Ultraconservador Raisi é eleito presidente do Irã

Ultraconservador Raisi é eleito presidente do Irã

Participação a população na eleição foi de 48,8%, a menor mobilização registrada desde a instauração da República Islâmica

AFP

Ultraconservador venceu o pleito com 61,95% dos votos

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O ultraconservador Ebrahim Raïssi venceu a eleição presidencial iraniana com 61,95% dos votos no primeiro turno, segundo os resultados definitivos anunciados neste sábado pelo ministro do Interior, Abdolfazl Rahmani Fazli, um dia após a realização da eleição.

A participação foi de 48,8%, informou o ministro, a menor mobilização registrada para uma eleição presidencial desde a instauração da República Islâmica em 1979.

A oposição iraniana no exílio afirmou, neste sábado, que o "boicote" às eleições presidenciais do país foram "o maior golpe político e social" ao governo teocrático do país. "O boicote provou ao mundo que o único voto das pessoas do Irã é derrubar este governo medieval", disse em um comunicado a líder do Conselho Nacional de Resistência do Irã (NCRI), Maryam Rajavi.

Segundo os dados parciais divulgados anteriormente, o general Mohsen Rezai, ex-comandante chefe dos Guardiões da Revolução - exército ideológico da República Islâmica -, ficou em segundo lugar com mais 11,5% dos votos, à frente do ex-presidente do Banco Central Abdolnaser Hemati (8,3%) e do deputado Amirhosein Ghazizadeh-Hashemi (3,4%).

O guia supremo iraniano, o aiatolá Alí Khamenei, comemorou neste sábado a eleição vencida por Raisi como uma vitória da nação contra a "propaganda do inimigo". "O grande vencedor das eleições de ontem é a nação iraniana, porque se levantou outra vez contra a propaganda da imprensa mercenária do inimigo", disse.

Pouco antes da divulgação dos primeiros resultados oficiais - segundo os quais houve cerca de 14% de votos em branco ou nulos -, o atual presidente Hasan Rohani anunciou que havia um vencedor no primeiro turno, sem nomeá-lo. "Parabenizo o povo pela sua escolha (...). Sabemos quem obteve os votos suficientes nessas eleições e quem foi eleito hoje pelo povo", declarou Rohani, em um discurso televisionado.

Em mensagens no Instagram, Twitter e transmitidas pela mídia iraniana, os três candidatos que enfrentaram Raisi reconheceram a vitória do ultraconservador.

A votação se prolongou consideravelmente até as 02h deste sábado (18h30 de sexta-feira no horário de Brasília) para permitir uma máxima participação em boas condições, levando em conta a pandemia de Covid-19 que deixa oficialmente cerca de 83 mil mortes em uma população de 83 milhões de habitantes.

Chefe da autoridade judicial, Raisi, de 60 anos, era o favorito para esta eleição devido à falta de concorrência após a desqualificação de seus principais adversários. A campanha foi calma, com um clima de mal-estar generalizado entre os cidadãos devido à crise vivenciada por este país rico em hidrocarbonetos, mas submetido a sanções dos Estados Unidos.

Raisi se apresentou como o líder do combate à corrupção e defensor das classes populares que perderam poder aquisitivo pela inflação. Foi o único dos quatro candidatos que fez uma verdadeira campanha eleitoral. "Espero que saiba (evitar a população) das privações", disse à AFP na sexta-feira uma eleitora em Teerã.

Reeleito em 2017 no primeiro turno justamente contra Raisi, que obteve então 38% dos votos, Rohani, um moderado que deixará a presidência em agosto, termina seu segundo mandato com um alto nível de impopularidade. O presidente tem poderes limitados no Irã, onde o poder real está nas mãos do guia supremo.

Raisi está na lista de responsáveis iranianos sancionados por Washington por "cumplicidade em graves violações dos direitos humanos".

Agenda anticorrupção

O presidente eleito do Irã, Ebrahim Raisi, é um homem austero que se apresenta como o defensor das classes desfavorecidas e como o paladino anticorrupção. Presidente da autoridade judicial do país, este "hoyatoleslam" (cargo inferior ao de aiatolá no clero xiita) de 60 anos, um ferrenho ultraconservador, também é um firme defensor da ordem. Seu lema para a eleição de 18 de junho foi o da "luta incessante contra a pobreza e a corrupção".

Esses dois assuntos também ocuparam o centro de sua campanha em 2017, quando obteve mais de 38% dos votos - percentual insuficiente para impedir a reeleição no primeiro turno de Hassan Rohani, líder da corrente "moderada". A Constituição proíbe Rohani de se candidatar mais uma vez.

Nascido em novembro de 1960 na cidade sagrada de Mashad (nordeste), Raisi foi nomeado procurador-geral de Karaj, perto de Teerã, com apenas 20 anos, após a vitória da Revolução Islâmica de 1979. Faz parte da engrenagem judicial há mais de três décadas: procurador-geral de Teerã, de 1989 a 1994; chefe adjunto da Autoridade Judicial, de 2004 a 2014, ano em que foi nomeado procurador-geral do país.

Em 2016, o guia supremo, Ali Khamenei, colocou Raisi à frente da poderosa fundação beneficente Astan-e Qods Razavi, que administra o mausoléu o imã Reza de Mashad e um imenso patrimônio industrial e imobiliário. Três anos depois, Khamenei o nomeou chefe da autoridade judicial.

Aluno do Guia Supremo

Raisi não é um homem muito carismático. Assistiu às aulas de religião e de jurisprudência islâmica do aiatolá Khamenei. De acordo com sua biografia oficial, é professor desde 2018 em um seminário xiita de Mashad. Vários veículos de comunicação iranianos o veem como o possível sucessor do guia supremo, que completa 82 anos em julho. Além disso, é membro da direção da Assembleia de Especialistas, encarregada de nomear o guia supremo.

Casado com Jamileh Alamolhoda, professora de Ciências da Educação na Universidade Shahid-Beheshti em Teerã, com quem teve duas filhas - ambas com diploma de ensino superior -, Raisi é genro de Ahmad Alamolhoda, imã da Oração de Sexta-Feira e representante provincial do guia supremo em Mashad, segunda maior cidade do país.

Graças ao apoio das duas principais coalizões de partidos conservadores e ultraconservadores, ele foi o único dos cinco candidatos ultraconservadores a angariar amplo suporte no movimento conservador. Trata-se de um grupo muito diverso, ou mesmo fragmentado.

Provavelmente consciente de que precisa unir uma sociedade iraniana dividida no tema das liberdades individuais - no qual Rohani causou tantas decepções quanto as promessas que fez -, ele jurou, porém, tornar-se um defensor da "liberdade de expressão", dos "direitos fundamentais de todos os cidadãos iranianos" e da "transparência".


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