OPINIÃO: Bernardo, 4 anos depois e as imagens que guardo de Três Passos

OPINIÃO: Bernardo, 4 anos depois e as imagens que guardo de Três Passos

Julgamento dos quatro réus deve ser marcado em breve e ocorre ainda este ano

Fernanda Pugliero

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Não me lembro com clareza quem me escalou para cobrir a história do assassinato de um menino em Três Passos a quatro anos atrás. Eu tinha experiência com reportagem de Política, mas ainda engatinhava para escrever nas páginas policiais. No fim das contas, é tudo a mesma coisa. Embarquei eu, o motorista mais o fotógrafo do jornal para uma jornada de quase 500 quilômetros até aquela cidadezinha quase na fronteira com Santa Catarina que, até então, poucos tinham ouvido falar.

O clima era de caos, de tristeza. Ninguém queria falar, mas outros falavam de mais. Lembro da primeira entrevista com a então promotora do caso, Dinamárcia Maciel: Ela não queria sair do prédio do Ministério Público para evitar falar comigo, que estava de plantão na portaria. Acabou cedendo. Me recordo com clareza daquela mulher firme que escancarou as denúncias contra o pai e a madrasta do menino. Bernardo era obrigado a comer no prato do cachorro. Bernardo era chamado de animal dentro de casa. Bernardo era apenas um menino de onze anos que queria ser feliz, que queria ser amado. As professoras sabiam disso. Os vizinhos e a madrinha também. Mas a cidade calou-se perante o “doutor”. Ninguém ousou desafiar o médico da cidade e talvez salvar aquela criança.

Me lembro também com clareza do dia em que entrei na casa onde residia a família Boldrini. A polícia havia revirado os cômodos algumas semanas antes. A cozinha cheirava a podre, por causa dos alimentos que estragavam. No quarto do Bê, os cadernos com rabiscos na última página padeciam atirados sobre a cama. Os brinquedos e porta-retratos, revirados sobre a estante. Aquele era, com certeza, o lugar mais triste de Três Passos em abril de 2014.

Hoje, completam-se 4 anos da morte de Bernardo Uglione Boldrini. O corpo dele, entretanto, só foi localizado no dia 14, dentro de um saco plástico e enterrado às margens de um rio em Frederico Westphalen, após confissão de Edelvânia Wirganovicz que ajudou Graciele Ugulini a dar fim no enteado. A cova, que também visitei, foi cavada por Evandro, irmão de Edelvânia. Isso me leva a outra imagem que não sai da minha cabeça: Aquela pá encostada no fundo da casa onde mora a mãe dos dois, que fica exatamente na margem oposta da sanga onde o corpo fora ocultado, cavou o destino de Bernardo. Agora, quatro anos depois, o julgamento dos réus está próximo de ser agendado. Que a justiça seja feita antes do próximo aniversário do caso.

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