Ato público prega defesa da democracia em Porto Alegre

Ato público prega defesa da democracia em Porto Alegre

Promovido pela Ajuris, encontro contou com representantes do Três Poderes gaúchos, de entidades ligadas ao Direito e da sociedade civil

Felipe Nabinger

Ato foi realizado pela Ajuris, em parceria com o TJRS, no átrio do Palácio da Justiça, em Porto Alegre

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Um ato público em defesa da democracia reuniu na tarde desta segunda-feira representantes do Três Poderes gaúchos, além de universidades, associações da área do Direito e sindicatos de diferentes setores da sociedade civil. Promovido pela Associação dos Juízes do Estado do Rio Grande do Sul (Ajuris), em parceria com o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS), o ato foi realizado no átrio do Palácio da Justiça, na Praça da Matriz, em Porto Alegre. 

Chamando 8 de janeiro de “o dia em que o coração da democracia foi violentamente atingido em Brasília”, o presidente da Ajuris, desembargador Cláudio Martinewski, definiu o encontro como a necessidade de demonstrar “em alto e bom som” o repúdio a “qualquer ato que transgrida direitos, que profane a democracia”, servindo de exemplo às gerações futuras para que não voltem a acontecer.

Martinewski citou discurso célebre de Ulysses Guimarães referindo-se à Constituição, que diz que dela pode-se discordar e divergir, mas descumprir, jamais e afrontá-la nunca. “Traidor da Constituição é traidor da Pátria”, encerra a citação lembrada pelo desembargador no ato. 

A presidente do TJRS, desembargadora Íris Helena Medeiros Nogueira, disse que “a defesa da democracia brasileira é a bandeira de todos nós” e que “as respostas estão sendo dadas de forma célere, precisa e rigorosa” aos extremistas. “A justiça não está encastelada, mas muito próxima da sociedade”, garantiu a magistrada em seus discurso.

União entre os Poderes

Com o governador Eduardo Leite (PSDB) em viagem a Davos, na Suíça, e o governador em exercício Gabriel Souza (MDB), com agendas em São Paulo, o procurador-geral do Estado, Eduardo Cunha da Costa representou o Executivo.

“Esse ato representa a união dos Poderes de estado e das instituições. A partir desta união vamos efetivamente nos colocar em posição de defesa da democracia e impedir qualquer ato que venha abalar as escolhas democráticas e as liberdades que estão na Constituição de 1988”, afirmou. Cunha disse acreditar que o ato pode servir de exemplo para outros estado brasileiros.

Pelo Legislativo, o presidente da Assembleia, deputado estadual Valdeci Oliveira (PT) ressaltou a necessidade de diálogo e repudiou atos extremistas. “Imagine os senhores, se naquela Casa (Palácio Farroupilha), que tem 55 deputados e deputadas, cada um que não concorda com a visão do outro partisse para violência. Não podemos aceitar qualquer movimento que vá para destruir tenha espaço no nosso país”, disse.

Para ele, o movimento realizado na Capital gaúcha “é simbólico” e enfatiza que não se pode “fazer política com ódio”. “Todo esforço que fizermos aqui ainda é pouco. Os acontecimentos do dia 8 em nenhum momento devem ser esquecido, devem servir de exemplo permanente”, afirmou Valdeci, cobrando que as instituições sigam atentas e mantenham a unidade apesar de divergências políticas.

Além de outras instância do Judiciário, como Tribunal Regional Eleitoral, participaram do ato representantes sindicais e também da Associação Riograndense de Imprensa (ARI).

Divergência sobre STF

Em pelo menos um momento houve uma ruptura no tom conciliador do ato. Durante a fala do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil do Estado (OAB-RS), Leonardo Lamachia, houve vaias de presentes quando ele falou sobre a atuação do Supremo Tribunal Federal.

“Há excessos praticados pelo STF em decisões”, afirmou, entendendo que atos do ministro Alexandre de Moraes “violam a Constituição e do estado democrático de direito, além de usurparem competência do Ministério Público e da própria magistratura”. 

Lamachia defende que os atos em Brasília devem ser “fortemente repudiados”, recaindo aos que participaram da prática de crimes, a “devida penalização”, no entanto.

Entre os pontos levantados, o presidente da OAB-RS vê como “grave e preocupante a restrição à liberdade de imprensa, desde que tal liberdade respeite o limite da não realização de crimes”, em redes sociais ou veículos de comunicação e que questionamentos às eleições deve ser feitas “da forma legal”.

Para Lamachia, cabe ao Congresso exercer fiscalização colocando “freio a violações da democracia” vindo “de onde vierem”, dando ênfase a essa última frase em tom grave.

A visão dele sobre a atuação do STF não é unânime. O procurador-geral do Ministério Público de Contas do Rio Grande do Sul (MPC-RS), Geraldo Da Camino, por exemplo, defendeu as ações do ministro Moraes.

“Estamos aqui graças, principalmente, ao Judiciário, ao STF. Críticas podem ser feitas e eu já fiz, mas admito que se não fosse a ação do ministro Alexandre de Moraes, não estaríamos aqui, esse ato não existiria”, afirmou após dizer que “alguns jovens” no ato não vivenciaram a ditadura militar.


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