Professor que salvou alunos em Suzano recebe homenagem e auxilia retorno

Professor que salvou alunos em Suzano recebe homenagem e auxilia retorno

Agnaldo Xavier garante vontade de permanecer e recuperar colégio: "Agora mais do que nunca"

AE

Comunidade tenta se reerguer após ataque trágico

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"Pouco se falou desse herói. Salvou muitas crianças que corriam desesperadas, puxando elas para dentro da sala de aula, fazendo barricadas com mesas na porta da sala e vigiando para ver se os assassinos vinham na direção deles. Parabéns, professor Agnaldo." O texto foi publicado em rede social por um ex-aluno da Escola Estadual Professor Raul Brasil, alvo do ataque a tiros que deixou dez mortos há uma semana. Na postagem, o rapaz menciona a atuação de Agnaldo Xavier, de 47 anos, que ajudou a esconder cerca de 60 estudantes durante o massacre.

Professor de Matemática há dez anos e do Raul Brasil há cinco, Xavier é um dos funcionários que ajudaram a minimizar os impactos do ataque à escola. "Pensei que era bombinha, mas aí eu fui na porta. Um dos alunos corria, dizendo que era tiro e que mataram a 'tia'. Abri a porta e comecei a gritar para entrar todo mundo. Fechei a porta, mas deixei uma abertura para eu ficar olhando a ação deles, não queria ser pego de surpresa. Não sabia quantos eram. Só vi dois, mas não sabia se tinha mais", relembra.

Xavier se mostrou orgulhoso pela Raul Brasil ser uma das melhores escolas da região. "A minha vida se resume a tentar dar um incentivo para esses jovens, um futuro", conta. Neste retorno às aulas, ele foi ao colégio ajudar no acolhimento dos alunos, enquanto faltou ao próprio acolhimento para ficar com a filha - ainda assustada, embora estude em outra instituição. "Hoje teve muitos pais me abraçando e chorando. Alunos gratificados. Deus me colocou no lugar certo, na hora certa."

Sobre a permanência no Raul Brasil, diz não ter dúvidas, "agora mais do que nunca". "Agora temos de colocar o colégio no lugar de novo. Se não melhorar (com ações de governo), a gente vai reivindicar."

Superação e medo

Funcionários que participaram das atividades disseram que foi o dia de maior resgate da energia escolar. Os alunos ficaram à vontade para jogar futebol, desenhar, fazer sessões de reiki e até brincar com cachorros terapêuticos. A escola também recebeu mobiliário novo e a reforma continua.

"Sinto que as crianças estão se fortalecendo, recuperando a autoestima, depois de uma tragédia. Adolescentes têm uma capacidade de recuperação maior que nós, adultos. Eles estão nos dando forças e vamos juntos conseguir superar esse trauma", disse uma professora, que preferiu não se identificar. "Percebemos entre eles (professores e alunos) dois medos predominantes. Primeiro: de que ocorra um novo ataque ou que sofram nova violência. Segundo: que parem de receber essa atenção e atendimento. Nós estamos tentando tranquilizá-los e ajudá-los a lidar com essa dor", afirmou Bruno Fedri, psicólogo da Secretaria Estadual de Justiça designado para atuar no estabelecimento de ensino de Suzano.


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