Argentina espera extradição de repressor da ditadura preso no Brasil

Argentina espera extradição de repressor da ditadura preso no Brasil

Autorização foi dada em 2019, pelo Supremo Tribunal Federal

AFP e AE

Roberto Oscar González, acusado de assassinar o jornalista e escritor Rodolfo Walsh, em março de 1977

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Um repressor da última ditadura argentina (1976-1983), acusado das mortes do escritor e jornalista Rodolfo Walsh e da jovem sueca Dagmar Hagelin, está em condições de ser extraditado do Brasil, onde foi preso na sexta-feira – informou o Ministério das Relações Exteriores argentino. "O Ministério das Relações Exteriores do Brasil notificou nossa embaixada em Brasília que considera apto para extradição à Argentina Gonzalo Sánchez (69 anos), um fugitivo nas investigações judiciais dos crimes cometidos no âmbito da Escola de Mecânica da Armada (ESMA)", diz o comunicado oficial.

Sánchez, apelidado de Chispa, é um ex-policial da Marinha que foi preso a pedido da Argentina na última segunda-feira em Paraty, no Rio de Janeiro. Ele tinha atividades empresariais na cidade. Seu Pedido de Prisão Preventiva para fins de Extradição foi formulado pela representação nacional da Interpol, com base nas informações incluídas pelas autoridades argentinas na lista de Difusão Vermelha da organização.

A autorização da extradição para a Argentina foi dada em 2019, pelo Supremo Tribunal Federal e no dia 29 de janeiro, o ministro Luiz Fux, vice-presidente da Corte, determinou a expedição do mandado de prisão para fins de extradição que foi cumprido nesta segunda. Segundo a PF, o acusado já havia sido preso preventivamente para fins de extradição, em 2013, em Angra dos Reis, mas em 2016 foi posto em domiciliar por uma decisão judicial. Desde a decisão dada pelo Supremo no ano passado o ex-oficial estava foragido, indicou a corporação.

Segundo a Justiça argentina, o detido integrou os comandos repressivos da ESMA (hoje Museu da Memória), onde desapareceram cerca de cinco mil presos políticos do regime, incluindo Walsh e Hagelin, sequestrados em 1977. Os corpos deles nunca foram encontrados. Os comandantes da ESMA ordenavam os chamados "voos da morte", nos quais os detidos-desaparecidos eram drogados e jogados vivos no mar, ou no Rio da Prata.

Mais de mil chefes, oficiais e policiais do regime foram condenados por crimes contra a humanidade desde 2003. As organizações de direitos humanos estimam em 30.000 o número de desaparecidos na ditadura. Dezenas de milhares de pessoas marcharam para o exílio, ou foram perseguidas por sua oposição ao regime.


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