Associação afirma que conselheiros tutelares de Alvorada não recebem capacitação desde 2019

Associação afirma que conselheiros tutelares de Alvorada não recebem capacitação desde 2019

Aconturs acompanha o caso da morte de Mirella Dias Franco, de três anos, e suspeita de omissão por parte de um integrante do CT da cidade

Correio do Povo

Barbearia do companheiro da mãe da criança foi destruída durante protesto

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O presidente da Associação dos Conselheiros e Ex-Conselheiros Tutelares do Estado (Aconturs), Jeferson Careca, afirmou nesta sexta-feira que os atuais dez integrantes do CT de Alvorada nunca receberam o treinamento previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). “O município não tem feito a capacitação dos conselheiros há muito tempo. Desde 2019, a prefeitura não financiou e pagou nenhuma capacitação”, declarou.

A Prefeitura de Alvorada rebateu a acusação e emitiu uma nota oficial. "Em novembro de 2019, antes de tomarem posse, os conselheiros tutelares eleitos e os respectivos suplentes participaram de curso de capacitação ocorrido no Foro do Município, com a participação do Juizado da Infância e Juventude, Ministério Público, Secretarias Municipais, CAPS I e palestrantes. No corrente ano, houve a participação dos conselheiros tutelares em dois cursos ministrados na Assembleia Legislativa do Estado, ocorridos nos meses de março e maio, com a participação do conselheiro tutelar afastado", esclareceu no comunicado.

“Não justifica, mas ao mesmo tempo ajuda a explicar”, observou, referindo-se à acusação contra um conselheiro tutelar de Alvorada de que não teria apurado a denúncia de maus-tratos contra a menina Mirella Dias Franco, de três anos de idade, que chegou morta no dia 31 de maio na Unidade Básica de Saúde no bairro Jardim Aparecida. A criança apresentava hematomas e lesões pelo corpo.

A Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) de Alvorada apura se esse conselheiro tutelar, já afastado das atividades, teria mentido ao depor e dito que esteve na casa da família para verificar a denúncia, além de forjar documentos sobre o caso.



“A gente recebeu a notícia com muita tristeza e indignação. Sendo comprovada a omissão do colega, a gente recebe com indignação”, declarou Jeferson Careca. A Aconturs pretende reunir-se com ele ainda nesta sexta-feira para tratar da questão. “Ele nega e disse que são mentiras, que a história é outra…”, adiantou.

Jeferson Careca defendeu uma melhor capacitação dos integrantes dos CTs, pois sem ela os conselheiros tutelares “acabam aprendendo no meio do fogo”. Ele propôs também que os requisitos para ingresso obedeçam uma regra geral, citando como exemplo a exigência mínima de dois anos de atividade na área de atendimento de crianças e adolescentes. “As pessoas têm que realmente ter um trabalho com crianças e ter comprovadamente empatia em ajudar as pessoas”, frisou. “Alguns municípios não têm esse requisitos”, observou.

Os conselheiros tutelares são eleitos mediante votação da comunidade. Jeferson Careca constatou que muitas pessoas votam nos candidatos por que “um vizinho ou amigo indicou” ou “às vezes tem envolvimento político partidário”. De acordo com o presidente da Aconturs, a adoção de requisitos gerais está sendo discutida na Câmara de Deputados, em Brasília. “Tem que ter requisitos de mais qualificação”, enfatizou. A Aconturs conta com 2.635 conselheiros tutelares em todo o RS.

Por fim, ele explicou como o caso de Mirella deveria ter sido atendido. “A partir do momento em que a denúncia chegou, o CT já podia ter aplicado uma medida de proteção, que é o afastamento do convívio familiar e a suspensão do poder familiar. O CT pode agir na suspeita, que já motivaria a afastar a criança da casa e poderia entregá-la até para o avô que estava sendo protetivo e levando-a ao médico. Isso não foi feito pelo CT”, lamentou.

A mãe de Mirella e o padrasto da menina foram presos na manhã de sábado passado, durante o cumprimento de dois mandados judiciais de prisão preventiva pelo crime de tortura-castigo com resultado morte. No bairro Guajuviras, em Canoas, os agentes detiveram a mãe, de 24 anos. Já o padrasto, de 27 anos, foi encontrado em Palhoça, em Santa Catarina. No dia 31 de maio passado, ele apareceu com a criança desfalecida na Unidade Básica de Saúde no bairro Jardim Aparecida, em Alvorada.


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