Hipermercado reabre após morte e protestos em Porto Alegre

Hipermercado reabre após morte e protestos em Porto Alegre

João Alberto Silveira Freitas foi assassinado na última quinta-feira dentro do Carrefour

Correio do Povo

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O hipermercado Carrefour, local onde João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, foi espancado e morto na última quinta-feira, reabriu na manhã desta segunda na zona Norte de Porto Alegre. O estabelecimento estava fechado desde a sexta passada, em respeito à vítima das agressões. 

A Polícia Civil deve concluir o inquérito sobre a morte de Freitas até a próxima sexta-feira, segundo informações da delegada Roberta Bertoldo, responsável pelo caso. Ela enfatizou que até o momento a linha de investigação apura o crime de homicídio doloso, quando há intenção de matar. Tanto na sua forma direta, que é especificamente a intenção de tirar a vida da vítima, quanto na forma eventual. “Uma conduta também é dolosa quando a pessoa assume o risco de causar esse resultado”, explicou. “Ele pedia para ser solto, pois não estava conseguindo respirar. Se uma pessoa não consegue respirar, ela vai morrer. E isso não era levado em conta, portanto, eles assumiram o risco de causar esse resultado”, afirmou.

Depoimentos no final de semana 

Conforme Roberta, durante o final de semana foram ouvidas diversas pessoas que contribuíram para elucidar os fatos. Além disso, os policiais se debruçaram sobre as imagens que registraram todos os acontecimentos de 19 de novembro: “Nós conseguimos pegar coisas bem importantes (através das imagens) que já vinham ao encontro de algumas conclusões que tínhamos sobre a conduta da vítima, da esposa e dos funcionários”. Um vídeo mostra a silhueta de três homens atrás da porta automática que leva ao estacionamento, sendo que um deles desfere um soco no rosto do outro. Instantes depois, a imagem mostra a porta se abrindo e João Alberto sendo dominado pelos dois seguranças. Estes o arrastam para fora do prédio e, logo depois, começam a lhe agredir com socos.

Uma das pessoas que prestou depoimento foi uma funcionária do supermercado com quem a vítima teria se desentendido, o que teria precedido a saída de João Alberto do estabelecimento e a presença dos seguranças. “Ela esclareceu melhor essa questão. Segundo a testemunha, pareceu que ele fez alguns gestos enquanto estava parado no caixa, falou algumas coisas que ela não conseguiu ouvir”, acrescentou.

Com relação aos possíveis gestos feitos pela vítima e direcionados à funcionária do supermercado, a delegada enfatizou que ainda é preciso analisar os detalhes para tentar entender o
que ele queria dizer. “Por ter essa conduta, naquele momento um tanto inapropriada, a funcionária teria chamado os seguranças, que pediram que ele se retirasse”, contou Roberta.

Suspeitos 

Sobre os dois suspeitos que estão presos preventivamente, a delegada de Homicídios destacou que no momento em que foram detidos, os dois não quiseram falar. No último sábado, o advogado que representa o PM temporário procurou a Polícia Civil. “Ponderamos que seria interessante para o esclarecimento do fato que eles prestassem depoimento. O advogado concordou, disse que gostaria que ele prestasse depoimento”, reiterou.

Nesta segunda-feira a Polícia deve encaminhar um ofício à Justiça para que os homens possam se manifestar. A delegada frisou que a Polícia está procurando esclarecer todos os fatos. Para que a apuração seja ainda mais completa, Roberta pediu que todas as testemunhas compareçam à DP para relatar mais detalhes do que ocorreu. “Pedimos que essas pessoas venham para contribuir com a Justiça. Para que nós busquemos a verdade sobre aquilo que aconteceu”, assinalou.

Nova manifestação 

Está prevista para esta segunda-feira uma nova manifestação contra o racismo em frente ao Carrefour. Desta vez, ativistas e grupos contra a discriminação racial se organizam nas redes sociais para realizar o ato na frente da filial do Hipermercado Carrefour da Avenida Bento Gonçalves, no bairro Partenon. O Comando de Policiamento da Capital (CPC) afirma que vai seguir em alerta e monitorando a situação dos atos que venham a acontecer na cidade nos próximos dias. Na última sexta-feira, um protesto que começou pacífico terminou com atos de violência na zona Norte. A manifestação desta segunda-feira está marcada para as 18h. 

O vereador eleito pelo PSol, Matheus Gomes, em sua conta no Twitter, convocou seus seguidores e apoiadores a irem ao ato, que também terá participação de moradores do Campo da Tuca e do Morro da Cruz, conforme informação “retuitada” pelo parlamentar eleito, além de integrantes de algumas das torcidas organizadas do Grêmio e do Inter da região, que colocaram faixas no cercado do hipermercado. Por meio da assessoria, Gomes confirmou participação no evento. Os outros membros da nova bancada negra da Câmara de Vereadores de Porto Alegre, formada pelas eleitas Karen Santos (PSol), Bruna Rodrigues e Daiana dos Santos (PCdoB) e Laura Sito (PT), também por meio das assessorias disseram estar avaliando a ida ao ato, mas que a princípio estarão presentes. 

O comandante do CPC, tenente-coronel Rogério Stumpf Pereira Junior, avisa que a Brigada Militar tem se mantido atenta depois do desfecho da manifestação de sexta-feira. “Desde o fato da última sexta, a BM tem mantido vigilância de todas as áreas de Porto Alegre. Desde então estamos monitorando para evitar qualquer ato de vandalismo e estaremos acompanhando as manifestações para segurança de todos”, observou. 

Segundo o oficial, os acontecimentos da última sexta-feira poderiam ter terminado em tragédia. “Na sexta usaram coquetel molotov, então a Brigada Militar estava ali para garantir a segurança de todos, para evitar coisas mais graves, como o risco de explosão do posto de combustíveis”, explicou. O comandante disse ainda que não será tolerada uma situação semelhante. “Nós estaremos lá para evitar que não se tenha nenhuma desordem, mas caso haja qualquer ação de vandalismo, quebra-quebra, a Brigada Militar vai atuar como atuou na sextafeira”, concluiu Stumpf.


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