Polícia Civil investiga professor por importunação sexual contra alunas de escola em Alvorada

Polícia Civil investiga professor por importunação sexual contra alunas de escola em Alvorada

Docente já foi afastado pela Secretaria Estadual da Educação das funções no estabelecimento de ensino cívico-militar

Correio do Povo

Junto com a mãe, uma das vítimas esteve nesta terça-feira na Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam)

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A Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) de Alvorada, sob comando da delegada Samieh Bahjat Saleh, investiga as denúncias contra um professor de Português da Escola Cívico-Militar Carlos Drummond de Andrade, que está sendo acusado de assediar alunas menores de idade neste ano letivo. O docente já foi afastado das funções no estabelecimento de ensino pela Secretaria Estadual da Educação.

“Chegaram duas ocorrências, registradas no início de julho”, confirmou a titular da Deam de Alvorada na manhã desta terça-feira à reportagem do Correio do Povo. Tratam-se de duas meninas, ambas de 14 anos atualmente. Uma delas tinha 13 anos em maio, quando ocorreu um dos casos denunciados. “Elas relataram o que aconteceu..Em uma primeira análise a gente verifica importunação sexual, mas no caso da menina, que teria acontecido quando ela tinha 13 anos, poderia se enquadrar também no crime de estupro de vulnerável”, explicou.

“Verificamos nas redes sociais que há vários comentários de outras possíveis vítimas. Vamos diligenciar em busca dessas outras meninas, mas é importante que elas busquem a polícia. Toda vítima que se sentiu importunada por esse indivíduo procure a delegacia mais próxima e registre a ocorrência para que a gente possa investigar”, afirmou. “A gente vê nas redes sociais que as pessoas falam até que já sabem quem foi o professor. Elas já tinham percebido isso..”, apontou.

“É importante que registrem para que a gente possa investigar. Infelizmente, muitas vítimas acabam ficando com medo, não relatam para os pais, acham que é pouca coisa, às vezes nem sabem que estão passando por um crime ...acabam não levando à direção...Tem esta subnotificação dos crimes sexuais, mas agora que isso tomou uma proporção um pouco maior, a gente acredita que outras vítimas venham nos procurar. Quando uma toma coragem, as outras acabam vindo ....", ressaltou a titular da Deam de Alvorada.

“Estamos providenciando oitivas de possíveis testemunhas e até da direção do colégio”, explicou sobre o andamento do inquérito aberto sobre o caso. No entanto, a delegada Samieh Bahjat Saleh lembrou que “em crimes sexuais, em regra, não há testemunhas”. Segundo ela, “o que leva-se em consideração é a palavra da vítima”.

Como essas meninas têm menos de 18 anos, elas serão encaminhadas para uma avaliação psíquica que será feita no Centro de Referência em Atendimento Infanto Juvenil de Alvorada, onde “vão ser ouvidas por pessoas especializadas nisso e lá elas vão relatar exatamente o que aconteceu, como foi e em que situações”. A partir desses depoimentos, a tipificação do crime será melhor verificada pelos policiais civis.

“Tudo isso vai ser analisado. A gente precisa que pessoas que tenham presenciado ou tenham testemunhado alguma atitude desse professor, procurem a Deam de Alvorada para serem ouvidas. É muito importante”, enfatizou a delegada Samieh Bahjat Saleh.

“Depois desses passos, a gente vai fazer o interrogatório dele. Ele é o último”, complementou. “O principal é que ele está afastado das atividades”, destacou, referindo-se ao fato de que o docente suspeito não terá mais contato com as alunas. “É uma situação delicada”, admitiu a titular da Deam de Alvorada em relação ao caso.

Mudança de comportamento

A mãe de uma das meninas de 14 anos esteve na manhã desta terça-feira na Deam de Alvorada. A agente comunitária de saúde, de 45 anos, contou à reportagem do Correio do Povo sobre como descobriu o ocorrido com a filha. “Ela vinha com uma mudança de comportamento desde o início do ano, mas nunca me falou nada. Aí ela começou a se isolar em casa, não querer conversar e às vezes não queria ir para escola. Eu nunca percebi nada que pudesse estar acontecendo na escola”, recordou.

“Foi quando ela me contou o que havia acontecido. Ela me relatou que ele tinha beijado no pescoço dela e chamado de gostosa no corredor. Outras crianças viram, mas têm medo de falar. Pode ter mais casos”, afirmou. "Vim à delegacia, registrei a ocorrência e fui na secretaria da escola”, disse.

Conforme a mãe, as acusações contra o professor apontam também “mão na cintura, brincadeiras e palavras de duplo sentido” dele com as alunas. Boatos, sublinhou, indicam que o docente “já tinha saído de outra escola pela mesma situação”, mas ela não tem como comprovar isso.

“Eu espero que a justiça seja feita e que outras meninas não passem por isso...que tudo se esclareça e que seja resolvida essa situação”, pediu a agente comunitária de saúde. “Mudou não só a vida dela, mas da família também..A gente buscou a serenidade para buscar uma forma adequada para resolver tudo isso, mas não deixa de ser constrangedor e humilhante”, desabafou. Ela entende que é “um problema pontual e específico", não sendo da escola como um todo.

Já a mãe de um menino de 12 anos apareceu para contar o que houve também com o filho na escola. “O mesmo professor deu um tapa no rosto do meu filho...Eu fiquei sabendo com todo alvoroço das meninas, pois meu filho criou coragem para me contar...”, esclareceu a professora estadual, de 43 anos, à reportagem do Correio do Povo na frente da Deam de Alvorada. A agressão foi registrada em uma delegacia distrital da cidade.

“O motivo do tapa é que ele errou uma questão dos exercícios de aula e aí deu tapa no rosto e chamou ele de nerdinho. Espero por justiça, é o mínimo”, disse. A família está mobilizada para dar “todo apoio” ao garoto, que desde a agressão “não pergunta mais, não participa mais em aula, ficou retraído”. Para a mãe, o tapa foi um “absurdo” e nada pedagógico. 

Em um grupo no Instagram, intitulado "Mulheres Alvorada", uma campanha está sendo realizada para que sejam tomadas providências por parte das autoridades. Um texto postado por uma seguidora citou que o docente vinha há tempos "assediando alunas, fazendo comentários racistas e homofóbicos com alunos" e lembrou que há dez anos em outra escola, o docente foi "afastado pelo mesmo motivo, porém, sem denúncia que comprove, e foi transferido para esta escola onde está até hoje".

Após o boletim de ocorrências das primeiras vítimas, escreveu a seguidora, "diversas alunas e ex-alunas começaram a relatar o que já sofreram com este professor". O compartilhamento nos stories e em outras redes sociais da denúncia está sendo solicitado no sentido de "que alguém faça alguma coisa”.

Nota oficial 

A Secretaria Estadual da Educação divulgou uma nota oficial. "Sobre o caso ocorrido na Escola Estadual de Ensino Médio Carlos Drummond de Andrade, localizada no município de Alvorada, a Secretaria Estadual da Educação informa que o professor foi afastado preventivamente de suas funções na escola enquanto a denúncia é apurada. A 28ª Coordenadoria Regional de Educação está em contato permanente com a equipe diretiva da escola para oferecer todo o suporte à comunidade escolar. Foi registrado boletim de ocorrência junto à Polícia Civil e o Conselho Tutelar também acompanha o caso”, comunicou.

Foto: Alina Souza / CP


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