Venezuela sofre novas sanções e restrição de vistos dos EUA

Venezuela sofre novas sanções e restrição de vistos dos EUA

Governo norte-americano revogou 77 vistos de venezuelanos, incluindo funcionários de Maduro

AFP

Governo norte-americano revogou 77 vistos de venezuelanos

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O governo da Venezuela ordenou nesta quarta-feira a expulsão do embaixador alemão devido ao seu apoio ao líder opositor Juan Guaidó, sob forte pressão internacional encabeçada pelos Estados Unidos, que anunciou novas sanções para asfixiar o regime do presidente Nicolás Maduro. O governo de Donald Trump revogou 77 vistos de venezuelanos próximos a Maduro e advertiu "às instituições financeiras estrangeiras que enfrentarão sanções" se facilitarem "transações ilegítimas que beneficiem" o governo venezuelano.

"Os Estados Unidos vão revogar 77 vistos, inclusive os de muitos funcionários do regime de Maduro e suas famílias. Continuaremos fazendo o regime de Maduro prestar contas até que a liberdade se restabeleça na Venezuela", disse nesta quarta o vice-presidente americano, Mike Pence. Com estes cancelamentos, são mais de 250 os vistos para venezuelanos restritos desde 2017.

Washington também exigiu a "libertação imediata" do jornalista americano Cody Weddle, colaborador de vários veículos de comunicação americanos. Weddle e seu ajudante venezuelano, Carlos Camacho, foram detidos na quarta-feira em Caracas pela contra-inteligência militar e passaram cerca de 12 horas em poder das autoridades. O jornalista americano será deportado nesta quinta-feira.

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Mais cedo, a Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, destacou que a crise foi "exacerbada pelas sanções" internacionais e anunciou o envio de uma delegação à Venezuela na semana que vem. Tentando contrabalançar a investida internacional, o governo da Venezuela declarou o embaixador Daniel Kriener persona "non grata" e determinou que deixe o país em 48 horas, devido às suas "recorrentes atos de ingerência nos assuntos internos". "Esta é uma decisão incompreensível, que agrava a situação e não contribui para a distensão. Nosso apoio, o apoio da Europa, para Juan Guaidó permanece intacto", assegurou o ministro alemão das Relações Exteriores, Heiko Maas.

Kriener esteve no grupo de diplomatas que receberam na segunda-feira passada no aeroporto internacional Guaidó, reconhecido como presidente encarregado da Venezuela por mais de 50 países, quando retornava de uma viagem pela América do Sul por ter burlado uma proibição de saída do país.

"Os únicos 'non gratae' são vocês"

Ao saber da decisão, enquanto presidia um debate no Congresso de maioria opositora, Guaidó assegurou que a expulsão de Kriener deve "ser tomada como uma ameaça pelo mundo livre". "O único non grata na Venezuela, na região, no mundo (...) senhores usurpadores, os únicos non gratae são vocês neste país. Estão ameaçando quem ajuda o país", assegurou o também líder parlamentar, de 35 anos.

Até agora, a decisão só afeta o embaixador alemão, apesar de também terem estado no aeroporto os representantes de Brasil, França, Canadá, Holanda, Portugal, Romênia, Espanha, Argentina, Chile, Peru, Equador e Estados Unidos. Parte da comunidade internacional temia que Guaidó fosse detido ao chegar à Venezuela, de onde saiu furtivamente em 22 de fevereiro para pressionar sem sucesso pela entrada de alimentos e remédios pela Colômbia doados pelos Estados Unidos.

"O governo de Maduro se vê cada vez mais encurralado. Isto vai esfriar mais as relações entre a Venezuela e a União Europeia, aumentando o isolamento do governo", afirmou à AFP Diego Moya-Ocampos, do IHS Markit (Londres). Para o internacionalista Mariano de Alba, Maduro busca enviar uma mensagem à comunidade internacional de "que um apoio tão frontal a Guaidó teria consequências". "Mas também representa um risco porque o governo da Alemanha poderia agora desafiar a decisão como têm feito de alguma maneira os Estados Unidos, depois do rompimento de relações diplomáticas anunciado por Maduro no fim de janeiro", acrescentou.

A Venezuela advertiu que "não permitirá a intromissão em assuntos internos", ao considerar "inaceitável" que um diplomata se comporte como "um dirigente político em claro alinhamento com a agenda de conspiração de setores extremistas da oposição".

"Avancemos com força"

Antes de retornar a Caracas, o presidente tinha declarado que Guaidó teria que enfrentar a justiça, de linha oficialista, como parte de uma investigação por "usurpação de funções". Na terça-feira, o presidente socialista minimizou as ações da oposição e pediu aos seguidores do governo e a força armada a não cair nas "provocações" e se unir para enfrentar uma "minoria enlouquecida".

Ao voltar para o país, Guaidó convocou seus seguidores a realizar no sábado manifestações multitudinárias em toda a Venezuela para manter a pressão contra Maduro. "No sábado voltaremos a marchar para exigir a liberdade da Venezuela, o retorno dos entes queridos, a entrada da ajuda humanitária, avancemos com força determinante", assegurou o opositor, que disse apoiar também uma greve escalonada do setor público, proposta por sindicatos. Como é habitual, Maduro também convocou "manifestações anti-imperialistas" para o sábado, quando se completarão quatro anos desde que o ex-presidente americano Barack Obama impôs as primeiras sanções a funcionários venezuelanos.


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