União Europeia notifica Reino Unido por violar obrigações no acordo de saída do bloco

União Europeia notifica Reino Unido por violar obrigações no acordo de saída do bloco

Projeto de lei sobre mercados internos estimulado pelo governo britânico e que modifica cláusulas essenciais do acordo assinado no ano passado

AE e AFP

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A União Europeia (UE) anunciou nesta quinta-feira que decidiu iniciar um processo legal contra o governo do Reino Unido por um projeto de lei sobre mercados internos que modifica aspectos do Acordo de Retirada, a norma que define os detalhes do Brexit. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciou em Bruxelas que o bloco vai "enviar uma notificação formal ao governo britânico. Este é o primeiro passo em um procedimento de infração".

Von der Leyen destacou que Londres tem prazo de um mês para "enviar suas observações". A UE menciona o fato de que em 9 de setembro o governo britânico apresentou um projeto de lei que, se adotado, será uma "violação flagrante" do Protocolo sobre a Irlanda e a Irlanda do Norte, e lembra que com isso o país não iria levar em conta o efeito legal de alguns pontos contidos no Acordo de Retirada. O bloco lembra que autoridades do Reino Unido já admitiram a violação, com o argumento de que o propósito era se livrar para sempre de obrigações contidas no protocolo.

O acordo inclui um dispositivo pelo qual esta província britânica deve manter as regras do mercado comum europeu para evitar o retorno de uma fronteira com a vizinha República da Irlanda e preservar a frágil paz que reina na ilha desde o Acordo de Sexta-Feira Santa de 1998. Se as partes não chegarem a um acordo até o final de outubro, fontes europeias consideram que será muito difícil conseguir um entendimento sobre a relação pós-Brexit até o final do ano.

Um porta-voz do governo britânico declarou à imprensa que Londres "responderá no momento apropriado" a notificação formal de Bruxelas. "Precisamos criar uma rede de segurança para proteger a integridade do mercado interno do Reino Unido", justificou o porta-voz. O anúncio foi feito no momento em que europeus e britânicos mantêm em Bruxelas uma complicada negociação para definir como será a futura relação bilateral, mas as declarações de Von der Leyen refletem o pessimismo geral sobre a possibilidade de um entendimento.

"Cláusulas problemáticas"

Para Von der Leyen "a lei, por sua própria natureza, é uma ruptura das obrigações de boa fé estipuladas no acordo. Se for adotada da maneira como está, a lei estará em total contradição com o protocolo para Irlanda e Irlanda do Norte". A UE já havia estabelecido prazo até o fim de setembro para que o governo britânico eliminasse da lei as "cláusulas problemáticas", mas na terça-feira a Câmara dos Comuns do Parlamento aprovou o texto e o enviou para a Câmara dos Lordes.

"O prazo terminou ontem (quarta-feira, 30). Os pontos problemáticos não foram eliminados", lamentou Von der Leyen. Em uma nota oficial, a Comissão recorda que tanto a UE como o Reino Unido são obrigados a "cooperar de boa fé" e a aplicar o Acordo.

Ao promover o projeto de lei, afirma a nota da Comissão, o Reino Unido "violou suas obrigações de atuar de boa fé (...) Além disso, iniciou um processo em que, se a lei for aprovada, impedirá que implementação do Acordo de Retirada". O projeto de lei estimulado pelo governo britânico modifica a aplicação de tarifas e controles alfandegários na Irlanda do Norte, previstos no Acordo de Retirada.

 

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