Ao citar alta de preços, Lira se distancia do governo Bolsonaro

Ao citar alta de preços, Lira se distancia do governo Bolsonaro

Em sua primeira fala após os atos de 7 de setembro, presidente da Câmara adota pautas da oposição e se afasta do discurso governista

R7

Em sua primeira fala após os atos de 7 de setembro, presidente da Câmara adota pautas da oposição e se afasta do discurso governista

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Um dos desdobramentos do 7 de setembro é o claro distanciamento do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), do governo Bolsonaro. Recluso desde ontem (7), sem agenda confirmada, sem dar declarações e em reuniões fechadas, Lira reapareceu publicamente nesta quarta-feira (8) em um pronunciamento em tom mais elevado do que o adotado até agora.

Ao citar como os problemas reais do Brasil a gasolina a R$ 7 reais, o dólar valorizado em excesso, e o preço do gás, Lira sinaliza à oposição, que tem falado da alta de preços e irá usar essas mesmas pautas, ecoando em cheio nos bolsos e na mesa dos brasileiros, nas manifestações populares previstas para o próximo domingo (12). No pronunciamento, Lira levanta a bola, para a oposição cortar, já que os oposicionistas defendem que Bolsonaro usa de outras pautas, voto impresso, ataques ao STF, por não conseguir resolver os problemas reais do País. 

Apesar de o pronunciamento de Lira ter sido alvo de críticas da oposição por ele não ter citado o impeachment, o apoio às pautas não pode ser ignorado. A aproximação de Lira com a oposição não aconteceu ontem. Na semana passada, um acordo de Lira, costurado com a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, possibilitou a aprovação da reforma do Imposto de Renda com 398 votos no plenário. 

A estratégia de Lira é coerente com o seu próprio projeto político. O presidente da Câmara pretende comandar a Casa por mais dois anos a partir de 2023, e pode ter que fazer isso sob um governo Lula ou de um eventual presidente de terceira via. Sua aliança com Bolsonaro, lembremos, é temporária. E pode se encurtar se o presidente se enfraquecer a ponto de não conseguir governar o País ou chegar ao segundo turno em 2022. 

O presidente da Câmara elevou o tom também nas críticas a Bolsonaro, que o ajudou a eleger presidente da Casa: "Bravatas em redes sociais, vídeos e um eterno palanque deixaram de ser um elemento virtual e passaram a impactar o dia a dia do Brasil de verdade", disse em crítica clara ao comportamento de Bolsonaro. 

O descontentamento de Lira com as menções de Bolsonaro ao voto impresso, que articulou para enterrar em votação semanas atrás, também ficou claro: "Não posso admitir questionamentos sobre decisões tomadas e superadas – como a do voto impresso. Uma vez definida, vira-se a página".

Com um presidente da República enfraquecido, apesar de ter conseguido reunir ainda milhares de pessoas nas ruas, Lira se fortelece também como apaziguador, e deixa isso claro ao se colocar como "a ponte de pacificação entre Judiciário e Executivo", lembrando do projeto de Niemeyer com o Congresso no ponto equidistante dos outros dois Poderes. 

Lira só tem a ganhar como o costurador de acordos pacificadores: "Conversarei com todos e com todos os poderes. É hora de dar um basta a esta escalada, em um infinito looping negativo".

Ao final, o presidente da Câmara defede ainda a Justiça Eleitoral, um dos maiores alvos de ataques do presidente Bolsonaro: "O único compromisso inadiável e inquestionável que temos em nosso calendário está marcado para 3 de outubro de 2022. Com as urnas eletrônicas. São nas cabines eleitorais, com sigilo e segurança, que o povo expressa sua soberania".


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