Ucrânia rejeita ultimato da Rússia para entregar Mariupol

Ucrânia rejeita ultimato da Rússia para entregar Mariupol

Quase 350 mil pessoas estão bloqueadas sem água, ou energia elétrica, na cidade portuária

AFP

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A Ucrânia rejeitou, nesta segunda-feira, o ultimato russo para entregar a cidade portuária cercada de Mariupol, enquanto na capital do país, Kiev, um bombardeio matou pelo menos oito pessoas em um shopping.

Quase 350 mil pessoas estão bloqueadas sem água, ou energia elétrica, na cidade portuária de Mariupol, bombardeada pelas tropas russas há quase um mês.

Em outros pontos da Ucrânia, as bombas russas atingiram vários alvos durante a noite. Entre eles, está uma fábrica de produtos químicos no norte do país, que provocou um "vazamento de amônia" e disparou um alarme.

O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, pediu que a Europa aumente consideravelmente a pressão sobre Moscou para interromper a invasão, que começou em 24 de fevereiro, e afirmou que o continente deve interromper qualquer tipo de comércio com a Rússia.

"Nenhum euro para os ocupantes, fechem todas as portas, não enviem seus produtos, rejeitem os recursos energéticos", pediu o presidente ucraniano.

"Sem comércio com vocês, sem suas empresas e seus bancos, a Rússia não terá mais dinheiro para esta guerra", acrescentou em um vídeo.

Em paralelo, a Ucrânia pediu à China que "desempenhe um papel importante" para pôr fim ao conflito.

As autoridades ucranianas também destacaram que prosseguem com a resistência contra os russos em Mariupol, que enfrenta uma situação humanitária crítica.

Os defensores da cidade portuária "desempenham um papel enorme na destruição dos planos do inimigo e na melhora de nossa defesa", afirmou o ministro da Defesa da Ucrânia, Oleksiy Reznikov.

"Hoje, Mariupol está salvando Kiev, Dnipro e Odessa. Todo mundo precisa entender", acrescentou.

O comando militar do Kremlin havia anunciado um ultimato às autoridades de Mariupol até as 5h de 21 de março para que respondessem a oito páginas de demandas. Segundo os ucranianos, as demandas equivalem a uma rendição.

A vice-primeira-ministra ucraniana, Iryna Vereshchuk, rejeitou o ultimato russo e afirmou que Moscou deveria, em troca, permitir que os moradores bloqueados deixassem a cidade.

"Não se pode falar de entregar armas. Já informamos a parte russa", declarou Iryna, ao jornal Ukrainska Pravda.

Mariupol é um objetivo fundamental na guerra do presidente russo, Vladimir Putin, porque constitui uma ponte terrestre entre as forças russas na península da Crimeia, ao sudoeste, e o território controlado pela Rússia, ao norte e leste.

Advertência sobre embargo de petróleo

Nesta segunda-feira, as bombas russas voltaram a atingir diversos alvos, incluindo um shopping em Kiev. O ataque deixou pelo menos oito mortos, conforme o Ministério Público.

Os repórteres da AFP viram seis cadáveres cobertos estendidos no chão, no shopping Retroville.

Um padre ortodoxo que caminhava entre os mortos murmurava orações, enquanto maldizia os "terroristas russos".

Vladmir, de 76 anos, que vive nos arredores, contou que a explosão sacudiu a área às 22h45. "Meu apartamento tremeu com a força da explosão. Achei que o prédio fosse cair", afirmou.

Os corpos estavam diante do centro comercial Retroville, ao noroeste da capital. Bombeiros e soldados procuravam outras vítimas entre os escombros. O local foi atingido por uma bomba potente que destruiu os veículos estacionados e deixou uma cratera de vários metros de comprimento diante do prédio de 10 andares.

Em Kherson, uma cidade do sul ocupada pelas forças russas, uma manifestação foi dispersada pelos militares com disparos de armas automáticas e gás lacrimogêneo. Pelo menos uma pessoa ficou ferida.

E, às vítimas da guerra, somou-se também Boris Romantschenko, de 96 anos, sobrevivente de vários campos nazistas. Ele morreu no bombardeio de seu prédio em Kharkiv, informou a Fundação Alemã para os Monumentos de Buchenwald e de Mittelbau-Dora, nesta segunda.

