Facção do Vale do Rio dos Sinos possuía uma espécie de "banco" para socorro financeiro
Descoberta ocorreu durante investigação da megaoperação Kraken da Polícia Civil
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A Polícia Civil descobriu que a facção criminosa do Vale do Rio dos Sinos, atingida pela megaoperação Kraken na terça-feira passada, possuía uma espécie de “banco” para socorro financeiro. Na manhã desta terça-feira, o diretor da 2ª Delegacia de Polícia Regional Metropolitana (2ª DPRM), delegado Mário Souza, explicou como operava o esquema com dinheiro armazenado. O trabalho investigativo foi realizado com a 1ª DP de Sapucaia do Sul, chefiada pelo delegado Gabriel Borges,
“O que apareceu na investigação é que a organização tinha recursos e eventualmente, dentro da atividade criminosa, caso fosse necessário, fazia retirada para pagar dívidas, comprar drogas e armas, entre outras finalidades”, afirmou. “Eles pegavam estes valores”, enfatizou.
Já o delegado Gabriel Borges declarou também que a organização criminosa possui um código interno de condutas para os integrantes. “Seria uma espécie de conjunto de regras internas da facção que eles respeitavam e baseavam a sua atividade”, resumiu.
“Este código interno tinha, por exemplo, questões de como evitar criminalidade em certos locais, respeitar as áreas em que estão comandando e obedecer a hierarquia interna e lealdade”, disse o delegado Gabriel Souza. Quem não seguia o código interno era penalizado, sendo submetido à censura, retirada de valores, expulsão e até algo mais severo, como a morte.
O delegado Mario Souza destacou ainda um aspecto de como a facção obtinha novos membros. “O recrutamento de jovens é comum...Eles buscam mão de obra para ocupar as bases do crime organizado. É comum buscar jovens para que desempenhem funções iniciais e de menor complexidade dentro da organização”, observou. “Esses jovens vão fazer, por exemplo, roubos de veículos e de comércio, vender drogas..Eles serão o braço executor da facção”, sublinhou.
Os agentes apuraram igualmente que a facção promovia rifas internas de armas entre os seus integrantes, sobretudo dos escalões mais baixos. O grupo criminoso planejava até roubar carros de luxo na praia de Jurerê Internacional, no Norte da Ilha de Santa Catarina, além de adquirir imóveis e automóveis de luxo no RS e SC, comprar empresas para conversão de valores e investir nas bolsas de valores. O alvo da operação foram cerca de R$ 50 milhões em bens e valores da organização criminosa gaúcha.
A megaoperação Kraken resultou no sequestro judicial de 102 veículos, cujo desejo do delegado Mario Souza é de que sejam transformados em viaturas. Em torno de 50 carros, muitos de luxo, foram apreendidos. Um dos objetivos agora é verificar também quanto de valores estão depositados nas 190 contas bancárias dos investigados que foram bloqueadas pela Justiça.
Na ação foram sequestrados judicialmente ainda 38 imóveis e duas aeronaves, além de 812 quebras de sigilo fiscal, bancário, tributário e bursátil. Com 58 presos, a ação mobilizou 1,3 mil agentes públicos no cumprimento de 1.368 ordens judiciais, incluindo 273 mandados de busca e apreensão e 66 mandados de prisão em 28 cidades no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso do Sul. A ação ocorreu ainda em 13 casas prisionais gaúchas e uma penitenciária federal.
Houve a participação da Brigada Militar, Superintendência dos Serviços Penitenciários, Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Sul, Polícia Rodoviária Federal e Departamento Penitenciário Nacional, além da Polícia Civil de SC, PRF e MS.
A investigação começou no final do ano de 2020. Os policiais civis apuraram que a facção mantinha contatos com organizações criminosas no Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul, bem com cartéis internacionais na Bolívia e na Colômbia.