Deficiências e carências do CBMRS são discutidas em audiência na Assembleia Legislativa
Reunião contou com as presenças das viúvas dos dois bombeiros militares no incêndio e desabamento do prédio da SSP, em Porto Alegre
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As deficiências e carências do Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Sul (CBMRS) marcaram na manhã desta segunda em mais uma audiência da Comissão de Representação Externa da Assembleia Legislativa, que acompanha as investigações sobre o incêndio e desabamento do prédio da Secretaria da Segurança Pública. Entre os problemas citados estão a falta de efetivos e equipamentos, como escadas de longo alcance, máscaras com cilindros de oxigênio para todos os bombeiros, falta de radiocomunicadores e sinalizador de localização para cada integrante.
A tragédia, ocorrida na noite de 14 de julho passado, deixou mortos o 1º tenente Deroci de Almeida Costa, 46 anos, e o 2º Sargento Lúcio Ubirajara de Freitas Munhós, 51 anos. As viúvas das vítimas, respectivamente Alessandra Ceci dos Santos e Katia de Mesquita Munhós, prestaram depoimento presencial na reunião presidida pela deputada estadual Luciana Genro (PSOL) e transmitida ao vivo no canal do Legislativo no YouTube.
As viúvas falaram da demora e dificuldade nos trâmites relativos às contas bancárias, pensões e seguros de vida, entre outros, após as mortes dos maridos. Elas também manifestaram a dor que permanece pela perda dos companheiros.
“O objetivo da nossa comissão é acompanhar as investigações e propor medidas que possam evitar novas tragédias como esta e que venham a acontecer, além de averiguar o acolhimento que o Estado está dando à Alessandra e à Kátia”, explicou a deputada Luciana Genro.
“Nosso trabalho é chamar a atenção para esses problemas e buscar soluções do ponto de vista legislativo para que possamos apresentar modificações que venham minorar estas dificuldades e também fortalecer o trabalho do CBMRS”, acrescentou. “Temos uma dívida com eles...heróicos bombeiros. Não foi apenas um acidente. Isto precisa ter um olhar mais atento”, enfatizou a deputada estadual.
“Esta tragédia só veio para afirmar o que a gente já sabe: a falta de estrutura e equipamentos do Corpo de Bombeiros! Eu sei que já melhoraram, mas falta muito para dizer que é o ideal”, disse Katia de Mesquita Munhós em seu depoimento.
Ela recordou que, no incêndio da SSP, tinha uma escada que atingia quatro andares para um prédio de nove pavimentos, e apontou que foi preciso até apoio de bombeiros voluntários de outras cidades. Constatou ainda que nada funcionou no prédio da SSP, como rede hidráulica, extintores de incêndio e iluminação de emergência.
Katia de Mesquita Munhós manifestou gratidão ao efetivo do CBMRS. “Trabalharam incansavelmente e brigaram para não ter que sair do local….Eles fizeram muito com pouco….Homens e mulheres merecem ser reconhecidos e ter uma estrutura muito melhor para que não corram o mesmo risco que nossos maridos correram e não voltaram para casa...”, afirmou. “Peço que tenham mais atenção ao CBMRS, porque é a vida de toda a população que está em risco”, concluiu.
Alessandra Ceci dos Santos também espera que mude a situação do CBMRS. “O que aconteceu no dia 14 foi uma sucessão de falhas”, resumiu, ressaltando que os dois bombeiros militares foram surpreendidos com o desabamento antes do previsto. “Algo deu errado, não importando toda a experiência e técnica...Essas falhas precisam ser revistas”, assegurou.
Ela defendeu que os planos de prevenção de incêndio também existam nos órgãos públicos e não apenas nos prédios particulares, “Não podemos esperar que mais uma tragédia aconteça para que as coisas mudem”, alertou.
“Não ter um rastreador para procurá-los dentro de um prédio em chamas…a gente não pode admitir algo assim.. são coisas que precisa melhorar sim….”, desabafou Alessandra Ceci dos Santos. “O CBMRS é uma corporação digna...realmente são corajosos, destemidos e camaradagem ímpar, mas precisamos que tenham estrutura e condições”, complementou.
As advogadas da Associação de Bombeiros do Estado do Rio Grande do Sul (Abergs) estiveram presentes na audiência.
Com a palavra, a SSP
A Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP) afirmou em nota, nesta segunda-feira, que junto com suas instituições vinculadas têm colaborado com a comissão externa da Assembleia, prestando todos os esclarecimentos até então solicitados. A pasta espera que a apuração contribuia nas demais investigações já conduzidas por inquérito da Polícia Civil, pelo inquérito policial militar do Corpo de Bombeiros Militar e pela Comissão de Sindicância Administrativo-Disciplinar, presidida pela PGE.
Em relação aos equipamentos do CBMRS, a SSP reforçou que durante o combate ao incêndio e busca e resgate no prédio, foram utilizados mais de 15 caminhões de combate, e uma média de 90 servidores por dia, além de seis equipes de busca com cães.
"Ao longo de toda a operação, o CBMRS disponibilizou com recursos próprios toda alimentação e alojamento para os bombeiros. Em parceira com a Cruz Vermelha, também havia um posto 24 horas para atendimento psicológico dentro do terreno de operações, e os servidores que atuaram nas ações seguem tendo acompanhamento de saúde mental", aponta trecho da nota.
A nota reforçou ainda que os profissionais tinham equipamentos necessários para proteção. "Todos os bombeiros militares dispõem de equipamento de proteção individual, que inclui capacetes e lanternas de uso pessoal, bem como luvas, balaclava, calça, capa e botas de proteção importadas, de última geração, além do equipamento de proteção respiratório autônomo (EPR)"
De acordo com a SSP, o Corpo de Bombeiros Militar dispõe de uma auto escada mecânica, com alcance de 30 metros, que foi fundamental para a ações de combate a incêndio e busca e resgate no prédio da SSP. "Ainda antes do sinistro, já estava em andamento a aquisição de uma nova auto escada mecânica, com alcance de 42 metros, em uma licitação internacional no valor de R$ 8,5 milhões, vencida por uma empresa espanhola. O equipamento está em processo de fabricação e deve ser entregue à corporação no final de 2022", destacou.
"O próximo passo era a execução das medidas de segurança contra incêndio aprovadas e posteriormente ser solicitada a vistoria do CBMRS para a emissão do Alvará de Prevenção e Proteção Contra Incêndio - APPCI", disse a pasta em relação ao PCCI, que foi aprovado pelo CBMRS em 06 de junho de 2018.
"Quando o incêndio ocorreu, estavam justamente em execução as medidas previstas no plano. Já havia sido executada a substituição e colocação de todos os extintores. Todas as sinalizações e iluminação de emergência, instalação dos sensores de fumaça, da marca Firebee, uma das melhores no mercado, e foram trocadas todas as mangueiras dos hidrantes. Estava em andamento a substituição dos motores de pressurização, sistema de exaustão de fumaça das escadas de incêndio e casa de máquinas para os motores", afirma a nota.