Presos criticam série de assassinatos de motoristas de aplicativo no RS

Presos criticam série de assassinatos de motoristas de aplicativo no RS

Em áudios gravados dentro da prisão, detentos temem que crimes gerem ações policiais

Correio do Povo

No crime mais recente, motorista foi morto com um tiro na cabeça em Viamão

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Presos veteranos usaram um grupo no WhatsApp para criticar a série de assassinatos de motoristas de aplicativos, perpetrados por jovens criminosos. Os detentos chegam a mencionar que esses merecem ser “decapitados”. O Correio do Povo teve acesso a áudios de detentos do sistema prisional gaúcho comentando a onda de violência contra esses profissionais.

Na conversa entre quatro presos, eles condenam as ações que afirmam ser de pessoas iniciadas recentemente no mundo do crime e alertam para a possibilidade de reação da Polícia. Os presidiários fizeram referência aos ataques ocorridos recentemente, como o contra o motorista de Guaíba, morto na véspera do Ano-Novo. O corpo foi encontrado dias depois em Santa Catarina. Nesta semana, dois profissionais foram baleados na Região Metropolitana.

No caso mais grave, o condutor de aplicativos foi assassinado com um tiro na cabeça. Dois adolescentes, um rapaz e uma garota, são suspeitos de terem participado do crime. O latrocínio (roubo seguido de morte) ocorreu em Viamão. Esse crime repercutiu na cadeia. Em um dos áudios, um detento condena a conduta dos jovens e afirma que não há necessidade de matar os motoristas após o roubo. “Tá trabalhando, o cara não vai dar um tiro na cara do piá que tá roubando. O cara só vai tentar largar mesmo da situação”, explica o detento. Ele chega a lamentar a dor dos familiares.

Leis duras

Mas o repúdio aos atos de violência tem outro motivo. Nos áudios, o grupo alerta para possíveis medidas de reação por parte da Polícia caso os crimes continuem. Um dos detentos cita as regras de progressão para o regime semiaberto. “Foi uma ‘piazada’ que fez aquele bagulho com aquele gurizinho. Arrastaram ele no cinto de segurança do carro, por isso que vem essa lei dos 3/5, se isso não ocorresse, não existia os 3/5. Foi uma gurizada lá que fez uma m... e daí deu isso aí, né?”

O preso faz referência ao crime que chocou o país em janeiro de 2007, quando João Hélio, de 6 anos, teve o corpo arrastado por quilômetros preso ao cinto de segurança do carro roubado no Rio de Janeiro. Após o crime, o Congresso votou às pressas pelo endurecimento da legislação penal e em casos de crimes hediondos a exigência para progressão de regime subiu para 3/5 da pena.

O consequente aumento do policiamento nos bairros violentos também é lembrado pelos presos. “Suja a quebrada de todo mundo, entendeu? Lanhar os bairro (sic) de Polícia. Na real, pra nada”. Os presos veteranos avaliam que os crimes praticados contra motoristas de aplicativos em nada acrescentam na "carreira do bandido". “Podem matar 10, mas vão chegar aqui (na prisão) sem moral, sem apoio de ninguém. Vão dormir com os pulmões no chão”, garante o detento. “Esses guris de m... acham que estão fazendo currículo. Matam para roubar um carrinho que no paralelo rende um pila, no máximo um pila e meio”.

Ouça os áudios:



Procurada para falar sobre o uso de celulares por parte dos detentos no sistema prisional, a Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) não se manifestou.

Categoria se mobiliza


Na noite desta sexta-feira a Associação Liga dos Motoristas de Aplicativo do RS informou que organiza uma paralização dos serviços de transporte na próxima segunda-feira em Porto Alegre. A orientação para os profissionais é manter os aplicativos desligados durante todo o dia. A concentração deve ocorrer no Largo da Epatur a partir das 5h, com possível deslocamento por avenidas da Capital a partir das 8h.

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