Anistia pede para não ceder ao prazo dos talibãs sobre retiradas

Anistia pede para não ceder ao prazo dos talibãs sobre retiradas

Extremista exigem o fim das operações coordenadas pelos EUA e aliados

AFP

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Os Estados Unidos e seus aliados, que estão retirando milhares de pessoas de Cabul em condições caóticas, não devem "abaixar a cabeça" para os talibãs, que exigiram o fim das operações em 31 de agosto, disse a secretária-geral da Anistia Internacional, Agnès Callamard.

Os talibãs classificaram como "linha vermelha" a data de 31 de agosto para a retirada de todas as tropas estrangeiras e as evacuações. Na sua opinião, qual deve ser a resposta?

Este prazo nos preocupa muito. Mas não podemos abandonar o aeroporto simplesmente, porque os talibãs exigem, devemos rejeitar o ultimato de 31 de agosto.

Hoje acontece a sessão especial do Conselho de Direitos Humanos (na ONU) e a reunião do G7. Precisamos de uma resolução forte para pedir aos talibãs que deixem as pessoas chegarem ao aeroporto e que as retiradas continuem até que seja possível evacuar todas as pessoas identificadas como vulneráveis. É uma linha vermelha para a comunidade internacional, não devemos ceder a isso.

Não estamos desamparados contra os talibãs: eles precisam de reconhecimento internacional. Ainda são classificados como grupo terrorista na lista da ONU (desde uma resolução do Conselho de Segurança em 2011). Isso significa que seus ativos estão congelados, que não podem receber nenhuma ajuda financeira. Enquanto esta resolução estiver vigente, é uma importante ferramenta de pressão.

Sei que são negociações difíceis, mas não temos outra opção. Não podemos renunciar e abdicar das nossas responsabilidades com esses afegãos que lutaram nos últimos 20 anos em nome dos valores internacionais, dos valores democráticos.

Vários países expressaram seus temores de que a queda do Afeganistão nas mãos dos talibãs vai desencadear uma crise migratória. Qual sua opinião?

É claro que há fluxos migratórios. Temos regras, leis, temos que aplicá-las.

Agora, além da situação das pessoas que tentam fugir nesses momentos, podemos dizer que a situação no Afeganistão vai desencadear grandes fluxos? Não sabemos ainda.

Estamos criando medos e preocupações. Isso está instrumentalizando a crise.

Não digo que será fácil, mas no momento há muita boa vontade, cidades que se ofereceram como locais de asilo, organizações de ajuda aos refugiados que ofereceram apoio logístico e humanitário.

Devemos aproveitar este momento, usar essa energia para nos dedicarmos às formas de integrar essa população traumatizada. É um desafio que podemos assumir.

Quais informações vocês têm sobre a situação no Afeganistão?

 A Anistia Internacional trabalha há décadas no Afeganistão. Dois dos nossos pesquisadores foram retirados há alguns dias. Estavam trabalhando há pouco tempo no caso de uma dezena de homens da comunidade hazara que foram torturados e executados pelos talibãs antes da queda de Cabul. Isso é muito preocupante.

A informação que chega é alarmante. À noite (segunda-feira, 23), soubemos que os talibãs, que procuravam um homem que colaborou com as forças estrangeiras, agrediram sua mãe, uma idosa.

Esses incidentes são cada vez mais frequentes, e essas práticas parecem estar-se tornando a norma.

Temos listas de pessoas que devem ser retiradas, mas obviamente os talibãs também têm suas listas, que são muito parecidas com as nossas.


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