Unesco retira Cidade Mercantil Marítima de Liverpool da lista de Patrimônios Mundiais

Unesco retira Cidade Mercantil Marítima de Liverpool da lista de Patrimônios Mundiais

Por margem apertada, órgão votou pela remoção, alegando preocupações com o excessivo desenvolvimento imobiliário na região

AFP

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A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) aprovou nesta quarta-feira, por uma estreita margem de votos, a retirada da Cidade Mercantil Marítima de Liverpool de sua lista de Patrimônio Mundial. A agência alega preocupações com o excessivo desenvolvimento imobiliário na região, incluindo planos para um novo estádio de futebol. O governo britânico reagiu imediatamente e disse estar "extremamente decepcionado" com o anúncio.

"Estamos extremamente decepcionados com esta decisão e acreditamos que Liverpool continua merecendo seu 'status' de Patrimônio da Humanidade, dado o importante papel que seu porto desempenhou na história e na cidade em geral", afirmou um porta-voz do governo.

Cinco delegados do comitê presidido pela China votaram contra a retirada, e 13 a favor, apenas um a mais do que a maioria de dois terços necessária para remover um sítio da lista mundial. Com isso, esta histórica orla marítima no noroeste da Inglaterra, emblemática da era industrial e incluída na lista em 2004, é a terceira propriedade a perder o status de Patrimônio Mundial. Antes, foram o Vale do Elba em Dresden (Alemanha) e do Santuário de Oryx Árabe (Omã).

O plano de construção de um novo estádio do clube de futebol Everton foi aprovado pelo Executivo sem qualquer consulta pública e "é o exemplo mais recente de um grande projeto que é completamente contrário" aos objetivos da Unesco, acrescentou. "O local foi inscrito na Lista do Patrimônio Mundial em 2004 e na Lista do Patrimônio Mundial em Perigo em 2012 devido a preocupações sobre o desenvolvimento proposto de Liverpool Waters. Desde então, o projeto avançou junto com outros desenvolvimentos tanto dentro do local quanto em sua zona tampão. O Comitê considera que estas construções prejudicam a autenticidade e integridade do site", avaliou a Unesco em comunicado.

O centro histórico e as docas de Liverpool testemunham o desenvolvimento de um dos maiores centros comerciais do mundo nos séculos 18 e 19. O local também ilustrou desenvolvimentos pioneiros em tecnologia moderna de docas, sistemas de transporte e gerenciamento portuário. "Qualquer exclusão da Lista do Patrimônio Mundial é uma perda para a comunidade internacional e para os valores e compromissos compartilhados internacionalmente sob a Convenção do Patrimônio Mundial", disse a entidade.

Durante dois dias de debates, alguns delegados argumentaram que os planos urbanísticos, os quais incluem a construção de prédios altos, "vão danificar irreversivelmente" o patrimônio do histórico porto. O Conselho Internacional de Monumentos, que assessora a Unesco na lista do patrimônio, disse ter solicitado ao governo britânico, "em repetidas ocasiões", que apresentasse garantias mais sólidas sobre o futuro da cidade.

Antes do anúncio de hoje, a ministra britânica da Cultura, Caroline Dinenage, havia declarado ao comitê que seu governo leva muito a sério a preservação das características de Liverpool, afirmando que esta exclusão "representaria uma grande perda".

Vários países apoiaram o Reino Unido, concordando em que seria um passo "radical" em meio à pandemia do coronavírus. Também pediram que se desse mais tempo para uma Câmara Municipal recém-eleita, em maio passado. Entre os países que se opuseram à retirada, está a Austrália, cuja Grande Barreira de Corais também está ameaçada de exclusão nas deliberações da Unesco deste ano. Também votaram contra Brasil, Hungria e Nigéria, para os quais qualquer medida deveria ser adiada por um ano, de modo a dar mais tempo às autoridades do Reino Unido e de Liverpool.

Já a Noruega liderou os países críticos, defendendo que, embora esteja "dolorosamente consciente" dos conflitos entre o desenvolvimento e a conservação do patrimônio, é possível alcançar um "delicado equilíbrio" - algo "inexistente" nesta cidade inglesa, berço dos lendários Beatles.


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