Bolsonaro troca direção da PF pela 4ª vez e nomeia delegado ligado a ministro

Bolsonaro troca direção da PF pela 4ª vez e nomeia delegado ligado a ministro

Márcio Nunes de Oliveira substitui Paulo Maiuirino na corporação

AE

De Oliveira trabalhou com Ministro da Justiça

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A cerca de sete meses da eleição presidencial, a Polícia Federal teve mais um diretor-geral demitido pelo governo Jair Bolsonaro. O delegado Paulo Maiurino, com apenas dez meses no cargo, foi exonerado, em uma decisão que pegou de surpresa a classe de delegados. Na quarta substituição de diretor-geral no mandato de Bolsonaro, a PF passará a ser comandada por um homem de confiança do atual ministro da Justiça, Anderson Torres, o delegado Márcio Nunes de Oliveira.

A mudança traz novamente à tona a sombra da interferência política na PF e confere maior poder a Torres, amigo pessoal do presidente da República. Torres havia aceitado o nome de Maiurino, mas não foi uma escolha sua.

Márcio Nunes de Oliveira ingressou na Polícia Federal na mesma geração de Anderson Torres e era atualmente o seu braço direito no Ministério da Justiça, no cargo de secretário executivo. Agora ex-diretor da PF, Maiurino foi nomeado para chefiar a Secretaria Nacional de Política sobre Drogas (Senad). As mudanças foram confirmadas em edição extra do Diário Oficial da União (DOU), ontem. A portaria foi assinada pelo ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira.

Delegados ouvidos reservadamente pela reportagem disseram que a troca foi inesperada, pois não havia rumores de mudança. A gestão de Maiurino no comando da corporação, porém, tinha sofrido desgastes internos e perante a opinião pública. De um lado, ele foi criticado por exonerações de delegados cuja atuação havia incomodado o Planalto.

Um dos afastados por ele foi o superintendente da PF no Distrito Federal, Hugo de Barros Correia, em um momento em que delegados lotados nesta unidade avançavam em investigações sobre aliados de Bolsonaro e o quarto filho do presidente, Jair Renan.

Delegados também não receberam bem a nota pública em que a PF respondeu às críticas do candidato a presidente Sérgio Moro (Podemos), ex-ministro da Justiça nos primeiros 16 meses do governo Bolsonaro e ex-juiz da Lava Jato. Pivô do inquérito do Supremo Tribunal Federal que apura se Bolsonaro tentou interferir politicamente na PF, Moro disse que o órgão não investiga mais grandes casos de corrupção.

Em nota aprovada por Maiurino, a corporação disse que Moro mentiu e que a PF não deve ser usada como "trampolim eleitoral". A percepção entre delegados foi a de que o diretor perdeu a mão, absorvendo uma crítica de um político com pretensões eleitorais.

O ministro Anderson Torres não explicou o motivo da demissão de Maiurino, na mensagem que publicou nas redes sociais sobre a troca no comando da PF. Torres escreveu que "convidou" Maiurino para assumir a "relevante função de secretário da Senad". Disse também que o novo diretor-geral da PF, Márcio Nunes de Oliveira, deixa um "grande legado" como secretário executivo do Ministério da Justiça.

O novo diretor-geral é afinadíssimo com Torres. Márcio Nunes foi superintendente da Polícia Federal no Distrito Federal e é respeitado dentro da instituição. Diferente de Torres e de Maiurino, fez carreira predominantemente na PF. O ministro e o ex-diretor-geral passaram a maior parte dos últimos dez anos em cargos de comissão no Executivo ou no Legislativo.

Maiurino é o terceiro diretor-geral afastado em apenas três anos e dois meses de governo Jair Bolsonaro, o que indica instabilidade em um órgão crucial para o Palácio do Planalto. Antes dele, os delegados Maurício Valeixo (na gestão de Moro como ministro da Justiça) e Rolando Alexandre de Souza ocuparam a cadeira número 1 da PF. Entre tais nomes, o delegado Alexandre Ramagem chegou a ser nomeado para o cargo, mas sua posse acabou suspensa por ordem do Supremo Tribunal Federal.


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