Aziz diz que CPI vai recorrer de decisão que permitiu silêncio de Wizard

Aziz diz que CPI vai recorrer de decisão que permitiu silêncio de Wizard

Empresário, acusado de financiar um gabinete paralelo de Jair Bolsonaro, depõe no Senado nesta quarta-feira

R7 e AE

Empresário depõe na CPI da Covid nesta quarta-feira

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O presidente da CPI da Covid Omar Aziz (PSD-AM) afirmou, nesta quarta-feira, que a comissão vai recorrer da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de manter o empresário Carlos Wizard em silêncio após as perguntas dos senadores. O anúncio ocorreu durante depoimento de Wizard, acusado de financiar um gabinete paralelo de Jair Bolsonaro, na Comissão.

Segundo o senador, o empresário não pode ficar sem punição, mencionando os vídeos que foram exibidos pelos integrantes da comissão, nos quais Wizard faz a defesa aberta de remédios sem comprovação científica contra a Covid-19.

O vídeo exibido por Randolfe é o mesmo em que Wizard faz uma "homenagem" ao prefeito da cidade de Porto Feliz, no interior de São Paulo, que teria assumido compromisso com a população da cidade, de que ninguém iria morrer vítima da Covid-19 em razão do uso do tratamento precoce.

"(O prefeito) preparou um kit, com primeiros sintomas da doença, (paciente) recebe o tratamento, e sabe o que acontece? Ninguém morreu de Covid-19 na cidade de Porto Feliz. O Ministério da Saúde indica que teve cinco óbitos de covid. De fato teve cinco óbitos. Mas sabe quem são os cinco óbitos? aqueles que ficaram em casa, que não foram em busca do tratamento precoce", afirmou o empresário na ocasião. "Iremos recorrer fazendo um apelo ao ministro, para que possamos dar com essa fala do senhor de exemplo, não pode ficar impune, isso não pode ficar impune, em nome de 516 mil vidas, não pode rir disso", reagiu o presidente da CPI.

Durante o debate, Aziz protagonizou mais uma troca de farpas com o senador governista Marcos Rogério (DEM-RO), que chamou a comissão de "CPI do Circo". " Vossa excelência é o maior palhaço que tem aqui", rebateu Aziz. "E vossa excelência é o chefe do circo", respondeu Marcos Rogério.

A cada pergunta de integrantes da comissão, Wizard repete a frase: "Me reservo ao direito de permanecer em silêncio", amparado pela decisão do ministro Luis Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF). A situação fez com que o presidente da CPI sugerisse até mesmo o uso de um gravador pelo depoente. "E melhor ele colocar um gravador e nem precisa abrir a boca, 'me reservo aqui ao direito de ficar...'", ironizou Aziz.

Em sua fala inicial na CPI da Covid, o empresário negou que tenha participado ou tenha conhecimento do chamado "gabinete paralelo" de assessoramento ao presidente Jair Bolsonaro em assuntos da pandemia. Ele afirmou que nunca fez "qualquer movimento" para a compra de medicamentos para enfrentamento à Covid-19 ou financiamento de comunicação sobre o tema.

Confusão com Toron

Figura conhecida pela defesa de célebres investigados pela Operação Lava Jato perante o STF o advogado criminalista Alberto Zacharias Toron quase foi retirado da sala da CPI da Covid pela Polícia Legislativa. Enquanto o empresário Carlos Wizard usa a decisão do STF para ficar em silêncio, seu advogado protagonizou com o senador Otto Alencar (PSD-BA) um bate-boca que esquentou o clima na sessão.

A calmaria desandou quando Toron classificou como "covardia" uma atitude de Alencar, que presidia a sessão naquele momento, ao fazer uma referência ao advogado e não deixá-lo rebater. "Está muito corado (Toron, que permanece ao lado de Wizard durante a oitiva), parece que tomou banho de mar, está vermelho, e o senhor, seu Carlos, amarelou aqui", disse o senador em alusão ao fato de Wizard não responder às perguntas dos integrantes da CPI.

"Vossa excelência está absolutamente enganado, não tomei banho de sol, nem de mar, e vossa excelência está errado...", respondeu Toron, que foi interrompido por Otto. "Não dei a palavra ao senhor, só fiz uma comparação", rebateu o senador. "Vossa excelência se referiu a mim e não quer que eu responda, isso é de uma covardia, senador", afirmou o advogado.

O uso da palavra "covardia" por Toron irritou Otto Alencar, que pediu então que a Polícia Legislativa retirasse o advogado da comissão. "O senhor não pode me chamar de covarde. Vou mandar retirá-lo, chama a Polícia Legislativa, manda tirar daqui", exclamou.

Experiente na tribuna da Suprema Corte, Toron tentou apaziguar a situação e depois classificou o episódio como um "mal-entendido". "Vossa excelência se referiu a mim de forma jocosa, de forma a me colocar em ridículo. Quando quis responder, não me permitiu, eu disse que essa atitude é de uma covardia. Eu tenho respeito por vossa excelência (Otto Alencar)", afirmou o advogado, que até então era uma figura desconhecida do senador.

Toron fez questão de dizer que conhece "muitos senadores" e advoga para vários conhecidos de Alencar. "Tenho maior respeito por todos, eu advogado para muita gente que vossa excelência seguramente conhece, de vários partidos. O meu objetivo aqui é calado acompanhar, mas vossa excelência se referiu a mim", disse o advogado, que defendeu o ex-senador e hoje deputado Aécio Neves (PSDB-MG) das acusações de corrupção passiva e obstrução à Justiça no caso JBS.

Outro caso emblemático da Lava Jato em que Toron atuou como advogado de defesa foi do ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobras Aldemir Bendine. Em 2019, a Segunda Turma do STF derrubou uma decisão do ex-juiz federal Sergio Moro que, em março de 2018, condenou Bendine a 11 anos de reclusão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Foi a primeira vez que o Supremo anulou uma condenação de Moro. A tese de defesa, que tinha Toron como um dos advogados, foi de que havia ilegalidade no processo de Bendine, porque ele foi obrigado por Moro a entregar seus memoriais (uma peça de defesa) ao mesmo tempo que delatores da Odebrecht apresentaram acusações contra sua pessoa.


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