Caso Bernardo completa três anos

Caso Bernardo completa três anos

Julgamento de crime ocorrido em Três Passos ainda não tem data para ocorrer

Jessica Hübler e Henrique Massaro

Julgamento da morte de Bernardo ainda não tem data para ocorrer

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*Com informações dos repórteres Agostinho Piovesan e Renato Oliveira 

Há exatamente três anos ocorria um dos crimes que mais chocou o Rio Grande do Sul e o País: o assassinato do menino Bernardo Uglione Boldrini, de apenas 11 anos. O crime, que ocorreu em Três Passos, na região Noroeste do Estado, chamou a atenção e ficou marcado pela situação de abandono em que o menino vivia e a crueldade da sua execução, que teria sido praticada por aqueles que deveriam protegê-lo: o pai, o médico Leandro Boldrini, e a madrasta da vítima, Graciele Ugulini. Além disso, são réus no caso Edelvânia Wirganovicz, amiga de Graciele, e Evandro Wirganovicz. Eles teriam ajudado na ocultação do corpo do menino.

Desde que o processo judicial teve início, há três anos, foram diversas as tramitações. O fato mais recente foi a decisão da presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministra Laurita Vaz, de negar o recurso da defesa do pai de Bernardo, Leandro Boldrini, que pedia a anulação da sentença que levava os réus a júri popular. Assim, por enquanto, os quatro réus deverão ser julgados pelo Tribunal do Júri, ainda sem data marcada para ocorrer, onde os jurados decidirão se são culpados ou inocentes.

Atualmente, os quatro encontram-se presos, à espera do julgamento. Leandro Boldrini está na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (PASC). Graciele e Edelvânia, na Penitenciária Feminina Madre Pelletier, em Porto Alegre; e Evandro, no Presídio Estadual de Três Passos. Desde o início do processo, já foram ouvidas 25 testemunhas de acusação e 28 de defesa na fase de instrução do processo.

O dia 4 de abril corresponde à data em que o menino de 11 anos desapareceu, como o caso foi tratado inicialmente. A descoberta do corpo e a confirmação do crime ocorreram 10 dias depois do desaparecimento. Ele estava dentro de um saco plástico enterrado em uma cova rasa, às margens de um rio na Linha São Francisco, no município de Frederico Westphalen, localizado cerca de 80 quilômetros de distância de Três Passos. A descoberta só foi possível porque Edelvânia, amiga de Graciele, confessou o crime e sinalizou o local onde havia sido feita a desova do corpo.

Nas investigações, a Polícia Civil concluiu que o menino morreu em consequência de uma superdosagem do sedativo Midazolan, que teria sido aplicado por Graciele Ugulini (madastra) e Edelvânia Wirganovicz, amiga de Graciele. Além disso, o sedativo teria sido comprado com uma receita supostamente assinada pelo pai dele, tendo, aparentemente, como motivação o ciúme que a madrasta tinha do menino. No inquérito consta que o pai do menino, Leandro, foi o mentor de todo o crime.

Eles são acusados pelos crimes de ocultação de cadáver. Leandro e Graciele, especificamente, respondem por homicídio quadruplamente qualificado, Edelvânia por homicídio triplamente qualificado e Evandro de homicídio duplamente qualificado. Boldrini ainda vai responder por falsidade ideológica, conforme denúncia do Ministério Público.

Celebrações 


Uma corrente de oração às 18h30min, nesta terça-feira, em frente à casa onde residia com o pai e a madrasta, na rua Gaspar Silveira Martins, em Três Passos, na região Noroeste do RS, lembrará os três anos da morte do menino Bernardo Boldrini. As homenagens ao menino tiveram início no final de semana passado. No sábado, ocorreu uma missa na Matriz de Três Passos, com a participação de centenas de pessoas.

Atualmente, as grandes em frente à casa dos Boldrini estão enfeitadas com flores, fotos, cartazes e banners. As manifestações se relacionam com a necessidade de se ‘fazer justiça’. Diariamente pessoas de outras regiões do Estado e do país que passam pela região Celeiro visitam a residência ondeo menino vivia.

O Colégio Ipiranga, localizado no Centro de Três Passos, onde Bernardo estudava, preferiu não se manifestar sobre o caso, mas a diretoria informou que irá realizar uma celebração interna, para os alunos, “como uma espécie de oração para ele (Bernardo)”, para homenagear o menino que perdeu a vida há três anos.

As homenagens não vão ocorrer apenas em Três Passos. Às 19h está prevista uma missa em memória aos três anos da morte do menino na Igreja de Fátima, na avenida Presidente Vargas, no município de Santa Maria, região central do Estado. A homenagem terá a presença da avó de Bernardo, Jussara Uglione, que reside na cidade onde Bernardo antes de morrer passava as férias.

Delegada

Três anos depois, a delegada Caroline Bamberg, que foi a principal responsável pela investigação do Caso Bernardo, acredita que mesmo que o julgamento ainda não tenha ocorrido, a Justiça já está sendo feita. “Todos estão presos há três anos sem julgamento, o que não é muito comum no nosso país”, afirmou Caroline. Para ela, a esperança é de que o caso seja julgado logo, colocando fim ao processo. “Espero que o resultado do julgamento saia o quanto antes”, ressaltou.

Segundo Caroline, não há dúvidas de que os quatro acusados são culpados pelo assassinato de Bernardo Boldrini. “Não tenho dúvida nenhuma disso, todos são culpados, com certeza. Esperamos que a data do julgamento seja marcada logo, para que eles sejam levados ao júri”, destacou. Conforme a delegada, o julgamento demora para acontecer por conta do que ela chama “Direito no Brasil”. “Cabem muitos recursos, o nosso Direito dá muita abertura, o que acaba atrapalhando. Espero que isso se defina logo”, disse.

O Caso Bernardo foi, sem dúvida, o mais marcante da carreira da delegada, também o que a levou a uma promoção. “Em virtude de toda a questão e a visibilidade que o caso teve, foi um fato marcante. Fui reconhecida pelo trabalho realizado e fui promovida - ao posto de delegada regional -, mas agora, só espero que o resultado do julgamento saia logo”, pontuou.

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