev, entre eles Canadá e Lituânia, condenaram a "agressão russa". A Turquia se declarou "preocupada" e pediu o fim da "escalada", enquanto a China pediu a Moscou e Kiev que "resolvam suas diferenças através do diálogo e de consultas".

A Alemanha também denunciou um "bloqueio inaceitável" do Mar de Azov. A atual crise entre a Ucrânia e a Rússia começou com protestos pró-europeus, assim como com a fuga para a Rússia e a destituição em fevereiro de 2014 do presidente pró-russo Viktor Yanukovich. Um mês depois, a Rússia anexou a península da Crimeia.

Em abril desse ano, explodiu o conflito armado no leste ucraniano entre as tropas de Kiev e os separatistas, o que deixou mais de 10 mil mortos. Kiev e países ocidentais acusam a Rússia de apoiar militarmente os separatistas, o que Moscou nega. O Ocidente impôs sanções econômicas significativas à Rússia pela anexação da Crimeia e seu suposto papel na guerra no leste da Ucrânia.

A Rússia reivindica o controle do Estreito de Kerch desde a anexação da Crimeia. E construiu uma ponte que liga a península ao território russo. Kiev e as potências ocidentais acusam Moscou de "obstruir" deliberadamente a navegação de embarcações comerciais entre o Mar Negro e o Mar de Azov pelo estreito. A Ucrânia e a Rússia reforçaram sua presença militar nessa área sensível. Nos últimos meses, deslocaram navios militares para a zona.

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