Adolescentes confessam assassinato de taxista

Adolescentes confessam assassinato de taxista

Corpo de Ermínio Vieira da Silva foi enterrado nesta quarta no Cemitério Municipal Santo Antônio

Franceli Stefani

Corpo de Ermínio Vieira da Silva foi enterrado nesta quarta no Cemitério Municipal Santo Antônio

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Os dois adolescentes de 15 e 17 anos confessaram, na noite dessa terça-feira, durante depoimento prestado na 2ª Delegacia de Polícia de Gravataí, o assassinato do taxista Ermínio Vieira da Silva, 39 anos. Acatando o pedido feito pelo delegado Gustavo Bermudes Menegazzo da Rocha, o Ministério Público (MP) pediu a internação provisória dos detidos pelo ato infracional de latrocínio. A representação foi assinada pelo promotor Octavio Cordeiro Noronha. O Juizado da Infância e Juventude da cidade informou que o processo corre em segredo de justiça e nenhuma informação foi repassada.

De acordo com Bermudes, eles detalharam como abordaram a vítima e cometeram o delito. Os menores, moradores de Osório, teriam vindo até Porto Alegre, na segunda-feira, já com o intuito de roubar um carro e “dar umas bandas”. No mesmo dia, pediram a corrida até Santo Antônio da Patrulha, no Litoral Norte, para vários profissionais na Estação Rodoviária da capital, porém nenhum aceitou. Diante da negativa, chegaram em Silva e solicitaram uma viagem até Gravataí. Sem saber dos pedidos anteriores, a vítima aceitou.

Frieza do crime



A frieza dos adolescentes chamou atenção do delegado. O motorista só foi informado que se tratava de um assalto no entrocamento com a ERS 118, após um deles ter pedido que parasse o automóvel para urinar. O adolescente de 15 anos, então, deu um mata-leão no condutor, enquanto o comparsa socava o rosto do homem. As agressões seguiram por cerca de 10 minutos.

Ao perceber que ele havia desmaiado, arremessaram o corpo para fora e arrancaram, passando por cima da face da vítima. “Eles disseram que ele teria esboçado uma reação, tentando se liberar com o uso de uma faca, porém ela não foi encontrada e os menores não souberam informar onde ela estava. Acreditamos que seja uma tese de defesa”, ponderou.

Os infratores seguiram rumo ao litoral pela freeway. Na altura de Santo Antônio da Patrulha o veículo ficou sem combustível e foi abandonado às margens da rodovia, sendo encontrado pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) às 10h40min da terça-feira, bastante ensaguentado. “Os dois fugiram e acabaram sendo detidos pela Brigada Militar por volta das 17h do mesmo dia. Eles praticaram um delito muito grave, que choca todo mundo, até quem está acostumado a lidar com a violência”, declarou.

Quando os dois foram apreendidos havia sangue da vítima nos bonés e camisetas que usavam. “Eles demonstraram muita crueldade, nenhum remorso ou arrependimento. Ambos não possuem ocupação, um deles estuda e o outro não frequenta nenhum colégio. São oriundos daquela vulnerabilidade que temos acompanhado crescente nas famílias brasileiras. Desocupados, acabam cometendo essas atrocidades”, lamentou.

Despedida comovente

“Tiraram meu filho de mim. Um pai de família deixou três filhos, sendo uma criança de três anos. Ele não merecia isso. Levassem o carro, o telefone, mas deixasse ele vivo.” As palavras emocionadas da mãe de quatro filhos, Adir Marisa Talasca da Silva, 70 anos, representam a tristeza com que amigos, familiares, conhecidos e colegas enterraram o taxista no Cemitério Municipal Santo Antônio, na avenida Santos Ferreira, no bairro Nossa Senhora das Graças.

"Só quero que a justiça seja feita. Ver tanta gente se despedindo dele demonstra que deixou muitos amigos", afirmou ela, agradecendo a presença de cada um no local. O corpo do homem foi acompanhado por mais de uma centena de motoristas de táxi e aplicativos que se uniram para protestar contra o crime e apelar por mais segurança.

Foto: Mauro Schaefer

Morando em Santa Catarina, o cunhado da vítima, Rovani Luiz, 50 anos, disse que recebeu a notícia do latrocínio através de um grupo de WhatsApp. “Era um homem tão tranquilo, um bom pai e companheiro. Ser agredido e assassinado dessa maneira é muito triste”, lamentou. Ele, que também é motorista de aplicativo, conta que recebeu a imagem do rosto ferido de Silva. “Sabemos que a criminalidade está elevada, eu mesmo já perdi amigos e colegas vítimas da violência. Esperamos que a Justiça seja feita, foi uma brutalidade.”

Desejo de mais segurança

O tom consternado esteve na fala de cada um que participou da despedida. O desejo de mais segurança uniu os profissionais que trabalham nos táxis e também na Uber, Cabify e 99, além de outros. “Esse momento é histórico, um exemplo para o Brasil. Não vamos brigar, vamos nos ajudar. Todos trabalham porque precisam. As plataformas deram oportunidade para quem estava sem emprego. Ano passado nós perdemos 13 colegas que atuam nos aplicativos, agora, mais um colega. Que acabe por aqui”, disse o condutor Fabiano Bragança.

Muito emocionado, o funcionário público João Pereira, 45 anos, era amigo de infância de Ermínio. De acordo com ele, a presença de tantas pessoas demonstram o quão querido era Ermínio e a necessidade que a comunidade tem por mais segurança. “Me criei desde pequeno perto dele. Era como um irmão para mim. Me orgulho de ter sido taxista, ter exercido a profissão e por ter tanta gente neste momento”, afirmou. O motorista de aplicativo José Carlos Vieira ressaltou a união da categoria. “Eu fui 30 anos taxistas, espero que a partir de hoje estejamos todos juntos pela segurança.”

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