O prefeito de Kiev, Vitali Klitschko, anunciou um novo toque de recolher a partir deste hoje à noite e que prosseguirá até a manhã de quarta-feira (23).

Longe da frente de batalha, os ministros das Relações Exteriores da União Europeia se reúnem hoje em Bruxelas para examinar novas sanções contra a Rússia. Alguns integrantes do bloco pressionam por um embargo sobre o petróleo e o gás russos. A Alemanha rejeita essa possibilidade, alertando que poderia provocar instabilidade social

O Kremlin se uniu às advertências contra o embargo e afirmou que o mesmo "afetaria todo o mundo".

"Um embargo assim teria uma influência muito grave no mercado mundial de petróleo, uma influência negativa no mercado de energia da Europa. Mas os americanos não perderão nada, é evidente, eles se sentirão muito melhores do que os europeus", afirmou o porta-voz da Presidência russa, Dmitri Peskov.

Os preços do petróleo voltaram a subir nesta segunda, passando dos US$ 110 o barril.

Os preços da energia e a segurança do abastecimento estão entre os pontos abordados em uma reunião da UE na quinta-feira (24) em Bruxelas, com a presença do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.

Acompanhe o avanço das tropas russas na Ucrânia a cada dia

O presidente americano também participará de uma reunião da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e de uma do G7, em Bruxelas. No dia seguinte, sexta, Biden viaja para a Polônia, onde se encontra com o presidente Andrzej Duda. Na pauta, está o debate sobre uma resposta conjunta à crise humanitária que levou dois milhões de ucranianos ao país vizinho.

Biden foi duramente criticado pela Rússia, depois que o presidente americano classificou Putin como um "criminoso de guerra".

"Este tipo de declaração do presidente americano, que não são dignas de um político de alto escalão, puseram as relações russo-americanas à beira da ruptura", declarou a Chancelaria russa, em um comunicado.

Na Rússia, um tribunal proibiu hoje Facebook e Instagram por suas atividades "extremistas". A medida reforça a tentativa de Moscou de controlar as informações que circulam sobre a ofensiva na Ucrânia.

No domingo, Zelensky voltou a sugerir conversas diretas entre ele e Putin.

Em uma mensagem ao Parlamento israelense, ele agradeceu ao primeiro-ministro Naftali Bennett por seus esforços para mediar as negociações, que, segundo Zelensky, poderiam acontecer em Jerusalém.

Autoridades na Turquia, onde representantes russos e ucranianos fizeram uma rodada de negociações, afirmaram que os dois lados estão perto de chegar a um acordo para acabar com os combates.

Zelensky parece, no entanto, impor algumas condições. "Não é possível simplesmente exigir que a Ucrânia reconheça alguns territórios como repúblicas independentes", declarou ele à emissora americana CNN.

"Ato de terror"

As condições humanitárias são cada vez piores nas regiões de língua russa do sul e do leste da Ucrânia, assim como no norte, perto de Kiev.

Quase dez milhões de ucranianos fugiram de suas casas, informa a ONU, acrescentando que um terço deles partiu para o exterior.

Mariupol sofre a crise humanitária mais grave do conflito. No domingo, Zelensky acusou a Rússia de bombardear uma escola da cidade, onde centenas de pessoas estavam refugiadas, o que ele chamou de "ato de terror".

Na quarta-feira passada, um teatro da cidade que abrigava mais de mil pessoas, conforme as autoridades locais, foi atingido por bombas. Centenas de moradores continuam desaparecidos entre os escombros.

As autoridades de Mariupol afirmam que as forças de ocupação transferiram quase mil residentes à força para a Rússia e recolheram seus passaportes ucranianos, um possível crime de guerra.

Um grupo de crianças bloqueado em uma clínica de Mariupol durante semanas está entre os que foram levados para o território controlado pela Rússia, relataram uma cuidadora e um parente de um funcionário do centro médico, em conversa com a AFP. Com idades entre 4 e 17 anos e em sua maioria órfãos, os 19 menores passaram dias em porões gelados, escondidos dos bombardeios em condições terríveis.


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