Três pessoas são indiciadas no caso do idoso abordado no Hospital Dom João Becker, em Gravataí

Três pessoas são indiciadas no caso do idoso abordado no Hospital Dom João Becker, em Gravataí

Inquérito da Polícia Civil apontou crimes cometidos por duas técnicas de enfermagem e um vigilante

Correio do Povo

Imagens de câmeras de monitoramento auxiliaram no trabalho dos agentes para esclarecer o fato

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A Polícia Civil indiciou três pessoas, sendo duas técnicas de enfermagem e um vigilante, pelo crime de constrangimento ilegal, sendo que uma delas teve ainda o acréscimo de crime de injúria racial, no caso do idoso abordado dentro do Hospital Dom João Becker, em Gravataí. O inquérito foi concluído pelo titular da 1ª DP de Gravataí, delegado Márcio Zachello, após investigação realizada desde o dia 18 de abril. A sindicância aberta pela instituição hospitalar também auxiliou no trabalho dos agentes que tiveram acesso às imagens das câmeras de monitoramento. Os policiais civis ouviram os depoimentos de 20 pessoas, entre investigados, funcionários, testemunhas, pacientes e acompanhantes.

A denúncia que motivou o inquérito havia sido feita por Everaldo da Silva Fonseca, 62 anos, que acompanhava a esposa internada no hospital. Ele relatou que foi acusado de ter roubado um telefone celular de uma funcionária, bem como foi abordado de maneira agressiva, revistado e acusado como “foi o negro, foi esse negro”. O idoso ainda informou ter sido agredido com socos nas costas pelo segurança do hospital e ser retirado e colocado para fora do hospital, além de contar que a esposa faleceu ao testemunhar as agressões. Com o registro da ocorrência na Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento de Gravataí, ele foi encaminhado a exame de corpo de delito no Departamento Médico Legal.

O trabalho investigativo da 1ª DP de Gravataí não comprovou as agressões, baseando-se inclusive nas imagens das câmeras de monitoramento da instituição. Em relação ao falecimento da esposa, os agentes apuraram que não ocorreu qualquer nexo de causalidade entre o fato ocorrido com o idoso e o óbito dela, que estava com hipoglicemia, com estado nutricional debilitado e desidratada, além de já possuir quadro de cirrose crônica. A relação de funcionários que teriam participado ou presenciado o fato e a lista de pacientes e acompanhantes que estavam no mesmo ambiente foram obtidas para fins de depoimento.

O incidente com o idoso ocorreu quando uma técnica de enfermagem não encontrava o celular e quando telefonaram para o telefone dela, o celular dele vibrou no mesmo momento em uma “infeliz coincidência”. Imediatamente foi levantada a suspeita de furto de celular e houve “conduta desproporcional e prematura por parte da técnica de enfermagem, além de insubordinação, pois antes de esgotar a busca pela localização do objeto extraviado, causou alarde e tumulto entre a equipe, com acusações desprovidas de provas”. O idoso teve a jaqueta revistada inclusive pela técnica de enfermagem. O celular seria depois encontrado depois esquecido em uma sala.

A investigação apurou que a técnica de enfermagem referia-se ao idoso de “forma pejorativa devido à sua condição racial ao mesmo tempo em que lhe imputava o delito de furto” conforme mencionado por uma testemunha que presenciou a funcionária falar que "foi aquele nego ali que furtou o celular”. Acionado por ela, um vigilante pediu para o idoso acompanhá-lo a um corredor de acesso à emergência, realizando revista pessoal no corpo e pertences da vítima. Uma outra técnica de enfermagem participou junta. No inquérito, a técnica de enfermagem, dona do celular, foi inciada pelos crimes de injúria racial, que tem pena de detenção de um a três anos, e constrangimento ilegal, que prevê prisão de três meses a um ano. Já a colega dela e o vigilante vão responder por constrangimento ilegal.


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