Laudo da perícia sugere que jovem que teve corpo marcado se automutilou

Laudo da perícia sugere que jovem que teve corpo marcado se automutilou

Segundo o parecer, as lesões são superficiais e não demonstram resistência da vítima

Correio do Povo

Imagem do ferimento divulgado no laudo do IGP

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O laudo do Instituto-Geral de Perícias, divulgado nesta quarta-feira, sugere que a jovem ferida com um símbolo semelhante a uma suástica no bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre, teria se automutilado. O parecer aponta que as lesões são superficiais, de profundidade uniforme e "situadas em regiões do corpo facilmente acessíveis às mãos da própria vítima".

"As lesões verificadas apresentam, portanto, características compatíveis com as de lesões autoinfligidas, embora não haja, a partir exclusivamente dos resultados do exame de corpo de delito, elemento de convicção para se afirmar que efetivamente foram autoprovocadas. Nesse sentido, pode afirmar-se que as lesões foram produzidas: ou pela própria vítima ou por outro indivíduo com o consentimento da vítima ou, pelo menos, ante alguma forma de incapacidade ou impedimento da vítima em esboçar reação", destaca o laudo.

O exame de corpo de delito apontou ainda que a jovem não tinha outras lesões pelo corpo. A estudante afirmou diversas vezes durante o exame que não teria reagido ao ataque e que foi imobilizada apenas pelos braços e que teria ficado paralisada, por isso não havia outras lesões. 

A advogada da vítima, Gabriela Souza, disse que o laudo "comprova o teor do depoimento da vítima, que não esboçou reação durante o ataque e sofreu estresse pós-traumático, situação que se mantém até o momento". Em nota, a advogada ressaltou ainda que a "perícia não descarta a hipótese de as lesões terem sido causadas por outro indivíduo, inclusive mediante incapacidade de defesa da vítima".

A perícia identificou ao menos 20 riscos de escoriações. Devido ao tipo de ferimento, os peritos acreditam que a marca tenha sido realizada por arames, lâminas metálicas (como canivete e faca), grampo de cabelo, alguma bijuteria, pregos, pedaços de latas, agulhas ou outras hastes. O laudo destaca que o tipo de objeto teria sido escolhido para não provocar cortes profundos.

Analisando as lesões, a perícia acredita que quem fez os cortes teve "bastante habilidade e cuidado ao executar os movimentos que originaram as inscrições relatadas, bem como que ele tenha tido tempo adequado para produzir as lesões e, idealmente, um ambiente propício."

A marca foi feita no lado esquerdo do tronco, na altura da barriga. Quando a Polícia examinou o outro lado do corpo, para comparar, encontrou outra escoriação no formato de uma cruz. De acordo com o laudo, a jovem disse que não tinha percebido a lesão antes do exame de corpo de delito.

No laudo, os peritos elencam as justificativas para autoflagelação: localização em partes facilmente acessíveis do corpo, multiplicidade de lesões singulares, com curso linear ou levemente recurvado, lesões não penetrantes e de profundidade similar, arranjadas em grupo e sobre uma área definida, ausência de lesões de defesa.

A jovem registrou uma ocorrência no dia 9 de outubro. À polícia ela informou que teria descido do ônibus em uma parada no bairro Cidade Baixa, por volta das 19h do dia 8, quando foi abordada por três homens. Dois deles a teriam segurado, enquanto o terceiro fez a marca com um canivete.

O exame de corpo de delito foi realizado com o consentimento da jovem. As investigaçõs da Polícia Civil seguem e a defesa da vítima "ainda espera que sejam apresentadas imagens de câmeras de segurança e ouvidos depoimentos de pessoas que prestaram auxílio à jovem atacada".

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